novembro 24, 2012

O Fim das Armas de Tiro Único


Leia aqui o capítulo anterior

A bala Minié era ogival, ou seja, tinha aquela forma algo cônica que se usa até hoje, o que lhe dava já uma certa vantagem aerodinâmica. Quando as munições eram fabricadas no próprio campo de batalha, com moldes esféricos de metal onde se jogava o chumbo derretido, não era prático usar esse tipo de munição, mas a revolução industrial e a produção em massa acabaram com isso. A Minié tinha também uma concavidade na base. Assim, quando a pólvora deflagrava, os gases em expansão eram coletados por essa depressão e pressionavam o chumbo no centro, fazendo a bala dar uma “engordada”, como os personagens de desenho animado quando pegam um elevador que sobe muito rápido.

Com esses pneuzinhos na cintura (munições de verdade têm curvas!), a Minié se agarrava às paredes do cano e às estrias e ganhavam o tão desejado movimento rotatório. Podendo haver uma folga na hora de carregar a bala pela boca, a recarga era também mais rápida. Esse revolucionário desenho conquistou os generais do mundo inteiro e libertou o atirador de elite escondido que muitos infantes carregavam na alma. Tão bem sucedido foi esse conceito que até hoje as balas têm essa concavidade.

A concavidade da bala Minié - um detalhe que Steve Jobs assinaria

Mas outras impraticidades contribuíam para fazer da baioneta ainda a arma principal da infantaria. A complicada carga pela boca era estressante e lenta. A rotina envolvia os seguintes passos:



1. Derramar a pólvora no cano;

2. Puxar a vareta embaixo do cano e socar a pólvora;

3. Botar a bala no cano e, com a outra ponta da vareta, forçá-la mosquete abaixo;

4. Encaixar a vareta no lugar;

5. Engatilhar o cão;

6. Botar uma cápsula na fornalha;

7. Mirar;

8. Disparar;

9. Pegar a vareta e usá-la para limpar os resíduos de pólvora negra do cano - passo muito importante, pois o cano poderia ficar obstruído por fuligem depois de alguns tiros e explodir, sem o procedimento.

Toda a operação era complicada, trabalhosa e nervosa, já que outro vivente estava tentando fazer o atirador se chamar saudade durante todos esses passos. No afã de facilitar a coisa, os exércitos começaram no século XVIII a usar cartuchos de papel. A quantidade de pólvora a ser derramada pelo cano era embrulhada numa ponta; no meio, vinha a bala e, na outra ponta, menos pólvora, para ser derramada na fornalha, o que se tornou obsoleto quando se passou a usar cápsulas em vez de um mecanismo de pederneira para originar a faísca que dispara a carga no cano. Antes desse cartucho, o soldado tinha que pegar seu polvorinho, aquele chifre que servia para guardar a pólvora negra que certamente o leitor do blogue já viu em filmes ou desenhos animados.

Para rasgar o papel do cartucho enquanto segurava a arma, o mosqueteiro tinha que usar os dentes; falta de dentição adequada para este procedimento era motivo de dispensa do serviço militar. O papel envolvendo a bala era usado na carga e servia para pressioná-la contra o cano (mesmo sem estrias, quanto mais justa a munição, menos ela “ricocheteava” em seu caminho pelo mosquete e mais reta saía). continua...

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