abril 12, 2011

O Infiel


Bosch Fawstin é um muçulmano apóstata. Não encontrei menção sobre alguma conversão ao cristianismo, mas sendo ele seguidor doente de Ayn Rand, vou supor que seja ateu. Desenhista igualmente seguidor doente de Frank Miller, convencido de que os EUA estão em guerra com o Islã - o islã todo é doente, não apenas os terroristas - e que o grande erro de Bush foi não bombardear o Irã e a Arábia Saudita, ele resolveu dar vazão às suas ideias como o artista que é: desenhando.

"Infidel" é o nome da série que ele desenvolveu. Um desenhista apóstata muçulmano (será o alter ego de quem?), em resposta ao atentando das Torres Gêmeas, cria um super-herói vestido com pele de porco - o Pigman - que está pra islâmicos como o Batman pra bandidos de rua.

Independente de sua opinião política - e a do blogueiro é bem oposta à do sujeito, incluindo Ayn Rand - o que a HQ nos demonstra é algo muito mais insidioso: as fantasias adolescentes masturbatórias por trás do gênero de super-herói.

Quando essas historinhas eram feitas pra crianças de até 10 anos, não havia problemas em mostrar o Batman ou o Capitão América indo até a Alemanha, dando uns socos no Hitler e voltando. Mas mesmo gibis da época um pouco mais desenvolvidos, como Capitão César, Terry e os Piratas, ou mesmo Fantasma, ainda que prenhes de propaganda de guerra, criavam histórias um tanto mais críveis e sofisticadas.

O blogueiro acompanhou a revolução Marvel que subiu o nível das historinhas e a idade dos leitores. A técnica narrativa e o conteúdo acompanharam o salto qualitativo. É por isso que, mais do que pela posição política, THE INFIDEL é tão incômoda.

Mesmo Bosch, apesar da intolerância e virulência de seu ponto de vista, foi incapaz de desnudar suas fantasias tão claramente e fez de seu super-herói uma "história dentro da história" - ei, Ayn Rand, isso é objetivismo? É claro que o autor nunca encontra um oponente intelectual digno e o mundo só existe em torno de bem contra mal, sem nuances e sem a óbvia constatação que todo mundo sempre tem uma explicação pra seus feitos, dentro de sua cabeça.

Mas a história dentro da história mais parece uma caricatura de Frank Miller (que, aliás, nos últimos trinta anos, também tem parecido uma caricatura de si mesmo). Subindo na berlinda um assunto tão indisfarçado e direto, fica óbvia e patentemente ridícula a fantasia de vingança, de revanche, de retribuição, que é o super-herói. Com os americanos perpetuamente enrolados em sua guerra ao terror, um Pigman vingador desbaratando células terroristas com facilidade soa quase tão patético quanto o romance que Saddam Hussein escreveu em seu refúgio sobre um líder iraquiano erguendo fieis do mundo inteiro pra se levantar e vencer o exército americano.

O incômodo é realçado pela qualidade e contemporaneidade da narrativa, mas é vendo uma história assim que o blogueiro entende porque o povo de esquerda tinha tanto ódio de Super-Homem e Batman, ódio que ele não conseguia entender enquanto projetava neles suas fantasias de nerd recalcado que cresceu pra virar povo mais de esquerda (com a agravante de que não faz nada pelo seu semelhante). The Infidel é uma história dentro da história, uma metalinguagem, mas o autor, mesmo sem querer, acabou com isso fazendo uma desconstrução do super-herói, fazendo nós, que amamos tanto Stan Lee e Jack Kirby, pensar por um momento que talvez Frederic Wertham tivesse um pouco de razão e esses painéis coloridos sejam mais doentios do que parecem à primeira vista.

2 comentários:

Anónimo disse...

Enquanto tá só nos quadrinhos, menos mal. No Muslim World, há a Lei Antiblasfêmia: basta dizer que Cristo é o Senhor e maomé já morreu pra ser condenado à morte. Dê uma googada em "Asia Bibi".

Marcos disse...

O anônimo acima sou eu, Marcos.