abril 08, 2008

Alteridade e Neo-Liberalismo - Pós-Escrito

Continuando a postagem anterior, dois pós-escritos sobre o assunto:

1. Pra fazer Morte e Vida Severina, Gabriel Villela, que era o administrador do Teatro Glória, onde a montagem estreou, recebeu uma grana de patrocínio, pegou o enorme elenco e foi passar uma temporada no Nordeste, para que todos pudessem ver e sentir de perto a atmosfera do poema. (Lá eles descobriram que o Nordeste brasileiro é puro Campbell).

2. Meu pai é uma dessas histórias de sujeito que subiu na vida trabalhando. Um dos cinco filhos de um casal de portugueses que veio pra cá nos anos 30, eram tão pobres que moravam na rua Sambaíba, no Alto Leblon - e eu não estou ironizando. Lááááááá em cima, um local ermo e desolado (1). Embora as duas irmãs de meu pai ainda vivam (uma é dona de um pequeno salão de cabeleireiro no Sol Ipanema), ele e seus dois irmãos já faleceram. Meu pai, mesmo completando apenas o Ensino Fundamental conseguiu fazer um patrimônio e botar os filhos no maravilhoso mundo da casa própria, carro zero quilômetro e faculdade; seus irmãos não foram tão bem-sucedidos.

Meu pai era um sujeito que, embora fosse bem-humorado, era fechado e não tinha nada dessa história de demonstrar sentimentos. Uma das poucas vezes que se permitiu fazê-lo contou uma história de quando tinha sete anos e estava na escola e a professora deu para a turma ilustrações mimeografados (um aparelho para fazer cópias a álcool, para o povo com menos de 35 anos) dos personagens Disney para colorir. A figura paterna sempre teve talento e gosto para o desenho e, quando recebeu o Mickey, começou a chorar, porque o camundongo era todo preto, não tinha nada para colorir, e ele estava certo que a professora lhe dera justo o ratinho porque ele era pobre. É desse tipo de vivência que eu não tenho conhecimento. É isso o que eu quero dizer quando digo que pobres não são como nós, só que com menos dinheiro (e estudo).

(1) E, fazendo jus à origem lusa, o meu avô vendeu a casa - com quintal!!!! - que tinha lá em cima por uma relativa merreca, no final dos anos 60, pouco antes da explosão imobiliária do Alto Leblon.

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