setembro 03, 2009

Cinco Grandes Momentos dos Quadrinhos de Supereróis que Quase Acabaram com a Indústria

CRISE NAS INFINITAS TERRAS

Pensei em escolher também Guerras Secretas, mas a Crise foi mais do que um simples evento de mercadologia. A DC queria revitalizar seus personagens, mudando seus conceitos e contratando novos artistas. A Crise reformulou Batman e Superomem, Mulher Maravilha, matou o Flash, acabou com as terras paralelas, sepultou o Superboy, Kripto, Supermoça e Kandor, enfim, realmente foi uma mudança brusca. E bem que esses heróis estavam precisando, comportando-se como se ainda estivessem no início dos anos 70.

A Crise, no entanto, envolvendo todos os heróis em todas as revistas, fez tanto sucesso que a partir daí a DC começaria quase todo ano a fazer uma jogada parecida. Vamos voltar com a Liga da Justiça? Então lancemos LENDAS! Em MILÊNIO, lançaram alguns heróis novos, mataram uns personagens secundários e empobreceram o Besouro Azul. A partir de INVASÃO virou zona e eu me lembro de uma saga sem pé nem cabeça que encerrou melancolicamente a era da editora Abril publicando DC no Brasil, com umas sondas que queriam devorar o Sol e onde o grande acontecimento foi a morte do pai de Lois Lane e da mãe da Mulher Maravilha. Isso sem falar na ZERO HORA, quando toda a cronologia da casa foi reformulada e, ao fim... o Batman passou a se vestir de preto.

O resultado disso foi que em alguns anos todas as revistas eram encadeadas com outras e com edições anteriores e vindouras. Um pobre mortal que comprasse um gibi pra se divertir jamais entenderia o que estava se passando por causa dos 5.738 tie-ins necessários. Um dos motivos que levou a não se formar novos leitores nos anos 90.


DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO

No futuro os Sentinelas dominaram os mutantes e Kitty Pryde volta no tempo pra tentar mudar a história. Um conceito já batido na literatura, mas que influenciou sem dúvida O EXTERMINADOR DO FUTURO. A história era boa, mas introduziu descaradamente a viagem no tempo e logo a linha temporal dos X-Men e correlatos estava uma completa zona: Cable, aquele velho, era o futuro do filho de Ciclops e Jean Grey no passado, sendo que durante dez anos eles viveram no futuro pra criá-lo. E seitas, e Apocalypse, e Tolliver, num dado momento todo mundo parecia estar vindo do futuro e revelando-se parente de alguém.


O CAVALEIRO DAS TREVAS

Junto com Watchmen, o marco dos supereróis dos anos 80, ambas as séries sendo publicadas em 85/86. Miller tirou qualquer resto de traço de humor do homem morcego e, pra sublinhar a psicopatia nascida do assassinato dos pais à sua frente, aumentou a violência e o sadismo do vigilante. A maioria dos outros quadrinistas, entretanto, ficou só com a violência e o sadismo e ignorou a construção psicológica, salvo pra dizer que o Batman e o Coringa eram reflexos um do outro (bocejo). Em pouco tempo os heróis se tornavam indistinguíveis dos vilões na editora Image e nas mãos de gente como Rob Liefeld, reduzidos a porrada (que, sem o gênio narrativo de Miller, dificilmente funciona em quadrinhos) e frases de efeito (sem talento).


A SAGA DA FÊNIX NEGRA

Uma personagem querida pelo público torna-se malévola, destrói todo um planeta e... é isso. Ninguém restaura o planeta e, ao fim, ela não é salva, prefere se matar a tornar-se maligna novamente.

O choque de ver uma heroína gente boa, bonita, jovem, amada e tradicional sendo morta repercutiu durante meses nos gibis dos X-Men e ela ficou fora de cena por anos, parecia mesmo que não voltaria - seu namorado até mesmo se casou com outra ruiva, depois de pensar que ela fosse a reencarnação da amada.

Ela acabou voltando, para fazer parte do X-Factor, numa boa história. A partir daí Chris Claremont começaria a matar personagens em quase todas as suas sagas apenas para trazê-los de volta alguns meses depois. Historinhas sem mortes de personagens passaram a parecer desprovidas de drama, graças à inflação de óbitos, e as que tinham os heróis batendo as botas soavam caricaturais, já que ninguém mais acreditava que eles fossem permanecer falecidos. Joe Quesada assumiu a Marvel no final dos anos 90 e salvou a indústria, começando por declarar que em sua gestão os mortos permaneceriam mortos. Claremont quase saiu na porrada com ele porque matou a Psylocke e Quesada vetou a volta. Mas isto não durou muito e hoje em dia já estão de volta as ressurreições de personagens e as megassagas confusas (que ele também havia prometido eliminar). Vamos ver no que vai dar.


X-FACTOR

Walt Simonson desenha pra cacete, mas seu estilo era bastante diferente daquele da Marvel. Menos realista, mais estilizado, menos clássico e com raios, rajadas e efeitos sonoros dispostos no painel mais por efeito estético do que por técnica narrativa. Até aí nenhum problema, mas ele fez tanto sucesso no final dos anos 80 que logo todos os desenhistas estavam estilizando o traço, pra mangá, pra sabe-se lá o quê, no caso do Rob Liefeld, ou para uma linha dura, "de macho". Todd McFarlane abandonaria o naturalismo confuso com ar publicitário do início da carreira e em Homem Aranha tornaria Peter Parker e Mary Jane caricaturas esplendidamente desenhadas e sólidas, mas caricaturas.

O caminho estava aberto para o predomínio da imagem sobre o texto e logo teríamos o horroroso Spawn, a Image e declarações como a de Rob Liefeld (sempre ele): história? Pra que história?

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