janeiro 06, 2013

A Invenção da Retranca - Parte II



Jarnac e Châtaigneraye num espetáculo sobre o duelo

Em 1547, Guy Chabot, o Barão de Jarnac, por obra das intrigas das amantes do rei e do delfim de França, precisava enfrentar, em um duelo de julgamento por combate, seu velho amigo François de Vivonne, Senhor de Châtaigneraye, o maior espadachim e duelista francês da época, homem mais forte, rápido, ágil e talentoso do que ele. O que fazer?

Chabot contratou como técnico particular de esgrima, seu personal trainer, o capitão Caizo, um renomado mestre italiano. Com astúcia e inteligência, os dois traçaram passo a passo a estratégia que o Barão de Jarnac deveria seguir se quisesse sair vivo de seu confronto com Châtaigneraye, já que a personalidade excessiva e vaidosa deste último costumava levar às últimas consequências os duelos em que se metia.

Como parte ofendida, cabia a Chabot, segundo as regras, escolher as armas. As escolhidas foram escudo e espada. E por espada entenda-se espada mesmo e não o veloz florete. A espada era mais pesada e se prestava tão bem para cortar o adversário quanto para estocá-lo.  Não podendo ser manejada com tanta agilidade quanto o florete, já era uma vantagem para Chabot.

Somando-se à espada o escudo e mais armadura peitoral, a velocidade superior de Vivonne ficaria já bem prejudicada. Mas não teria sido só por isso que Caizo teria aconselhado seu pupilo a escolher esse equipamento. Bem protegido, o Barão de Jarnac poderia aguentar as investidas de seu adversário, ainda mais se fosse disciplinado e calmo o suficiente para se limitar à defesa, concentrando-se somente em impedir os ataques de Vivonne, usando até mesmo a espada principalmente para isso.

Vai começar o julgamento por combate

Como a personalidade e o estilo de luta de Vivonne eram bem conhecidos de Chabot, ele e Caizo sabiam que, como sói acontecer com os viventes talentosos e técnicos, o Senhor de Châtaigneraye gostava de partir para cima e tentar resolver logo o assunto. O italiano, conhecedor das técnicas de combate de espada e escudo, apostou que ele tentaria mais cedo ou mais tarde um ataque por cima que, quando bem encaixado, decidia a luta. Portanto, ele preparou seu pupilo para defletir esse movimento e surpreender o adversário com uma manobra inesperada.

Durante um mês Caizo e Chabot treinaram exaustivamente a tática desenvolvida pelo mestre italiano. Enquanto isso, fiel a sua reputação, Vivonne jactava-se de que venceria facilmente o duelo, ofereceu um banquete antes da luta em comemoração à vitória e preparou os festejos para a celebração depois do combate. Finalmente chegou o dia do confronto. De um lado, com o velado apoio do rei e franco favorito, o Senhor de Châtaigneraye, o maior espadachim da França, forte, rápido, ágil e habilidoso. De outro, o Barão de Jarnac, vítima de rumores e boatos por causa da amante real, não tão talentoso ou experiente, mas bem preparado, disciplinado e com uma estratégia preparada até o último detalhe. Estava armado o cenário para um dos duelos mais famosos da história. (continua)

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