abril 30, 2012

Minha Página Logo Publicada em O GLOBO

Aí em cima, a página Logo que eu fiz e saiu no Segundo Caderno d'O Globo neste domingo. Clique na imagem pra ampliar. Como hoje em dia tem uns navegadores que diminuem o tamanho das fotos, se você não conseguir ler o texto, ele está aqui embaixo:


Século XXI. É preciso falar, a todo custo, a língua do mercado. Grupos de estudo e mindsharings posicionam os porta-vozes para disseminar a cultura do gerenciamento, que se capilariza no sentido de monetizar todos os gargalos. É preciso consensar antes de estar tar, e quem não mudar logo o drive
arrisca entrar numa bad vibe organizacional.   Resistir é inútil, e esses monstrengos vocabulares, cheios de delírios de empoderamento, acabam violando a paz do cotidiano e chegando à boca da tulipa do chope, contaminando o colarinho.   Para os pobres amantes do bom colóquio, não há saída. A não ser que, inspirado no São Jorge, algum herói vindo do nada, vestido com as roupas e armas de Camões, Bocage e outros luminares da última flor do Lácio, tomasse as dores dos lusófonos e investisse indomável e célere num verdadeiro hostile takeover.   Pensando nessa invasão por vezes intolerável, o escritor, jornalista, poeta, nerd, roteirista, dramaturgo, cinéfilo e funcionário público LUIZ HENRIQUES NETO , codinome Urubu, providenciou um brainstorm de emergência e anotou em seu flipchar uma solução lírica: um pequeno poema épico narrando a odisseia desse herói retórico que tenta, como um Quixote luso, lutar contra os moinhos que trazem ao dia a dia os ventos tediosos da novilíngua corporativa. (Arnaldo Bloch)

DESTRADUZINDO O CORPORATIVÊS
Um poema épico de Luiz Henriques Neto, o Urubu

Como um porta-voz das diretrizes 
Ele chegou com seu profile de alfa cultural 
Com sua voz possante e multimídia 
Fez sua declaração de missão: 
Ouvira falar de nosso case 
E nosso tirânico governor 
Então em crowdsourcing lhe contamos 
Sobre os hit-and-miss da besta 
Que à vista de nossos sofrimentos 
Ria-se como se ouvisse 
Uma doomed stand-up comedy
Nosso powerpoint fez seu mindset 
E ele jurou elevar nossa moral 
Com uma permanente mudança de cultura 
E encaminhou-se rumo ao nicho da besta 
ASAP 

Mas eis que antes do main course 
Era necessário um brunch 
Os temidos partners da besta 
Avançaram de seu loft 
Como um blockbuster: 
Eram os mortos-vivos headhunters 
Dispostos a fazer um mindsharing 
Com os cérebros de quem encontrassem 
No meio de seu roadmap 
Eles avançaram 
Como despesas sobre um budget 
Mas frente ao núcleo duro do herói 
Sua dinâmica de grupo em nada valeu 
Com sua espada ele semeou 
Seus cérebros num brainstorm 
E inertes eles tombaram 
Incapazes de pensar fora da caixa 
Frente ao fail de sua equipe 
O líder enfim apareceu 
Cavalgando em estouvado desafio: 
“Não será um start-up como tu 
A abocanhar meu market share 
O meu nicho é pequeno demais para dois players 
E minhas armas agregam um valor premium 
Contra teus pobres e parcos resources” 

“Pois comigo”, respondeu o challenger 
“Carrego as armas 
E os barões assinalados 
Que da ocidental praia lusitana 
Partiram inda além da Taprobana!” 
“Desiste!”, retrucou o governor 
“Não encontrarás posicionamento 
Neste segmento! 
Eu sou o teu worst case scenario! 
O venture capitalist, o CEO, o CIO 
O co-founder e o boss!” 
“Expressa-te através de incultas 
Produções da mocidade 
Note dos males a sua imensidade! 
Eu venho terminar tua agonia 
Morre, não penes mais, ó desgraçado!” 
E assim dizendo, como um heavy user 
Lançou-se o herói firing on all cylinders 
A besta, incapaz de enredá-lo em seu plot 
Pivotava em torno dele 
Tentando na luta se empoderar 
Já o herói continuava 
Seu verdadeiro workshop 
Rindo-se da inútil mass production 
De golpes do manager 
A besta então em cólera atacou 
Como um cool hunter mirando um trendsetter 
Mas numa réplica fashion e cool 
O herói antecipou-se 
Numa rápida curva de aprendizado 
A besta tentou um recall 
Mas o herói aproveitou o momento 
E cravou um violento input 
Com sua espada repleta de sharpness e wit 
Caído o vilão, 
Num plot point inesperado, 
Rogou a seu role model: 
“És um cavaleiro diferenciado 
— percebo-o agora —, um ultimate fighter 
Quem és tu que me faz colapsar 
Como se fora um tsunami?” 
“Tsunami, não”, redarguiu o herói. 
“Pois o que atingiu Lisboa 
No século XVIII 
Foi um MAREMOTO!” 
A besta guinchou como se atingida 
Pela mais insana das fatalities 
Seus tie-ins em puro shrinking 
Seu sangue em violento spread 
“Ainda há tempo”, o governor implorou, 
“Façamos um merging! 
Nossa joint-venture reinaria suprema 
E a sinergia ampliaria minha timeline” 
Mas o herói ignorou esses wake-up calls 
Era hora da pós-produção 
E com um uppercut da espada 
Para sempre quebrou o paradigma 
Num output de sangue e vísceras 
Naquela noite organizamos uma rave 
Com DJs, clubbers, rappers, todos celebrando 
Em um verdadeiro mega halloween 
Era o fim de um ciclo e devíamos 
Somente no futuro focar 
Pois já angel investors prometiam 
O mais belo crowdfunding que já se vira 
E, na calada daquela noite, o herói, 
Seus serviços requeridos em outsourcing, 
Sem que ninguém visse seguiu em sua roadmap 
Uma vez terminado seu job 
E nunca sequer soubemos o seu branding 
Mas durante quarters e quarters a fio 
Os publishers disseminariam 
Em verso, prosa, folders e flyers 
Todos os seus muitos — e vastos — features!

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