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abril 30, 2011
Thor no Cinemark Botafogo
Um sujeito passou o filme todo digitando no celular; outro, gordo, quatro-olhos e malcheiroso, ficou o tempo todo com o fone de seu iPhone num oivido e, na saída, isso. Uma verdadeira convenção de nerds.
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Guerra Existencialista nas Estrelas
O que acontece quando George Lucas e Jean-Paul Sartre batem de frente?
abril 18, 2011
A Intrusa (Terceira Versão)
Finalmente cheguei em casa
E encontrei uma mulher que não estava lá
Ela também não estava lá no dia seguinte
E nem no outro e nem no outro
Ó, Senhor, será que algum dia ela irá embora
E finalmente me deixará em paz?
E encontrei uma mulher que não estava lá
Ela também não estava lá no dia seguinte
E nem no outro e nem no outro
Ó, Senhor, será que algum dia ela irá embora
E finalmente me deixará em paz?
Zago no Tanque
Smartphone x Celular Cheio de Recursos:
O Lendário Nokia N95 x Um Android de elite
No meio do ano passado meu fiel e confiável Nokia N95 deu pau. O Nokia, apesar de ter sido lançado na mesma época do iPhone, foi desenhado segundo um conceito mais antigo de smartphone - sim, ele era considerado em seu tempo um smartphone. Muita gente o considera o melhor celular de todos os tempos (antes da Apple redefinir o conceito dessas máquinas), apesar de em termos de acesso à internet não se comparar a seus contemporâneos blackberries. Cheio de recursos multimídia, com uma câmera que pela primeira vez podia substituir uma máquina fotográfica básica, o aparelho marcou época e teve comigo uma feliz convivência de dois anos. Que modelo poderia substituí-lo?
Bem, eu sabia que não queria um iPhone. Tá, eu sei, a Apple revolucionou o mercado com ele, seus produtos são de excelente qualidade, mas fazer o quê, eu odeio o iTunes. Além disso quem acompanha o blogue sabe que câmera é fundamental pra mim e antes da versão 4, o smartphone da Maçã não se distinguia pela imagem. Além disso, a arquitetura aberta do Android me parecia bastante promissora, daí resolvi partir prum Sony Ericsson Xperia X10, a melhor foto Android do mercado na época. Quais as vantagens e desvantagens do moderníssimo modelo touchscreen frente ao clássico da Nokia, a maior fabricante de celulares da época?
DESENHO
Não dá nem pro começo, o Nokia N95 é feio pra danar, parece um tijolo com traços de verde e vermelho espalhados aleatoriamente. Seu verso parece levemente emborrachado, mas ainda assim seu visual já parecia antiquado e pouco tecnológico mesmo quando de seu lançamento. Sua tela de 2 polegadas e meia com resolução de 320 x 240 era das melhores em sua época, mas as 4 polegadas com 848 x 480 pixels do Sony dão uma surra. O telefone japossueco também cabe melhor no bolso, já que, apesar de ligeiramente maior, é mais fino e levemente arredondado atrás, ao contrário do paralelepípedo finlandês, volumoso em três dimensões. O Xperia, mesmo com seu avantajado display, cabe bem melhor no bolso, graças à sua curvatura e fineza.
Repare no tamanho e no esmero da câmera do Nokia
Mas desenho industrial não é só ser bonitinho, envolve a construção, solidez e praticidade da geringonça. E aí quem leva vantagem é o Nokia. O Sony, com dois meses de uso teve que ir pra garantia (e ganhei um novo da fábrica), enquanto provavelmente poderiam ser construídos abrigos nucleares usando Nokias N95 como tijolos. Eis um caso real - afinal, aconteceu comigo - sobre a lendária robustez do celular nórdico:
Tentanto fugir de uma rua alagada durante uma tempestade, fui pular um muro e, quando saltei, o caríssimo celular que tinha comprado há dois meses voou do meu bolso e caiu dentro de uma poça de lama. Enojado, porém lembrando do preço do brinquedinho, enfiei o braço às cegas na poça, pra tentar tateá-lo. Desisti quando a água chegou quase na altura do meu cotovelo e eu ainda não tinha achado o fundo. Irritado, porém com o 13o. no bolso, dinheiro (graças a Deus) sobrando na época e já acostumado com a maravilhosa câmera e outros recursos do Nokia, fui imediatamente a uma loja e comprei outro telefone igual.
Comentando o assunto com minha mãe naquela noite, ela sugeriu que no dia seguinte eu voltasse ao lugar onde perdera o N95 e procurasse por ele. Embora eu não me animasse com a ideia por achá-la inútil, como era caminho pro trabalho, acabei passando pela poça e eis que, uma vez ela seca, encontro o tijolão todo enlameado. Botei no bolso e, ao chegar em casa, limpei-o com água da torneira. Liguei o aparelho e não é que ele acendeu e tentou dar boot? Não conseguiu carregar o sistema operacional, mas bastou desmontá-lo, lavá-lo com água doce e deixar secar que ele voltou a funcionar perfeitamente. Minha irmã herdou o sobrevivente e o usou profissionalmente durante mais dois anos, pra filmar os alunos na aula de canto e subir seus vídeos para a Internet, aproveitando a ótima qualidade de gravação de som dele. O telefone ainda sofreu outro banho, quando a Patrícia resolveu que ele estava sujo, voltando a trabalhar normalmente outra vez depois de seco, e muitas, muitas cacetadas e quedas. Diga-se de passagem, aliás, que meu Nokia ano passado deu pau, mas depois aparentemente voltou a funcionar direitinho, tanto que um amigo meu o herdou e ele continua prestando seus serviços valentemente até hoje.
Com um desenho incomensuravelmente mais moderno e anatômico, o Xperia é belo e confortável, principalmente com sua interface de toque na tela, mas o Nokia é consideravelmente mais robusto. A vantagem aqui é você quem decide. Leve em conta que o projeto mais leve da Sony torna o uso de uma capa de proteção - que atenua quedas - bem mais prático do que no aparelho finlandês, que tem uma metade que desliza e exige duas peças para envolvê-lo e, mesmo assim, não muito bem.
TELEFONE
Sim, eu sei, esses celulares fazem tanta coisa que é quase ridículo querer avaliá-los pela qualidade da chamada, mas, por Júpiter, há um motivo para que eles se chamem TELEFONE e não MEDIA PLAYER ou COMPUTADOR DE BOLSO e já que seu uso primário é esse é fundamental um bom desempenho.
O Nokia N95 possui dois alto-falantes e é estéreo, o que garante que faz muito mais esporro tocando do que o Sony. Levei um bom tempo até me acostumar a perceber quando o Xperia estava tocando no meu bolso em meio ao barulho da rua e ainda assim escolhi para campainha um blues pesado e barulhento para ter certeza de que escutaria. Por ser mais pesado e quadrado, o Nokia também é mais fácil de sentir vibrando dentro da calça (EPA!).
Os dois aparelhos têm antenas semelhantes, pegando nos mesmos lugares. O Xperia saiu da loja com uma qualidade de chamada inferior, obrigando-me claramente a ter que repetir mais alto o que estava falando e causando-me mais problemas para escutar meu interlocutor, mas esse problema praticamente desapareceu depois que saiu a atualização para o Android 2.1 e a conversação atualmente é fácil e tranquila, com o aparelho raramente cortando as falas das pessoas.
Com uma campainha mais alta, melhor vibração e uma qualidade de chamada superior original de fábrica, a vantagem aqui é novamente para o Nokia.
CÂMERA
A Nokia conseguiu enfiar no precursor do N95 a primeira câmera digna do nome. O N73, com seus dois megapixels, na era em que as câmeras compactas estavam na faixa dos cinco, foi o primeiro aparelho que permitia ao usuário dispensar sua máquina fotográfica em eventos menos importantes. Ainda assim, o N95 foi um salto quântico.
Com cinco megapixels numa época em que boa parte das câmeras compactas ainda tinha essa resolução, a câmera do N95 ainda contava com lente Zeiss e um aprimoramento no software de imagem que reproduzia as cores com uma naturalidade nunca vista antes na terra dos celulares. Tudo bem que a Zeiss não tenha projetado os vidros, mas o simples endosso ao elemento ótico de um telefone foi uma revolução e uma garantia de qualidade até então inédita.
O N95 ainda contava com um flash de led perfeitamente capaz de iluminar alguém até um metro, um metro e meio de distância, mais controles inexistentes até em algumas câmeras de verdade - estabilizador de imagem, ajuste do branco, da nitidez, do contraste e por aí vai. Em vídeo filmava na mesma resolução que cinema profissional da época - 720 x 480 (na verdade, só 640 x 480), o famoso vídeo digital. É claro que o codec (o programa para compactar o arquivo e permitir que se filme mais de 10 segundos sem estourar a memória) usado não era de grande qualidade e era bastante dado a exibir macroblocos (quando a imagem parece se dividir em grandes quadrados).
Quem acompanha o blogue sabe que a câmera do celular aqui é instrumento de trabalho, por isso o Xperia foi escolhido cuidadosamente por aparentemente ser no Brazil o aparelho capaz das melhores (1). Resenhas em revistas especializadas o elogiavam (e, tempos depois que o comprei, Cora Rónai, fã do N95, intitulou-o o telefone com a melhor máquina fotográfica de todos os tempos). Com oito megapixels e três anos de vantagem sobre o Nokia, seria provavelmente uma covardia comparar os dois.
Só que não era. Talvez covardia para o Nokia. O Sony veio com um plástico protetor na lente e mais nada, ao contrário do Nokia, que tinha um protetor deslizante, então resolvi não arrancar essa proteçãozinha. Até tirar as primeiras fotos, quando pensei que talvez fosse ela que estivesse borrando as imagens.
Mesmo com os avanços tecnológicos e maior resolução, o Xperia tira claramente fotos inferiores ao Nokia - ou não, depende do seu gosto. A maioria dos consumidores não entende muito de tecnologia e compra suas máquinas de retrato baseados em grandes números de megapixels e marcas famosas assinando o projeto. Entretanto, maior resolução não necessariamente significa maior qualidade, pois se o tamanho do sensor for o mesmo, como ele é basicamente uma célula fotoelétrica, cada ponto fica menor e mais próximo do outro, causando interferência elétrica e ruído (2). E assim aparecem aqueles pontos com cores aleatórias típicos de fotos noturnas, quando o sensor precisa de mais energia pra capturar a luz, o que leva a maiores interferências.
As fotos que saem do sensor, por motivos que em breve postarei aqui, saem com as cores desequilibradas, interferência, ruído e problemas mil. O que vai corrigir tudo isso é o software de imagem, o cérebro das câmeras digitais (o coração é o sensor). É ele quem vai determinar as cores e tirar o ruído, determinando quanto vai sair, pois quanto mais sai, mais "borrado" fica o retrato. O programa da Nokia é muito mais equilibrado, com cores mais suaves e naturais e priorizando a nitidez das formas, para tanto permitindo um nível de ruído que não atrapalha a qualidade salvo em ampliações acima das recomendadas para um celular.
Já o software do Xperia avança sobre o ruído com uma voracidade rapace. Não sobra um pontinho colorido fora do lugar. O preço a pagar, o famigerado "trade-off" de projetos industriais, é que se perde a agudeza das formas e qualquer detalhe menor desaparece, dando uma aparência borrada ao retrato. Muitas câmeras fazem isso, já que o consumidor médio preza as cores mais vibrantes e saturadas (e menos naturais) assim obtidas, mas a este nível o blogueiro nunca havia visto. Repare nas duas imagens do Pão de Açúcar, tiradas com os dois celulares. O azul do céu na Sony é mais falso e a foto do Nokia, mesmo ampliada acima de 100% para compensar a maior resolução dos nipossuecos, contém bem maior detalhamento.
O Nokia
O Sony
Tamanha é a falta de detalhamento no Xperia que, se não fosse a Sony, com um nome a zelar, assinando a engenhoca, o blogueiro apostaria que o sensor era de 2 megapixels, interpolado pra 8, como fazem os celulares chineses. E o mais surpreendente é que mesmo tendo menos detalhes com que se preocupar na hora de comprimir a imagem pro formato JPG, o arquivo dos nipossuecos é 2,5 vezes maior do que os do Nokia, apesar de ter apenas 60% a mais de informação. A menor resolução disponível é de 2 megapixels, gerando ainda assim megabytes demais pra enviar pela internet paga. E os designers deveriam ter levado em esse aspecto em consideração ao projetar um aparelho tão voltado para acesso à Web. O blogueiro, quando quer mandar uma foto pro Feicebuque, precisa antes passar por um programeto que a reduz até 1024 x 768. Enquanto isso, o N95 vem de fábrica capaz de retratar até em 640 x 480 para enviar por emeio (3).
Acima o Sony, abaixo o Nokia. O Nokia foi ampliado a 160% para compensar a maior resolução do japa (8 megapixels contra 5 megapixels) e ainda assim tem mais definição e detalhe. Repare, incidentalmente, que o finlandês parece ter uma lente mais grande angular, o que pode significar um sensor maior (e, portanto, menos ruído)
Então por que os saites externos prezaram tanto o Xperia? Há uma razão - retratos (retratos mesmo, de pessoas) tirados a cerca de um metro, um metro e meio de distância ficam magníficos. As cores saturadas dão um ar saudável e a falta de detalhamento na verdade acaba escondendo pequenas imperfeições (não à toa cinema sempre fotografou suas musas com filtros difusores) no rosto e na pele. Mas ainda assim parecia pouco. Pesquisando mais um pouco, o blogueiro chegou à conclusão de que o problema talvez não seja da Sony, mas do Android.
Retratos próximos ficam ótimos no Android
Analisando outras fotos feitas com celulares com o sistema operacional da Google, verifica-se nelas todas a falta de nitidez que tanto incomoda no Xperia. Reveladoramente, a Sony não apos no X10 a etiqueta "Cybershot", de sua linha de máquinas fotográficas, atitude que costuma tomar em seus telefones com câmera de elite. Talvez o software de processamento de imagem seja parte do Android e os japas não tenham querido ou conseguido mexer no cerne dele, em vez disso preferindo caprichar no sensor. E, assim como o tocador de MP3 do Android não tem equalizador, seu programa para retratos não tem sequer ajuste manual de nitidez, pra permitir ao usuário escolher o quanto gostaria de borrar a foto.
Aliás, os controles manuais da câmera do Xperia são muito mais limitados do que os do Nokia. Em vez disso o consumidor ganha aqueles aplicativos de reconhecimento de rostos e deteção de sorriso pra bater a foto na hora certa. Se ainda não estava claro que tipo de usuário a Sony e a Google visavam com esse programa, tal atitude explica muito. Só que o vivente sem nenhum conhecimento de informática vai brigar muito pra descobrir que tem que acessar um menu pra chegar a um submenu pra ativar o flash. Que na verdade é uma lanterna, o que ajuda na hora de enquadrar a cena no escuro e quebra um galho quando falta luz. Diga-se de passagem também que a máquina nipossueca funciona melhor do que a finlandensa em condições de luz escassa.
O Xperia sai da loja capaz de gravar vídeo à mesma resolução que o Nokia. Seus filmetes também tem o ar borrado da máquina fotográfica, mas com menos pixels usados pelo sensor, é menos perceptível. O processador quatro vezes mais rápido do que o do N95 acarreta sensivelmente menos macroblocos e interferências digitais - salvo uma. Aparentemente por causa do estabilizador de imagem, linhas retas parecem se curvar durante uma panorâmica ou um travelling.
Mas se o usuário do Xperia tiver um mínimo de disposição pra atualizar o aparelho, vai se deparar com uma evolução incomparável. Com o Android 2.1 e ligeiros melhoramentos na máquina fotográfica vem junto um programeto que eleva a resolução de vídeo para 1280 x 720, ou seja, a alta definição (não full hd, mas aquela para transmissão de eventos esportivos, como a última Copa). Rodando a 24 quadros por segundo e diminuindo a quantidade de pixels em cenas com muita coisa se movendo, a engenhoca grava filmetes que fluem suavemente e sem nenhuma interferência digital ou macroblocagem que incomodem o espectador. Aqui finalmente os nipossuecos fazem valer a diferença tecnológica entre eles e o velho finlandês.
Assim, se sua absoluta prioridade é a máquina fotográfica, fique com o N95, embora, como já explicado, o Xperia faça louváveis retratos de busto e tire fotos também de boa qualidade, com cores mais vivas. O problema é que o Nokia é melhor sob um ponto de vista mais profissional. No entanto, se a preferência for vídeo, não dá nem pra começar a discutir. Tudo, do codec de compressão à beleza da imagem, passando pela compatibilidade do arquivo, é superior no Sony.
Mas já me estendo demais e o embate prossegue em breve. Aguardem.
(1) Havia um teoricamente melhor, o Samsung Pixon, com 12 megapixels de resolução e uma qualidade de imagem excelente, de acordo com os exemplos e críticas que li na internet, mas ele tinha três desvantagens que o desqualificaram: não era Android, sequer um smartphone, pertencendo a uma geração anterior; a saída de fone dele era proprietária, o que significava que eu só poderia usar os headphones da Samsung, caros, e difíceis de achar; e, principalmente, não conseguia achar o aparelho em loja nenhuma, sempre me mandavam pra outra.
(2) Mais importante do que maior resolução é maior tamanho do sensor. A Nokia, sempre diligente com suas câmeras de celular, ao lançar seu novo modelo de ponta com 12 megapixels, equipou-o com um sensor três vezes maior do que o dos outros telefones, garantindo (nova) uma qualidade de imagem inédita nessa classe de aparelhos.
(3) Há uma vantagem em usar um programeto para reduzir as fotos antes de enviá-las: você pode tirar todos os seus retratos na maior resolução possível, evitando depois se arrepender porque a imagem não ficou com resolução suficiente pra apreciar ou imprimir.
Tamanha é a falta de detalhamento no Xperia que, se não fosse a Sony, com um nome a zelar, assinando a engenhoca, o blogueiro apostaria que o sensor era de 2 megapixels, interpolado pra 8, como fazem os celulares chineses. E o mais surpreendente é que mesmo tendo menos detalhes com que se preocupar na hora de comprimir a imagem pro formato JPG, o arquivo dos nipossuecos é 2,5 vezes maior do que os do Nokia, apesar de ter apenas 60% a mais de informação. A menor resolução disponível é de 2 megapixels, gerando ainda assim megabytes demais pra enviar pela internet paga. E os designers deveriam ter levado em esse aspecto em consideração ao projetar um aparelho tão voltado para acesso à Web. O blogueiro, quando quer mandar uma foto pro Feicebuque, precisa antes passar por um programeto que a reduz até 1024 x 768. Enquanto isso, o N95 vem de fábrica capaz de retratar até em 640 x 480 para enviar por emeio (3).
Acima o Sony, abaixo o Nokia. O Nokia foi ampliado a 160% para compensar a maior resolução do japa (8 megapixels contra 5 megapixels) e ainda assim tem mais definição e detalhe. Repare, incidentalmente, que o finlandês parece ter uma lente mais grande angular, o que pode significar um sensor maior (e, portanto, menos ruído)
Então por que os saites externos prezaram tanto o Xperia? Há uma razão - retratos (retratos mesmo, de pessoas) tirados a cerca de um metro, um metro e meio de distância ficam magníficos. As cores saturadas dão um ar saudável e a falta de detalhamento na verdade acaba escondendo pequenas imperfeições (não à toa cinema sempre fotografou suas musas com filtros difusores) no rosto e na pele. Mas ainda assim parecia pouco. Pesquisando mais um pouco, o blogueiro chegou à conclusão de que o problema talvez não seja da Sony, mas do Android.
Retratos próximos ficam ótimos no Android
Analisando outras fotos feitas com celulares com o sistema operacional da Google, verifica-se nelas todas a falta de nitidez que tanto incomoda no Xperia. Reveladoramente, a Sony não apos no X10 a etiqueta "Cybershot", de sua linha de máquinas fotográficas, atitude que costuma tomar em seus telefones com câmera de elite. Talvez o software de processamento de imagem seja parte do Android e os japas não tenham querido ou conseguido mexer no cerne dele, em vez disso preferindo caprichar no sensor. E, assim como o tocador de MP3 do Android não tem equalizador, seu programa para retratos não tem sequer ajuste manual de nitidez, pra permitir ao usuário escolher o quanto gostaria de borrar a foto.
Aliás, os controles manuais da câmera do Xperia são muito mais limitados do que os do Nokia. Em vez disso o consumidor ganha aqueles aplicativos de reconhecimento de rostos e deteção de sorriso pra bater a foto na hora certa. Se ainda não estava claro que tipo de usuário a Sony e a Google visavam com esse programa, tal atitude explica muito. Só que o vivente sem nenhum conhecimento de informática vai brigar muito pra descobrir que tem que acessar um menu pra chegar a um submenu pra ativar o flash. Que na verdade é uma lanterna, o que ajuda na hora de enquadrar a cena no escuro e quebra um galho quando falta luz. Diga-se de passagem também que a máquina nipossueca funciona melhor do que a finlandensa em condições de luz escassa.
O Xperia sai da loja capaz de gravar vídeo à mesma resolução que o Nokia. Seus filmetes também tem o ar borrado da máquina fotográfica, mas com menos pixels usados pelo sensor, é menos perceptível. O processador quatro vezes mais rápido do que o do N95 acarreta sensivelmente menos macroblocos e interferências digitais - salvo uma. Aparentemente por causa do estabilizador de imagem, linhas retas parecem se curvar durante uma panorâmica ou um travelling.
Mas se o usuário do Xperia tiver um mínimo de disposição pra atualizar o aparelho, vai se deparar com uma evolução incomparável. Com o Android 2.1 e ligeiros melhoramentos na máquina fotográfica vem junto um programeto que eleva a resolução de vídeo para 1280 x 720, ou seja, a alta definição (não full hd, mas aquela para transmissão de eventos esportivos, como a última Copa). Rodando a 24 quadros por segundo e diminuindo a quantidade de pixels em cenas com muita coisa se movendo, a engenhoca grava filmetes que fluem suavemente e sem nenhuma interferência digital ou macroblocagem que incomodem o espectador. Aqui finalmente os nipossuecos fazem valer a diferença tecnológica entre eles e o velho finlandês.
Assim, se sua absoluta prioridade é a máquina fotográfica, fique com o N95, embora, como já explicado, o Xperia faça louváveis retratos de busto e tire fotos também de boa qualidade, com cores mais vivas. O problema é que o Nokia é melhor sob um ponto de vista mais profissional. No entanto, se a preferência for vídeo, não dá nem pra começar a discutir. Tudo, do codec de compressão à beleza da imagem, passando pela compatibilidade do arquivo, é superior no Sony.
Mas já me estendo demais e o embate prossegue em breve. Aguardem.
(1) Havia um teoricamente melhor, o Samsung Pixon, com 12 megapixels de resolução e uma qualidade de imagem excelente, de acordo com os exemplos e críticas que li na internet, mas ele tinha três desvantagens que o desqualificaram: não era Android, sequer um smartphone, pertencendo a uma geração anterior; a saída de fone dele era proprietária, o que significava que eu só poderia usar os headphones da Samsung, caros, e difíceis de achar; e, principalmente, não conseguia achar o aparelho em loja nenhuma, sempre me mandavam pra outra.
(2) Mais importante do que maior resolução é maior tamanho do sensor. A Nokia, sempre diligente com suas câmeras de celular, ao lançar seu novo modelo de ponta com 12 megapixels, equipou-o com um sensor três vezes maior do que o dos outros telefones, garantindo (nova) uma qualidade de imagem inédita nessa classe de aparelhos.
(3) Há uma vantagem em usar um programeto para reduzir as fotos antes de enviá-las: você pode tirar todos os seus retratos na maior resolução possível, evitando depois se arrepender porque a imagem não ficou com resolução suficiente pra apreciar ou imprimir.
abril 13, 2011
abril 12, 2011
A Intrusa (Segunda Versão)
Finalmente cheguei em casa
E encontrei uma mulher que não estava lá
Ela também não estava lá no dia seguinte
E nem no outro e nem no outro
Ó, Senhor, será que algum dia ela irá embora
E finalmente me deixará em paz?
E encontrei uma mulher que não estava lá
Ela também não estava lá no dia seguinte
E nem no outro e nem no outro
Ó, Senhor, será que algum dia ela irá embora
E finalmente me deixará em paz?
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O Infiel
Bosch Fawstin é um muçulmano apóstata. Não encontrei menção sobre alguma conversão ao cristianismo, mas sendo ele seguidor doente de Ayn Rand, vou supor que seja ateu. Desenhista igualmente seguidor doente de Frank Miller, convencido de que os EUA estão em guerra com o Islã - o islã todo é doente, não apenas os terroristas - e que o grande erro de Bush foi não bombardear o Irã e a Arábia Saudita, ele resolveu dar vazão às suas ideias como o artista que é: desenhando.
"Infidel" é o nome da série que ele desenvolveu. Um desenhista apóstata muçulmano (será o alter ego de quem?), em resposta ao atentando das Torres Gêmeas, cria um super-herói vestido com pele de porco - o Pigman - que está pra islâmicos como o Batman pra bandidos de rua.
Independente de sua opinião política - e a do blogueiro é bem oposta à do sujeito, incluindo Ayn Rand - o que a HQ nos demonstra é algo muito mais insidioso: as fantasias adolescentes masturbatórias por trás do gênero de super-herói.
Quando essas historinhas eram feitas pra crianças de até 10 anos, não havia problemas em mostrar o Batman ou o Capitão América indo até a Alemanha, dando uns socos no Hitler e voltando. Mas mesmo gibis da época um pouco mais desenvolvidos, como Capitão César, Terry e os Piratas, ou mesmo Fantasma, ainda que prenhes de propaganda de guerra, criavam histórias um tanto mais críveis e sofisticadas.
O blogueiro acompanhou a revolução Marvel que subiu o nível das historinhas e a idade dos leitores. A técnica narrativa e o conteúdo acompanharam o salto qualitativo. É por isso que, mais do que pela posição política, THE INFIDEL é tão incômoda.
Mesmo Bosch, apesar da intolerância e virulência de seu ponto de vista, foi incapaz de desnudar suas fantasias tão claramente e fez de seu super-herói uma "história dentro da história" - ei, Ayn Rand, isso é objetivismo? É claro que o autor nunca encontra um oponente intelectual digno e o mundo só existe em torno de bem contra mal, sem nuances e sem a óbvia constatação que todo mundo sempre tem uma explicação pra seus feitos, dentro de sua cabeça.
Mas a história dentro da história mais parece uma caricatura de Frank Miller (que, aliás, nos últimos trinta anos, também tem parecido uma caricatura de si mesmo). Subindo na berlinda um assunto tão indisfarçado e direto, fica óbvia e patentemente ridícula a fantasia de vingança, de revanche, de retribuição, que é o super-herói. Com os americanos perpetuamente enrolados em sua guerra ao terror, um Pigman vingador desbaratando células terroristas com facilidade soa quase tão patético quanto o romance que Saddam Hussein escreveu em seu refúgio sobre um líder iraquiano erguendo fieis do mundo inteiro pra se levantar e vencer o exército americano.
O incômodo é realçado pela qualidade e contemporaneidade da narrativa, mas é vendo uma história assim que o blogueiro entende porque o povo de esquerda tinha tanto ódio de Super-Homem e Batman, ódio que ele não conseguia entender enquanto projetava neles suas fantasias de nerd recalcado que cresceu pra virar povo mais de esquerda (com a agravante de que não faz nada pelo seu semelhante). The Infidel é uma história dentro da história, uma metalinguagem, mas o autor, mesmo sem querer, acabou com isso fazendo uma desconstrução do super-herói, fazendo nós, que amamos tanto Stan Lee e Jack Kirby, pensar por um momento que talvez Frederic Wertham tivesse um pouco de razão e esses painéis coloridos sejam mais doentios do que parecem à primeira vista.
abril 09, 2011
Desarmamento
Já que o assunto voltou à berlinda com o crime da semana passada, aproveito pra reciclar uma postagem antiga do blogue:
Houve quem dissesse durante o plebiscito do desarmamento, ano passado, que o cidadão precisa ter o direito de portar armas para se defender do Estado. Esta afirmação era válida na época em que os americanos escreveram sua Declaração de Independência. Eles estavam a caminho de se tornar a primeira democracia burguesa do mundo. Só faltava mulheres poderem votar e negros poderem ser gente, coisa que começou a acontecer uns cento e cinquenta anos depois. Mas pelo menos estavam apontando na direção correta. O resto do mundo ainda vivia sob monarquias e afins. Se o rei fosse um douto sábio com um certo desprezo por bens materiais e perseguindo realização espiritual, estava tudo bem com o povo. Infelizmente para o povo, gente com essas qualificações normalmente não ascendia ao trono, sendo derrubada ou assassinada pelo irmão ou general mais resoluto e decidido.
Mas mesmo no século XVIII essa linha de raciocínio de armas-contra-o-Estado-tirânico já não fazia muito sentido. Como qualquer historiador de meia-tigela (ou mesmo 1/8 de tigela ou menos) pode explicar, aqueles senhores feudais com seus reinos de 50 quillômetros quadrados ou menos tornaram-se impraticáveis depois da invenção da pólvora. Já não bastava uns bravos de cavalo e armadura cercados de um monte de infantes arrebanhados entre os homens válidos da propriedade para formar um exército. Eram necessárias armas de fogo. E pólvora. Caras demais para aqueles feudos sustentarem.
As primeiras armas de fogo de mão varreram as armaduras do mapa, tornando-as inúteis, transformando-as mais em um caro empecilho ao movimento do que em proteção adequada. Mas eram imprecisas e lentas na recarga. Quem dominava o campo de batalha era o canhão. A princípio sua grande utilidade era derrubar muralhas. Castelos bem construídos eram virtualmente impenetráveis pelo inimigo durante a idade do Ferro. Uma guarnição mínima, aproveitando a vantagem da altura e os muros inamovíveis, e que contasse com água e víveres, poderia se defender indefinidamente. Constantinopla, com as melhores muralhas que o mundo conheceu antes da Revolução Industrial, mesmo depois de ter perdido todo seu império, seus soldados e a grana pra pagar os soldados, só caiu depois da pólvora.
Com a chegada do demoníaco pó negro, aqueles condes e duques vassalos rebeldes não poderiam mais se esconder por trás de suas fortificações com meia dúzia de cavaleiros, vinte arqueiros e trinta vagabundas pra liberar geral nos momentos de tédio. Por favor, ignore completamente aquelas cenas do (ótimo épico) Cruzada, em que catapultas atiram de quilômetros de distância rochas enormes. Ridley Scott apenas achou que uma platéia contemporânea se sentiria mais no meio de uma batalha se reproduzisse um bombardeio aéreo. Na verdade, essas máquinas de assalto teriam sorte em mandar algumas pedras a mais de 100 metros de distância. Por motivos óbvios, esses pedregulhos descreveriam uma parábola e praticamente rolariam nos muros, ao invés de percorrer uma trajetória quase reta como uma bala. Em toda a Idade Média, a única vez em que um ataque à base de catapulta e aríete a uma cidade murada deu certo foi quando os europeus tomaram Jerusalém. Das outras vezes os invasores se valeram de traidores que lhes deram acesso ao interior, de golpes de sorte, como na queda de uma gigantesca fortaleza templária que foi invadida pela latrina (eca), ou de um longo assédio para que a guarnição defensora perecesse por fome ou sede.
Mas voltemos aos canhões. Até o século XVII, acho, era para destruir fortificações que eles serviam. Mas o avanço tecnológico levou à construção de canos melhores, que podiam ser mais leves e ainda assim não serem destruídos com as explosões em seu interior. Eles também ganharam rodas e passaram a ser móveis. Foi aí que se tornaram os soberanos dos campos de batalha, como arma antipessoal. Podiam ser carregados com balas, que atravessariam quinze soldados facilmente antes de cair ao chão, quicando e rolando, o que levaria ainda a várias fraturas na canela e nos pés de outros inimigos (é sério). Ou podiam ser carregados com metralha, um monte de chumbinhos, como se fossem escopetas gigantes, lançando uma verdadeira nuvem de destruição. O canhão tornou-se tão importante que até hoje, em conflitos convencionais, é o que causa o maior número de baixas.
O canhão no entanto era tão caro que acabou com a feudalização da Europa. Só ricos e poderosos estados centralizados podiam arcar com sua construção em massa, bem como dos rifles, munição e pólvora. É estranho, portanto, achar que hoje em dia, quando um exército nacional usa muito mais alta (e cara) tecnologia, uns sujeitos que gostam de andar armados vão poder se opor a ele. A não ser que se libere a venda de canhões, tanques e mísseis anti-tanques. Não? Ah, que pena, eu sempre quis ter um lança-chamas. E as revoluções guerrilheiras do século XX todas se fizeram praticamente sem armas. Fizeram-se com idéias. Por mais que se execre o que Mao Tsé-Tung, Lênin e Castro fizeram depois que chegaram ao poder, sua maneira de tratar o povo e as alternativas que lhes ofereciam conquistaram completamente a população para o seu lado, mais do que suas (poucas) armas.
Quanto a se defender de assalto, bem, aí há o problema de que o assaltante normalmente não avisa que vai assaltá-lo. Você também poderia criar o hábito de sacar sua arma sempre que visse alguém suspeito. E acabar matando alguém, como fez por exemplo o criativo pintor Iberê. Mas isso foi um caso isolado. Voltemos ao raciocínio puro. Há também o caso de muitos assaltantes atacando-o. Ou um arrastão. Como se defender com um 38? Melhor uma metralhadora. Não. Um fuzil de assalto. Ou uma metralhadora. Que tal plutônio? Entenderam? Michael Moore fez isso em "Tiros em Columbine", conversando com um americano psicopata que colecionava armas. Ele perguntou "e você também é a favor da venda livre de plutônio?" "Eu não. Tem muito maluco por aí".
Bem, então ninguém, nem mesmo um psicopata paranóico amante de armas, é a favor da completa liberação da venda de armas. É preciso um limite. Mas onde pôr o limite? Que tal este: fica proibida a venda de qualquer instrumento cujo único fim é causar ferimentos que podem levar à morte de seres vivos. Paremos nas facas. Elas são legais. Willie Garvin enfrentava sujeitos que queriam conquistar o mundo só com elas. Tive uma namorada há uns dez anos atrás, que tinha uns 22 anos. Ela adorava Modesty Blaise e só pouco tempo antes de me conhecer descobrira que era uma série de livros que tinha virado quadrinhos, não tinha começado já nas tirinhas. Mas o que mais a atraía era a relação da Modesty com Willie, o jeitão de irmão mais velho dele, o modo como ele a chamava de "Princesa". Para surpreendê-la, um dia fui na Cidade rodar sebos atrás dos livros originais da espiã. Um deles, perto da Praça Tiradentes (onde mais, dã?) é praticamente um monte de pilhas e pilhas de alfarrábios. Uma mulher um tanto gorda, envelhecida, com um ar desinteressado e de guarda-pó estava em pé à porta. Procurei um pouco na seção de policiais, mas não conseguia entender a arrumação da loja. Pensei em perguntar à mulher, mas achei que quando eu falasse "Modesty Blaise" ela ia mandar eu repetir três vezes antes de dizer que nunca tinha ouvido falar (isso me acontecia muito quando eu pedia a recém-lançada Diet Coke nos bares; tive que passar a pedir "coca sem açúcar"; também acontecia muito quando eu procurava bandas fora da parada de sucesso em lojas de discos).
Bem, sem paciência pra procurar naquelas pilhas todas e querendo ir logo ver em outra loja, perguntei pra mulher, por desencargo de consciência: "Tem livro da Modesty Blaise?", e a mulher respondeu (como um jesuíta): "Em inglês ou português?" (Cabe aqui acrescentar que a mulher era negra, o que obviamente a meus olhos tornava-a ainda mais incapaz de responder à pergunta). Comprei os livros, mas a namorada foi embora ainda antes de lê-los. Como ela andava muito de moto também e ela dizia que vez por outra se sentia vulnerável, dei-lhe também um canivete de mola. Ela adorou. Dei também um canivete suíço pruma namoradinha de São Luís. Ela tinha posto o maior olho no meu. Pediu pra dar uma olhada enquanto dirigia, abriu-o, o pôs contra a minha garganta. Eu pedi para que ela o tirasse e ela perguntou "você se acha sob meu poder agora?", "Não, eu acho que estamos andando numa estrada de terra e não quero morrer porque você está olhando pra mim e não viu o buraco à frente".
Eu só me meto com mulher maluca. Elas não podem andar armadas não.
Houve quem dissesse durante o plebiscito do desarmamento, ano passado, que o cidadão precisa ter o direito de portar armas para se defender do Estado. Esta afirmação era válida na época em que os americanos escreveram sua Declaração de Independência. Eles estavam a caminho de se tornar a primeira democracia burguesa do mundo. Só faltava mulheres poderem votar e negros poderem ser gente, coisa que começou a acontecer uns cento e cinquenta anos depois. Mas pelo menos estavam apontando na direção correta. O resto do mundo ainda vivia sob monarquias e afins. Se o rei fosse um douto sábio com um certo desprezo por bens materiais e perseguindo realização espiritual, estava tudo bem com o povo. Infelizmente para o povo, gente com essas qualificações normalmente não ascendia ao trono, sendo derrubada ou assassinada pelo irmão ou general mais resoluto e decidido.
Mas mesmo no século XVIII essa linha de raciocínio de armas-contra-o-Estado-tirânico já não fazia muito sentido. Como qualquer historiador de meia-tigela (ou mesmo 1/8 de tigela ou menos) pode explicar, aqueles senhores feudais com seus reinos de 50 quillômetros quadrados ou menos tornaram-se impraticáveis depois da invenção da pólvora. Já não bastava uns bravos de cavalo e armadura cercados de um monte de infantes arrebanhados entre os homens válidos da propriedade para formar um exército. Eram necessárias armas de fogo. E pólvora. Caras demais para aqueles feudos sustentarem.
As primeiras armas de fogo de mão varreram as armaduras do mapa, tornando-as inúteis, transformando-as mais em um caro empecilho ao movimento do que em proteção adequada. Mas eram imprecisas e lentas na recarga. Quem dominava o campo de batalha era o canhão. A princípio sua grande utilidade era derrubar muralhas. Castelos bem construídos eram virtualmente impenetráveis pelo inimigo durante a idade do Ferro. Uma guarnição mínima, aproveitando a vantagem da altura e os muros inamovíveis, e que contasse com água e víveres, poderia se defender indefinidamente. Constantinopla, com as melhores muralhas que o mundo conheceu antes da Revolução Industrial, mesmo depois de ter perdido todo seu império, seus soldados e a grana pra pagar os soldados, só caiu depois da pólvora.
Com a chegada do demoníaco pó negro, aqueles condes e duques vassalos rebeldes não poderiam mais se esconder por trás de suas fortificações com meia dúzia de cavaleiros, vinte arqueiros e trinta vagabundas pra liberar geral nos momentos de tédio. Por favor, ignore completamente aquelas cenas do (ótimo épico) Cruzada, em que catapultas atiram de quilômetros de distância rochas enormes. Ridley Scott apenas achou que uma platéia contemporânea se sentiria mais no meio de uma batalha se reproduzisse um bombardeio aéreo. Na verdade, essas máquinas de assalto teriam sorte em mandar algumas pedras a mais de 100 metros de distância. Por motivos óbvios, esses pedregulhos descreveriam uma parábola e praticamente rolariam nos muros, ao invés de percorrer uma trajetória quase reta como uma bala. Em toda a Idade Média, a única vez em que um ataque à base de catapulta e aríete a uma cidade murada deu certo foi quando os europeus tomaram Jerusalém. Das outras vezes os invasores se valeram de traidores que lhes deram acesso ao interior, de golpes de sorte, como na queda de uma gigantesca fortaleza templária que foi invadida pela latrina (eca), ou de um longo assédio para que a guarnição defensora perecesse por fome ou sede.
Mas voltemos aos canhões. Até o século XVII, acho, era para destruir fortificações que eles serviam. Mas o avanço tecnológico levou à construção de canos melhores, que podiam ser mais leves e ainda assim não serem destruídos com as explosões em seu interior. Eles também ganharam rodas e passaram a ser móveis. Foi aí que se tornaram os soberanos dos campos de batalha, como arma antipessoal. Podiam ser carregados com balas, que atravessariam quinze soldados facilmente antes de cair ao chão, quicando e rolando, o que levaria ainda a várias fraturas na canela e nos pés de outros inimigos (é sério). Ou podiam ser carregados com metralha, um monte de chumbinhos, como se fossem escopetas gigantes, lançando uma verdadeira nuvem de destruição. O canhão tornou-se tão importante que até hoje, em conflitos convencionais, é o que causa o maior número de baixas.
O canhão no entanto era tão caro que acabou com a feudalização da Europa. Só ricos e poderosos estados centralizados podiam arcar com sua construção em massa, bem como dos rifles, munição e pólvora. É estranho, portanto, achar que hoje em dia, quando um exército nacional usa muito mais alta (e cara) tecnologia, uns sujeitos que gostam de andar armados vão poder se opor a ele. A não ser que se libere a venda de canhões, tanques e mísseis anti-tanques. Não? Ah, que pena, eu sempre quis ter um lança-chamas. E as revoluções guerrilheiras do século XX todas se fizeram praticamente sem armas. Fizeram-se com idéias. Por mais que se execre o que Mao Tsé-Tung, Lênin e Castro fizeram depois que chegaram ao poder, sua maneira de tratar o povo e as alternativas que lhes ofereciam conquistaram completamente a população para o seu lado, mais do que suas (poucas) armas.
Quanto a se defender de assalto, bem, aí há o problema de que o assaltante normalmente não avisa que vai assaltá-lo. Você também poderia criar o hábito de sacar sua arma sempre que visse alguém suspeito. E acabar matando alguém, como fez por exemplo o criativo pintor Iberê. Mas isso foi um caso isolado. Voltemos ao raciocínio puro. Há também o caso de muitos assaltantes atacando-o. Ou um arrastão. Como se defender com um 38? Melhor uma metralhadora. Não. Um fuzil de assalto. Ou uma metralhadora. Que tal plutônio? Entenderam? Michael Moore fez isso em "Tiros em Columbine", conversando com um americano psicopata que colecionava armas. Ele perguntou "e você também é a favor da venda livre de plutônio?" "Eu não. Tem muito maluco por aí".
Bem, então ninguém, nem mesmo um psicopata paranóico amante de armas, é a favor da completa liberação da venda de armas. É preciso um limite. Mas onde pôr o limite? Que tal este: fica proibida a venda de qualquer instrumento cujo único fim é causar ferimentos que podem levar à morte de seres vivos. Paremos nas facas. Elas são legais. Willie Garvin enfrentava sujeitos que queriam conquistar o mundo só com elas. Tive uma namorada há uns dez anos atrás, que tinha uns 22 anos. Ela adorava Modesty Blaise e só pouco tempo antes de me conhecer descobrira que era uma série de livros que tinha virado quadrinhos, não tinha começado já nas tirinhas. Mas o que mais a atraía era a relação da Modesty com Willie, o jeitão de irmão mais velho dele, o modo como ele a chamava de "Princesa". Para surpreendê-la, um dia fui na Cidade rodar sebos atrás dos livros originais da espiã. Um deles, perto da Praça Tiradentes (onde mais, dã?) é praticamente um monte de pilhas e pilhas de alfarrábios. Uma mulher um tanto gorda, envelhecida, com um ar desinteressado e de guarda-pó estava em pé à porta. Procurei um pouco na seção de policiais, mas não conseguia entender a arrumação da loja. Pensei em perguntar à mulher, mas achei que quando eu falasse "Modesty Blaise" ela ia mandar eu repetir três vezes antes de dizer que nunca tinha ouvido falar (isso me acontecia muito quando eu pedia a recém-lançada Diet Coke nos bares; tive que passar a pedir "coca sem açúcar"; também acontecia muito quando eu procurava bandas fora da parada de sucesso em lojas de discos).
Bem, sem paciência pra procurar naquelas pilhas todas e querendo ir logo ver em outra loja, perguntei pra mulher, por desencargo de consciência: "Tem livro da Modesty Blaise?", e a mulher respondeu (como um jesuíta): "Em inglês ou português?" (Cabe aqui acrescentar que a mulher era negra, o que obviamente a meus olhos tornava-a ainda mais incapaz de responder à pergunta). Comprei os livros, mas a namorada foi embora ainda antes de lê-los. Como ela andava muito de moto também e ela dizia que vez por outra se sentia vulnerável, dei-lhe também um canivete de mola. Ela adorou. Dei também um canivete suíço pruma namoradinha de São Luís. Ela tinha posto o maior olho no meu. Pediu pra dar uma olhada enquanto dirigia, abriu-o, o pôs contra a minha garganta. Eu pedi para que ela o tirasse e ela perguntou "você se acha sob meu poder agora?", "Não, eu acho que estamos andando numa estrada de terra e não quero morrer porque você está olhando pra mim e não viu o buraco à frente".
Eu só me meto com mulher maluca. Elas não podem andar armadas não.
abril 06, 2011
abril 04, 2011
Richard Cory
A primeira vez que ouvi falar de Richard Cory era uma (ótima) música do bom álbum triplo WINGS OVER AMERICA. Depois descobri que era na verdade do Paulo Simon e, mais tarde, finalmente, que era um poema belíssimo de Edwin Arlington Robinson, como os angloparlantes podem conferir abaixo e os angloprejudicados mais abaixo ainda, na minha pobre e livre tradução (as duas coisas sempre parecem andar juntas).
Whenever Richard Cory went down town,
We people on the pavement looked at him:
He was a gentleman from sole to crown,
Clean favored, and imperially slim.
And he was always quietly arrayed,
And he was always human when he talked;
But still he fluttered pulses when he said,
"Good-morning," and he glittered when he walked.
And he was rich - yes, richer than a king -
And admirably schooled in every grace;
In fine we thought that he was everything
To make us wish that we were in his place.
So on we worked, and waited for the light,
And went without the meat, and cursed the bread;
And Richard Cory, one calm summer night,
Went home and put a bullet through his head.
Sempre que Richard Cory vinha à cidade
Nós na calçada olhávamos para ele
Um cavalheiro magnificente dos pés à cabeça
Favorecido nas feições e majestaticamente esguio
E ele estava sempre discretamente ataviado
E era sempre bondoso e gentil ao falar
E ainda assim fazia corações dispararem ao dizer
"Bom dia", e parecia brilhar ao andar
E ele era rico - sim, rico como um rei
E admiravelmente escolado em todas as matérias
Em suma, pensávamos que ele era tudo
O que nos fazia desejar que estivéssemos em seu lugar
E assim continuávamos na labuta e esperávamos pela luz
E prosseguíamos sem a carne, e amaldiçoávamos o pão
E Richard Cory, numa calma e límpida noite de verão
Foi para a casa e pôs uma bala na cabeça
Whenever Richard Cory went down town,
We people on the pavement looked at him:
He was a gentleman from sole to crown,
Clean favored, and imperially slim.
And he was always quietly arrayed,
And he was always human when he talked;
But still he fluttered pulses when he said,
"Good-morning," and he glittered when he walked.
And he was rich - yes, richer than a king -
And admirably schooled in every grace;
In fine we thought that he was everything
To make us wish that we were in his place.
So on we worked, and waited for the light,
And went without the meat, and cursed the bread;
And Richard Cory, one calm summer night,
Went home and put a bullet through his head.
Sempre que Richard Cory vinha à cidade
Nós na calçada olhávamos para ele
Um cavalheiro magnificente dos pés à cabeça
Favorecido nas feições e majestaticamente esguio
E ele estava sempre discretamente ataviado
E era sempre bondoso e gentil ao falar
E ainda assim fazia corações dispararem ao dizer
"Bom dia", e parecia brilhar ao andar
E ele era rico - sim, rico como um rei
E admiravelmente escolado em todas as matérias
Em suma, pensávamos que ele era tudo
O que nos fazia desejar que estivéssemos em seu lugar
E assim continuávamos na labuta e esperávamos pela luz
E prosseguíamos sem a carne, e amaldiçoávamos o pão
E Richard Cory, numa calma e límpida noite de verão
Foi para a casa e pôs uma bala na cabeça
Geribá com Neblina à Noite
Mais da Visita ao Museu de Belas-Artes
Não tem só século XIX de novo no MNBA não, também tem uma excelente seção do século XX, revista e ampliada, com várias peças doadas para exposições recentes. Há toda uma série de gravuras de Goeldi, sobre a incômoda porém sempre presente sombra da morte. Aparentemente as obras do paulista foram bastante influenciadas por Ensor, o mestre belga precursor do surrealismo, de final dos anos 1800, início dos 1900:
Veja mais sobre a fixação de Ensor pela morte e máscaras aqui.
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