dezembro 10, 2012

Numerais Arábicos e Sensores Digitais

Estou assistindo a um documentário num canal chamado Curta! que está com uma grade experimental na GVT. Vou curti-lo antes que comecem a entupir sua programação com coisas como "vida de caixeiro-viajante - Paul Strumble roda os Estados Unidos em busca do melhor preço - mas na maioria das vezes o que ele encontra é uma boa história!". Ou "Contos de Contador - Willie Bumper e sua firma de contadores têm uma montanha de números pela frente - mas o pior são os clientes!". Mas, por enquanto, ainda sobrevivem séries realmente interessantes e a que está passando é "A História da Matemática".

Neste episódio, o apresentador conta a chegada dos numerais arábicos à Europa através das mãos de Leonardo di Pisa, ou Fibonacci. Inicialmente eles foram olhados com muita desconfiança porque, sendo tão fáceis de usar, poderiam ser aplicados em fraudes de maneira igualmente fácil. O que mostra que desde a Idade Média as pessoas já confundiam o instrumento com a arte e a arte com o artista.

Mas esse aí acima não era o único entrave. As autoridades temiam também que sua simplicidade desvelaria a fachada assustadora da matemática para as massas e minaria o poder da elite. Também fica claro que desde a Idade Média já se usava o conhecimento e a educação como instrumentos de opressão, sendo esse um dos motivos pelos quais desconfiamos da polidez. É por isso que sempre que você ouvir alguém ficar falando que é um romântico que preferia muito mais fotografar com filme ou fazer animação à mão, ou ouvir um vinil, mantenha-se em guarda. Provavelmente é um caso claro de elitismo. Um conhecido meu, fotógrafo premiado do Globo, já dizia no início do século XX, ele conhecia profissionais que eram capazes de, com cuspe e Coca-cola, revelar um filme em quinze minutos num elevador. E isso atualmente não serve pra porra nenhuma.

Tudo que facilita o acesso do público em geral ao conhecimento, à educação e à arte é olhado com profunda desconfiança e desprezo. A internet, quando começou a aparecer, no meio dos anos 90, por exemplo, era encarada como instrumento de alienação (!!!!!!!) por muita gente, principalmente hippies que eu conhecia. Já hippies mais argutos, como Jerry Garcia, logo de cara viram o potencial democratizante daquele troço que podia transformar qualquer pessoa num meio de comunicação de massa.

Durante anos, a simples capacidade que eu tinha de tirar fotos claras, nítidas, bem expostas e coloridas  impressionou as pessoas. Mas, com a rápida evolução das câmeras digitais, qualquer um com um bom telefone pode fazer imagens com essas características. Como você acha que quem vive disso encara a coisa? A arte da fotografia mudou e tinha muita gente que não estava disposta a ter que reaprender tudo que sabia. Veja como fotos de casamento são hoje em dia - afinal de contas, qualquer um pode tirar um retrato da noiva com qualidade. Num ambiente desses, é preciso mais do que simples conhecimento da técnica para se destacar. É preciso qualidade. É preciso talento. É preciso ter o que dizer, já que a forma está à disposição de todos. Já que a tabuada pode ser ensinada a crianças ainda no primeiro ano do fundamental.

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