setembro 25, 2011

Meu Canhão é Maior do que sua Metralhadora - Parte II


Além do semifracassado Airacobra, o outro caça americano com canhões era o P-38, o Lightning. Só que esse era bimotor e carregava seu canhão de 20 mm e suas quatro metralhadoras .50 no nariz. Com todas as armas alinhadas ele tinha mais facilidade em concentrar o fogo e acertar o alvo, portanto não precisava de uma cadência de fogo tão alta. Os monomotores carregavam seu armamento nas asas, convergindo para um ponto “ideal” entre 150 e 400 metros à frente (1), o que exigia bastante colaboração do inimigo na hora dos disparos - boa parte das balas se perdia no vazio, por mais que a mira estivesse correta. Ademais, com a artilharia alinhada longitudinalmente com o avião, ele se tornava uma plataforma mais estável de tiro.

Assim, os americanos mantiveram em praticamente todos os seus aparelhos as metralhadoras, ideais para uso antipessoal e acertar ariscos interceptadores. Quando os alvos terrestres se tornaram maiores e melhor protegidos, foram instalados lançadores de foguetes nos caças. Somente a era do jato iria modificar essa preferência. E tudo por causa da robustez dos desenhos soviéticos.

Sim, os soviéticos sabiam que sua indústria não era a mais refinada do mundo e que tampouco davam a seus operários o melhor treinamento possível. Então, em vez de desenhos complexos e difíceis de produzir, os comunas gostavam de equipamento bélico com construção simples e robusta, ainda que o acabamento precário diminuísse o tempo médio entre falhas e a durabilidade. Mas enquanto funcionava, era uma beleza.

Nesta linha se incluía o pequeno Mig-15. Mais rápido, com melhor razão de subida e mais manobrável do que qualquer caça contemporâneo, ele apareceu de surpresa na Guerra da Coreia e fez um estrago enorme em todos os jatos do lado dos capacetes azuis que não se chamasse Sabre. Os americanos inicialmente, para evitar a escalada do conflito, evitavam engajar em combate seu melhor equipamento, mas tiveram que apelar para seu transônico de asas enflechadas para impedir que a força aérea chinesa dominasse os ares.

O Mig já era difícil de atingir, mas o pior é que engolia balas .50 como se fosse o Ronaldo Fenômeno frente a um punhado de bombons. Os frustrados pilotos americanos entupiram seus superiores pedindo armamento mais pesado e desprezando a alta cadência de fogo das metralhadoras. Os aviões haviam ingressado de vez na era eletrônico e o Sabre já possuía mira por radar, um dos motivos normalmente apontados para um caça com teoricamente menor desempenho que o Mig-15 ter ganho uma superioridade tão incontestável nos céus (o outro era o melhor treinamento das tripulações). (continua...)

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