setembro 21, 2009

A Blitzkrieg Alemã Parte III

A primeira parte deste artigo está aqui, em uma nova janela.

E aqui está a segunda parte.

A I Guerra acabara, embora na época eles ainda não soubessem que tinha sido só a primeira. Os alemães tiveram que embarcar numa onda que lhes era completamente alheia: a democracia. Os vencedores voltaram a seus afazeres, não mais sábios, porém mais pobres, com exceção dos Estados Unidos da América - a nova e emergente superpotência - agora mais experientes, embora também não mais sábios. Apenas a França imaginou que a Alemanha não iria ficar muito tempo quieta sem querer dominar o mundo, afinal, falando uma língua com declinações você só pode filosofar ou conquistar o planeta. E, como Nietzsche tinha unido as duas vertentes no final do século XIX...

O problema com os gauleses é que mesmo sendo mais espertos que os outros vencedores, ainda assim também não eram tãããããão mais espertos. E se prepararam não para lutar o conflito vindouro, mas para lutar a guerra de 1914-18, que tinham acabado de vencer, embora tivessem se preparado não para lutá-la, mas para lutar a guerra franco-prussiana de 1870... percebem um padrão aí?

Tudo bem que é fácil criticar olhando retrospectivamente, mas depois de se prepararem para uma guerra de movimento em 1914, os franceses estavam convencidos de que a próxima porradaria novamente seria um confronto de entrincheirados artilhados e quem tivesse a melhor trincheira ganharia. Daí construíram as gigantescas fortificações da Linha Maginot que virariam sinônimo para "maior mico" em história militar.

O problema é que quem bolou essa estratégica conservadora foi o Pétain e seus auxiliares, tudo militar. E, como já diz um velho ditado, guerra é um assunto sério demais pra ficar nas mãos dos militares. H. G. Wells previu em sua "História Universal" que o conflito avizinhando-se seria travado por máquinas blindadas, o que pôde ser visto na adaptação cinematográfica de seu livro (que não li) "The Shape of Things to Come". Mas Wells era um escritor, não um guerreiro. Embora tudo que é filme condene a lavagem cerebral que os recrutas sofrem quando em treinamento, há que se lembrar que nem todo mundo está disposto a morrer pela sua pátria, portanto é melhor fazer os caras agirem por reflexo e irem pra linha de frente sem parar pra pensar, "peraí, isso aí é bala de verdade! Que que eu tô fazendo aqui? Eu quero ir pra casa!" E uma vez tão bem treinado pra não raciocinar, é difícil abandonar o hábito.

Mas voltemos à linha Maginot. Quem a ideou foi Pétain, que venceu em Verdun com um pensamento radical para os generais da época: evitando o desperdício de vidas e mantendo uma defesa bem postada. Daí que quando se tornou Ministro da Defesa botou pilha pra fazer na fronteira com os germanos uma parede fortificada, um série de supertrincheiras. O velho marechal tinha visto a carnificina de 14-18 em primeira mão e sua obsessão com fortalezas advinha de uma genuína preocupação com a vida de seus subordinados, mas infelizmente a dinheirama gasta com o projeto comprometeu os gauleses com a guerra de posição e quando os avanços tecnológicos dos anos 30 tornaram o tanque a indisputável estrela do campo de batalha, os franceses, com exceção de De Gaulle, preferiram se aferrar à sua blindagem imóvel.

E tão obcecados eles ficaram que nem se importaram quando os belgas, tentando se apegar à sua neutralidade, não permitiram que a linha Maginot se estendesse por dentro de seu território. Em 1914, justamente para se desviar da infantaria e das fortificações francesas, os alemães tentaram flanquear os gauleses com um avanço pelas planícies da Bélgica, e já ensaiaram nos quatro anos que ficaram lá as atrocidades que fariam a partir de 1938 (na Tchecoeslováquia). Mas nem isso comoveu Alberto & os belgicanos. Uma muralha frontal que não se estende até a parede lateral não costuma ser boa proteção, mas Pétain não conseguia enxergar nada além da necessidade de se entrincheirar. Além do mais, em caso de conflito, a Bélgica se aliaria à França e à Inglaterra e os três exércitos se concentrariam nas planícies de Flandres.

Já do outro lado da fronteira, os alemães, como perdedores da guerra, chegaram à conclusão que era preciso pensar então em outra maneira de conquistar o mundo. Como foi contra eles que os tanques foram usados pela primeira vez, e em quantidade, eles acabaram desenvolvendo muito mais respeito pela arma do que os aliados, que nunca tinham lutado contra blindados - os germanos tinham construído só 20 monstros mecânicos, lentos demais, pesados demais, mal armados demais, grandes demais. Como a tecnologia de motores dos anos 10 não permitia aos mastodontes de aço mobilidade e confiabilidade suficentes, pra maior parte dos generais vencedores aquelas máquinas não compensavam o trabalho que davam. Mas os prussianos tinham-nos visto pelo outro lado e sabiam como era apavorante mesmo para o seu soldado, o mais bem treinado e mais disciplinado do mundo, encarar aqueles leviatãs à prova de balas.

O último comandante supremo dos exércitos alemães na I Guerra tinha sido Ludendorff (extra-oficialmente; nominalmente o chefe era Hindenburg), que declarou depois do conflito que se tivesse homens suficientes pra produzir os tanques, tê-los-ia alistado. Ludendorff não imaginou que os blindados poderiam economizar vidas, tão comprometido estava com a guerra de posições e a ideia de que o país que tivesse o último soldado de pé seria o vencedor. Esse raciocínio ficaria obsoleto com a tecnologia. Com a derrota, o exército alemão seria desbaratado e, quando Hitler o montou novamente, teve que lançar mão de vários generais jovens (para o cargo, é claro), que tinham sido oficiais de linha de frente nas trincheiras e que sabiam o valor do carro de combate.

Sem comentários: