julho 14, 2010

Meu Editorial no Globo de 11 de Julho

Neste domingo, 11 de julho, saiu na página de Opinião do Globo, um texto meu defendendo o Dunga. A ideia foi do Arnaldo, que apesar de odiar o futebol-pragmático do ex-volante, achou que alguém tinha que contrabalançar todas as críticas que o jornal andara fazendo a ele - na página oposta, por exemplo, Aldir Blanc descia-lhe o malho. Abaixo o texto e mais abaixo ainda, a matéria como saiu no jornal - basta clicar na foto pra ver em tamanho que permita a leitura.




Clique nas imagens acima para ampliar e ler


A página dupla, com Aldir Blanc atacando Dunga embaixo à esquerda


A página completa com o texto. Clicando nele você poderá ler a coluna na extrema esquerda, SEM PERDÃO, ou leia abaixo:

Tudo bem, o Dunga é grosseirão, mas quanto você aguentaria se há vinte anos o tratassem como se tivesse desencadeado o Dilúvio sobre a Idade de Ouro do futebol, transformando com seus poderes malignos a beleza do jogo em uma sucessão de lances ríspidos sem significado, fazendo de uma saga mitológica uma metáfora para a banalidade da vida? Outro jogador teria dado a volta por cima ao levantar a taça em 94, mas Dunga nunca foi perdoado pelo que nunca disse. Pelo contrário, passou a ser tratado como se aquele título fosse uma ofensa pessoal ao mítico time de 82, para mostrar que Zico & cia. eram uns incompetentes.

Não vale a pena aqui falar de Dunga como jogador, nunca errando um passe, apoiando os laterais, fazendo gols e lançamentos e demonstrando quase uma onipresença na marcação. A maioria do público só presta atenção em quem faz os gols ou dá os dribles inúteis (cf. Denílson). Mas, para um treinador principiante jogado aos leões no comando da seleção, seu saldo foi muito mais para o lado positivo. Com as carreiras de Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo e os Ronaldos encerradas de fato ou na prática, o Brasil perdeu os pilares que tinha desde 1995. Às vésperas da Copa, Adriano fez uma vigorosa campanha por sua ausência. Sem nenhuma revelação de supercraque no quadriênio, algo que não acontecia há mais de duas décadas, ainda assim ele montou uma equipe respeitada, temível, e que durante quatro jogos e meio teve os adversários no Mundial exatamente onde quis ­ e talvez tivesse até a final não fosse por um frango de Júlio César.

Seu tão criticado esquema de três volantes e um armador é basicamente o mesmo de 94, 98 e 2002, que nos levou a três finais consecutivas, só que mais rápido e incisivo no contra-ataque, mesmo sem tantos craques na criação. E, por favor, não vamos falar de Neymar e Ganso, cujas únicas credenciais são um título paulista sobre um time sem tradição, enquanto os mais tradicionais estavam mais preocupados com a Libertadores. Os dois foram incapazes de levar a seleção sub-20 ao título, o que levaria a crer que menos de um ano depois, sem nenhuma preparação, poderiam ser melhor sucedidos jogando contra gente grande? Em 2002 Diego e Robinho fizeram do Santos o campeão brasileiro e hoje só um deles é titular ­ e olha que Dunga insistiu bem com o primeiro ­ e mesmo assim longe de ser unanimidade. Em 1990 Lazaroni levou Bismarck para preparar o próximo supercraque brasileiro (ha, ha, há) e em 2002 Felipão levou um jovem Kaká que jogou cinco minutos tão catastróficos que não foi cogitado para mais nada no resto do Mundial.

Por falar em Felipão, sua possível volta parece contentar a todos. Se olharmos de perto, veremos que ele é um técnico grosso, que manda bater, que durante muito tempo tratou mal a imprensa, que foi criticado por montar um time que jogava feio, que não levou um craque que a torcida queria (Romário), que escalou apenas um armador no meio-campo e que proibiu sexo aos jogadores. Afinal de contas, qual a diferença dele para o Dunga?

O título.

Futebol-arte é volta olímpica, o resto é Cirque du Soleil.

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