novembro 28, 2024

Spartacus e o Carro Popular

 



“Carro popular” em 2023 é um erro. A começar pelos motivos práticos. O mundo inteiro está repensando automóveis e substituindo por melhor transporte coletivo e bicicletas. Encher as ruas com mais motores de combustão pra carregar uma pessoa nestes tempos de aquecimento global é tão século XX quanto o Lula. Que parece que ainda não captou totalmente outras coisas do terceiro milênio além de redes sociais. E, do modo como o mundo mudou, vamos acabar mesmo é financiando motorista de Uber. 


Esses veículos individuais sempre me lembram da frase do Elon Musk pra vender sua ideia de escavar túneis subterrâneos para melhorar o tráfego em já congestionados centros urbanos, de que ele não gosta de transporte público porque você nunca sabe se o sujeito à sua frente é um psicopata assassino (e neste momento aproveito para jactar-me de que nunca gostei do Elon Musk mesmo quando ele era modinha). Como já postei anteriormente (pesquise no meu perfile Celerado Acelerado), a contraposição ao neoliberalismo, ao “a sociedade não existe” é a amizade. E você não faz amigos dentro de um carro. Você está encastelado contra todos aqueles do lado de fora, em direta competição com você por um lugar mais ao sol na meritocracia (suspiro) capetalista. Como fala o Woody Strode em SPARTACUS, “eu não quero saber seu nome porque podemos acabar na arena tendo que matar um ao outro”.







E esse motivo metafórico é o outro ponto que o Lula parece não ter ainda compreendido direito. Em seus primeiros governos, a “inclusão pelo consumo” acabou reforçando essa ideia de que você é o que você consome. Financiar faculdades quando hoje em dia elas viraram basicamente cursos técnicos profissionalizantes avançados formou um bando de técnicos sem teoria, que não compreendem direito os algoritmos de seu trabalho e passam o tempo alternando entre apenas repetir fórmulas velhas ou procurar atalhos com consequências terríveis a médio prazo, com seu pensamento simplista e sem cultura geral que só conhece a Navalha de Occam. Que, aliás, é um macete e não um axioma. Esses cérebros assim moldados só conseguem pensar em seguir os mesmos batidos caminhos - ou então experimentar aquele que todo o mundo sabe que vai acabar deixando você entre o tigre e o precipício, com o galho que o segura partindo. E ainda vai olhar pro morango e berrar indignado, “tomar no cu, morango! Vai pra puta que o pariu” (1). Metaforicamente falando, o pensar fora da caixa seria abrir sua própria trilha, mas isso dá muito trabalho. O vício de raciocinar sempre simplisticamente acaba viciando nossos empreendedoristas em soluções fáceis. 


Tradicionalistas que só conseguem pensar em alternativas tresloucadas e radicais? Onde será que eu já vi isso antes? É por isso que ensinar às pessoas a ter seu castelo móvel, longe dos outros, todos adversários deles, leva esse povo a abraçar as ideologias que tanto vêm atrasando o mundo nos últimos anos. É por isso que essa turma, quando chega ao poder, tem logo ganas de de acabar com filosofia, história, sociologia, essas coisas inúteis nas escolas. Tem que ensinar empreendedorismo (sim! É uma matéria!). Pensar mais profundamente acaba levando as pessoas a compreender que a própria natureza, que eles tanto gostam de citar por sua “luta pela sobrevivência” que “melhora a espécie”, na verdade ensina que cooperação leva muito mais longe do que competição. Que no final acaba sempre deixando só um de pé. E sem saber o que fazer depois que acabou sua razão de viver. Pois nunca aprendeu de outro modo.


  1. Pra quem não pegou a referência zen, https://anovamente.wordpress.com/2016/12/16/conto-zen-uma-parabola/


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