abril 01, 2008

Nunca Confie em Jornalistas que Não Eram Nerds

Mais uma vez saiu hoje no Globo que o traficante Marcos Antônio Pereira Firmino, por usar uma machadinha, seria conhecido como My Thor. Além do jornalista não pensar em quanto seria temerário chamar um chefe do tráfico de "meu" alguma coisa, ("ai, meu thor"), ele também mostrou seu desconhecimento de cultura pop televisiva. A referência não é ao deus nórdico, nem ao personagem da Marvel Comics (onde o arco-íris é ponte/ onde vivem os imortais/ o trovão é o seu guarda-mor/ barra-limpa é o nobre Thor - estão vendo? Um traficante com apelido de sujeito barra-limpa??). O apelido na verdade vem do super-herói (traficante com apelido de super-herói??) Mighthor. O Poderoso Mighthor.

Nos anos 50, quando a grande preocupação de todos os viventes racionais era a Guerra Fria e o holocausto nuclear, a ficção científica varreu os super-heróis para debaixo do tapete. Só os grandes clássicos, como Super-Homem e Batman, permaneceram, ainda assim condenados a combater não mais chefões do crime, mas robôs, alienígenas e cientistas loucos com alguma ameaça atômica. Arqueiro Verde, Flash e outros foram substituídos pelo Capitão Cometa, Patrulheiro Estelar e afins.

No entanto, nos anos 60, os super-heróis, graças ao esforço modernizador de Gardner Fox e, principalmente, de Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko, ressuscitaram com força total e se tornaram mania. Junto com os quadrinhos de vanguarda europeus, pela primeira vez esse tipo de literatura começou a ser consumida por gente de mais de 13 anos - o Incrível Hulk e o Homem-Aranha viraram ícones de universitários contraculturalistas!

Em 1966, a Marvel Comics, a editora de Stan Lee, Jack Kirby, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Vingadores etc. etc., lançou uma série animada, produzida por um estúdio canadense, que virou lenda. Entre a garotada que cresceu assistindo a eles no Brasil, eles ganharam o apelido de "desenhos desanimados" porque o movimento dependia de travelings da câmera diretamente sobre os originais dos quadrinhos, com eventuais movimentações de um braço, uma perna, lábios e olhos. Entretanto, os programinhas usavam os enredos e diálogos do genial Lee, e as artes de Jack Kirby e Don Heck, diretamente dos gibis! As publicações que estavam revolucionando o mercado editorial de super-heróis, com ousadias de enquadramento, claro-escuro, fino e grosso e técnica narrativa, foram transpostas (com uma péssima produção) diretament para a tevê. Não sei nos EUA, mas aqui no Brasil esses programas rodaram na tevê desde o Capitão Aza até a Xuxa já no final dos anos 80 e foram eles que popularizaram esses personagens por aqui, já que a idéia de revistinhas com "continua no próximo número" (e ainda mais picadas pela EBAL, que as publicava, para poder lançar títulos como CAPITÃO AMÉRICA E HOMEM DE FERRO) era alienadora do público de então.

Pois querendo tirar uma casquinha nessa onda, os produtores William Hanna e Joseph Barbera, os famosíssimos Hanna-Barbera, resolveram lançar uma linha de super-heróis. No topo estava o seriado com episódios de meia hora de duração, artes também realistas e carregadas e animação típica de tevê, porém mais cuidada - JONNY QUEST. Abaixo, vinham um monte de mascarados e aventureiros com design do grande Alex Toth e conceitos simples, com historinhas de pouco mais de cinco minutos e que não apresentavam grandes desafios para os protagonistas. A estrutura dramática ia pouco além de herói encontra algo misterioso, vai investigar, ajudante do herói é preso e herói chega e dá porrada e todo mundo. Era o universo de SPACE GHOST, SANSÃO E GOLIAS, MOBY DICK, SHAZAM, HERCULÓIDES, IMPOSSÍVEIS, FRANKENSTEIN JR. e, é claro, O PODEROSO MIGHTHOR (sim, era isso mesmo em inglês - The Mighty Mighthor).

A maioria desses seriados fez mais sucesso no Brasil do que lá na matriz. Até porque rodaram tudo que era canal até o final dos anos 80, quando enfim foram suplantados por produções com maior orçamento (por serem marketing de brinquedos) e melhor técnica (por começarem a contar com computadores para a animação), que tornaram obsoleto seu visual. A ascensão de HE-MAN, THUNDERCATS, COMANDOS EM AÇÃO, GALAXY RANGERS e, depois, do animê, varreu finalmente esses super-heróis da programação, embora sua longa permanência nas telas tenha criado uma maior popularidade nestes trópicos e até alguns fenômenos como OS IMPOSSÍVEIS, quase esquecido lá no norte e indelevelmente impresso na memória de todo mundo com mais de 30.

Já O PODEROSO MIGHTHOR não era tão querido pelos fãs. Lembro-me que quando eu tinha menos de 8 anos eu realmente gostava do personagem, com sua mitologia pré-adolescente de sujeito comum que vira um semideus com algumas palavras mágicas, mas ele logo perdeu lugar em minhas preferências. A historinha era de um vivente em sua tardia adolescência ou início de juventude, que vivia na pré-história, mas usava cabelo curto e fazia a barba, que quando erguia uma clava encantada (opa! Freud explica) virava um sujeito mais forte, com uma máscara com chifres, montado num dragão alado (que era seu dinossauro não-voador de estimação), lá pelos 30 anos - enfim, passava de rapazola a homem quando levantava o pau. E aí dava porrada em todo mundo, já que era virtualmente invulnerável e lançava raios de seu símbolo fálico encantado que destruíam praticamente tudo.

Certo, provavelmente o traficante ou gostava do desenho quando era criança, ou gostava de bater nos inimigos com um poderoso porrete ou coisa parecida, mas ele era o Poderoso Mighthor e não "vem cá, meu Thor". Tudo isso por desconhecimento de "desenho animado básico". E, por falar em super-heróis imberbes da pré-história, aquele neandertal que protegia o Dino-Boy, qual era a do relacionalmento deles? Ele pegava aquele garotinho macio, não pegava não? Até o Cartoon Network já fez um spot em que o neandertal andava pelo estúdio e o Dino-Boy se escondia dele. Rolava um abuso sexual, não?

1 comentário:

Anónimo disse...

Traficante tem vida profissional curta. Então não deve ser o mesmo cara. Porque de uns 15 anos pra cá, sempre (re)aparece um traficante Mighthor. O que muda é o erro que os jornais cometem. Antigamente, eles escreviam MIKE Thor. Vai ver a família Thor era grande e ele tinha um primo chamado Michael. Bem, de qualquer maneira, o erro pelo menos obedecia mais à sonoridade real do que o atual My Thor. Ou então, o traficante é baiano e, do mesmo jeito que tem o "Meu rei" tem também o "Meu Thor".