novembro 05, 2011

Há 95 Anos um Monstro Entrava na Guerra (Final)


Em 15 de setembro de 1916, há 95 anos, os tanques entraram em ação pela primeira vez. A maioria enguiçou ou ficou fora de combate logo no princípio, mas alguns poucos continuaram avançando, levando de roldão alambrados, parapeitos, ninhos de metralhadora e a moral dos adversários. No entanto, seus ganhos nunca se provavam duradouros. Era preciso aprender a usá-los adequadamente para que viessem a ganhar seu status de arma principal da guerra terrestre.

O problema era que, sendo uma arma nova, o potencial dos tanques ainda não havia sido de todo compreendido. Embora gente como Samuel Fuller já pudesse antever o futuro da guerra, a maioria dos comandantes preferia usá-los como guarda-costas de infantes, distribuídos ao longo da linha, para avançar POR TRÁS dos soldados e ajudá-los a destruir os alambrados, pontos fortes de resistência ou ninhos de metralhadoras. Outros advogavam que eles deveriam avançar na frente, AO LADO DA CAVALARIA. O que era ridículo, já que os carros de combate eram lentos demais para acompanhar os cavalos e estes vulneráveis demais ao fogo para seguirem juntos com os veículos. O primeiro uso bem sucedido e bem planejado dos blindados foi somente em 4 de julho de 1918, na batalha de Hamel, um incidente relativamente de pequenas proporções à época. Mas, sendo uma operação totalmente baseada em tanques e que conquistou todos os seus objetivos, reveste-se retroativamente de uma importância descomunal.

Tanque Mark V, modelo bem mais avançado que os primeiros blindados, atingido no final da Grande Guerra

Para atacar uma frente de 5.500m, o general John Monash dispunha de apenas 6 batalhões, número usado normalmente para uma linha de 1.800m. Seu trunfo, no entanto, eram as quatro companhias de tanques (60 aparelhos) postas sob seu comando. Usando a lógica de que, como eram à prova de bala, era mais sensato pô-los À FRENTE dos soldados para interceptar o fogo, o minucioso Monash concentrou-os numa ponta de lança blindada para romper o alambrado e ir levando tudo de roldão. Monash achava que, com o advento das armas mecanizadas, a infantaria "deveria ser exonerada, tanto quanto possível, de avançar lutando (...), manter o território conquistado e reunir (...) prisioneiros, canhões e mantimentos (...)". Assim, quem faria o trabalho duro seriam os encouraçados terrestres, afinal fora para isso que tinham sido inventados.

Monash também dispunha de menos de 1/3 da artilharia julgada necessária para o ataque. Na verdade, ele nem pretendia fazer nenhum bombardeio, deixando a tarefa exclusivamente para os canhões dos blindados. Os infantes, entretanto, com pouca confiança na engenharia mecânica de 1918, exigiram ao menos uma barragem rolante, com o quê Monash e seus comandantes de tanques acabaram concordando. Uma barragem não muito pesada, para não prejudicar o terreno e possibilitar um avanço mais veloz dos carros.

A batalha foi um sucesso. Os tanques, agindo numa planície suavemente ondulada e surgindo sem o costumeiro aviso ao inimigo de um looooooongo bombardeio preliminar que permitia aos defensores se prepararem, arrastaram toda a oposição à sua frente. Os pontos de maior resistência encontrados pela infantaria eram passados aos blindados através de uma campainha - o soldado a tocava, um tripulante abria uma escotilha para receber as informações necessárias e para lá se dirigia o carro, para esmagar qualquer defensor empedernido que ainda não tivesse fugido. Em compensação os infantes lidavam com qualquer artilharia que ameaçasse o avanço de seus amigos à prova de bala, mas não de canhão, que continuavam avançando, desbaratanto qualquer tentativa de reorganização e contra-ataque tramada pelos alemães na retaguarda.


Monash também encarregou seus tanques de carregar suprimentos - munição, arame farpado para armar trincheiras e água. Foram precisos apenas quatro para deles para cumprir a função de MIL E DUZENTOS SOLDADOS, liberados portanto para o combate. Aviões também lançaram materiais de paraquedas em locais marcados pelos soldados.

Ao fim, todos os objetivos foram conquistados com um número consideravelmente pequeno de baixas para os padrões da frente ocidental e nenhum tripulante de tanque morto - apenas 13 feridos e 5 aparelhos fora de ação (note-se que foram usados modelos aperfeiçoados em relação àqueles não só de 1916 como os de Cambrai, em 1917). Foi o primeiro êxito indiscutível e total dos jovens blindados, em cujos ombros havia sido lançada toda a responsabilidade de vitória. Driblando a desconfiança da infantaria, que em tantas outras ocasiões aprendera a não confiar neles, ao menos no longo curso, eles haviam finalmente mostrado sua utilidade e seu verdadeiro papel. Não o de servir de guarda-costas para os homens pequenos e vulneráveis, mas de proteger suas vidas tomando para si a missão de aríete e vanguarda dos ataques de... como dizer... peito aberto contra metralhadoras, trincheiras e posições artilhadas. A era das longas linhas de soldados avançando ombro a ombro impavidamente sob as explosões dos imprecisos canhões havia terminado. Surgia a era do carro de combate blindado.

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