janeiro 03, 2010

Os Shows que Eu Mais Gostei na Década

5. Strokes no Cais do Porto, 2005

Os Strokes são uma das bandas de rock mais influentes do rock contemporâneo. Embora o show deles tenha sido condizente com sua postura "cool" (lembrando muito o blasé "The Fall" no palco) - muito bom, mas sem grandes efeitos especiais, não há como deixá-los de fora desta lista. Pensei em botar aqui Walter Franco no CCBB em 2003, mais velho, maduro e tranquilo e tão ausente dos palcos que qualquer apresentação sua merece destaque; Buddy Guy no Metropolitan (ou seja lá como esse troço se chame agora) em 2002, uma esplêndida performance, com a casa na época com uma acústica perfeita, mas ele tá sempre por aqui; Brian Wilson em São Paulo, mas apesar da emoção e das boas vibrações de vê-lo cantando seus clássicos, incluindo, é claro, Good Vibrations, God Only Knows e a oração que abre o seu então recente "Smile", mas seu jeitão autista parecia uma prévia de Arnaldo Baptista nos Mutantes (ver adiante), portanto vou ficar mesmo com os novaiorquinos que influenciaram os Vines, Hives, Queens of Stone Age e milhares de outros grupos que surgiram por aí. Sem contar que o Cais do Porto é um puta lugar pra esse tipo de evento.

4. White Stripes no Metropolitan, ou seja lá o nome que esse troço tiver agora, 2005.

Tá, tá legal, não foi um show tão bom assim, mas o que fazer, é a única banda contemporânea da qual REALMENTE sou fã. Já que as cores da banda são vermelho e preto, Jack White veio vestido como um exu - não sei se por coincidência ou se alguém contou a ele - e mostrou tremenda presença de palco, mais do que suficiente pra ele e pra ex-mulher que se passa por irmã. Não foi tão memorável quanto a apresentação na Ópera de Manaus, onde os manauaras enlouqueceram com a presença de verdadeiros astros de rock no apogeu, coisa bem rara de se ver por lá - já os Stripes fizeram questão de tocar lá quando souberam que havia um orfeão daqueles no meio da selva. Legal, não? Os sem-ingresso, aparentemente a cidade inteira, ficaram do lado de fora acompanhando por telões, até que Jack desceu do palco, atravessou os corredores e foi pra praça lá fora pra cantar umazinha no meio da multidão. Você tem que gostar de uma banda que toma essas atitudes numa época em que os músicos parecem cada vez menos gostar do povo que os sustenta.

3. Radiohead (e Kraftwerk) na Apoteose, 2009

Vi pouquíssimos shows em 2009, dei sorte que vi este. Fui ver o Radiohead porque gostava das baladas deles e nem desconfiava que ao vivo aquelas melodias se tornassem tão pesadas, dançantes e empolgantes. Logo o Radiohead, o Thom Yorke com aquele jeitão tão sensível, quem imaginava que num palco ele tivesse carisma suficiente pra botar uma Apoteose pra dançar com aquelas melodias aparentemente tão suaves? E olha que ele nem tocou "Freak". Ajudando muito estava o telão, usado como parte do sofisticado cenário, criando o clima angustiado que adolescentes e rock'n'roll adoram.

E ainda teve antes o Kraftwerk, o avô da música eletrônica. We are the robots. Charging our battery and now we're full of energy. O show foi maneiro, mas esse é talvez o emprego mais fácil do mundo. Ficar em pé num palco, navegando saites pornô enquanto toca aquelas bases todas já pregravadas, pré-gravadas, ah, sei lá.


2. Neil Young no Rock in Rio III, 2001

Acho que não preciso falar muito sobre esse show. Quem viu, viu, quem não viu pode assistir ao DVD pirata que foi disponibilizado logo depois pelos camelôs. Eu tenho só o CD. Os fãs do veterano maluco já eram na época um bando de cansados balzaqueanos com pouca disposição pra se mandar lá praonde o vento perdeu as botas e passar o dia inteiro vendo showzinhos e showzões pra depois ter que encarar a longa viagem de volta em transporte público, já que automóveis particulares não podiam chegar perto da Cidade do Rock. Resultado: uma performance para relativamente pouca gente, o que me permitiu ver o ex-parceiro de Crosby, Stills e Nash a vinte e cinco metros de distância - e só não foi menos porque eu estava querendo conforto pra dar uns amassos (mais detalhes adiante). Com velas no palco, uma banda disposta a fazer barulho e loooooongos e distorcidos solos que fizeram nove músicas renderem duas horas e meia, o velhote mostrou muito mais energia do que esses emos prefabricados, pré-fabricados, ah, droga, não vou consultar isto agora não. O ponto alto foi quando uma das cordas da guitarra arrebentou e o Neil Jovem, em vez de parar, trocar de instrumento ou algo parecido, simplesmente ficou batendo com ela nas outras pra tirar um som maneiro. ISSO é rock'n'roll. Sem contar que o cara toca pra burro. E sem contar que foi o último show que vi com a Vânia, parecia que íamos conseguir voltar. Foi muito legal.

1. Mutantes no Circo Voador, 2007

Eu vi o anúncio pintado na parede e liguei pra Suzy, "vamos nos dois dias?" "Do que você está falando?" "Tem Mutantes sexta e sábado no Circo Voador." "Claro!"

Eu devia botar como número 1 o Jovem Neil, afinal este show era um "Grandes Sucessos dos Mutantes", sem Rita Lee, elemento fundamental da banda, com o Arnaldo Baptista sem voz, mas com todos os seus problemas, enfim, basicamente era Sérgio Dias e banda fazendo um cover dele mesmo. Mas que cover, que maiores sucessos e que banda!

A gente tinha ideia do que iria ver porque tinha comprado o DVD ao vivo com a volta dos Mutantes em Londres. Legal. Era aparente que todo mundo estava se divertindo. O Arnaldo Baptista estava sem voz e com ar lesado, mas sorria e parecia feliz em estar num palco com muuuita gente na plateia. A Zélia Duncan, que substituía Rita Lee, passava o tempo todo com uma cara, "gente, eu não acredito que estou cantando com os Mutantes" e o Sérgio Dias era outro contente em ver que seu público não estava limitado à meia dúzia de gatos pingados que gosta de música instrumental e que vai aos seus shows.


Uma dessas mãos é minha, eu sei qual, mas é complicado de explicar


A primeira apresentação dos Mutantes no Rio foi no Vivo Rio, aquela pavorosa casa de espetáculos no Aterro. A acústica estava uma merda, já era proibido fumar, Zélia Duncan tentou cantar "Ando meio desligado" em inglês (justiça seja feita, era o que a banda pretendia, mas assim que o Sérgio Dias viu que o público estava ignorando a letra em anglo-saxão, teve que falar com a cantora prela se tocar e não tentar forçar a plateia a fazer o que Zélia Duncan queria) e ainda assim foi um grande show. Mas Mutantes tem muito, muito, muuuuuuuuuito mais a ver com Circo Voador.

Logo de cara a surpresa: quem disse que a garotada de hoje em dia não conhece nada de história da música? Mutantes tem prestígio, mas seus discos são difíceis de achar e a única integrante que ainda fazia sucesso até os anos 80, 90, anda também sumida. Isso não impediu de estar cheio de adolescentes no Circo nos dois dias. Do meu lado, um moleque de seus vinte anos torcia para que o Arnaldo Baptista enlouquecesse de vez e tocasse todo o "Loki" (esplêndido disco, pouco conhecido, ainda mais antes do longametragem homônimo contando a história do Arnaldo). E entra o Sérgio Dias, empunhando (como sempre desde a volta da banda) a velha Guitarra de Ouro, que abandonara em sua época de músico instrumental, vestido de Barão Vermelho, seguido do Arnaldo, da Zélia e dos cantores de apoio, todos com uma cara de estarem curtindo pra burro, açodadamente, adoidadamente.

E foi assim, o show teve muito mais energia e força do que o que aparecia no DVD e do que o do Vivo Rio. O público estava mais perto, era mais quente, não eram velhos com grana pra ser escorchada pela Vivo, era a garotada que frequenta a parte cabeça da Lapa, cheia de disposição e não acreditando (como eu) que lhes fosse dada ainda a graça de verem a banda que idolatravam em seu lugar favorito, em seu bairro favorito, tocando suas músicas favoritas, os maiores sucessos da carreira (em vez de tentar impingir as faixas de um disco novo, he, he) com tanta garra e disposição. Eu, por exemplo, nunca tinha imaginado que "Ando meio desligado" pudesse ser uma música tão pesada, tão rock'n'roll num palco - confira o vídeo abaixo, que eu já tinha postado na época mesmo. E o non plus ultra ainda foi quando eu virei por lado durante "Ela é Minha Menina" e vi uma menina de seus dezenove anos, branquinha, magrelinha e baixinha (embora longilínea), com cabelinho curtinho, bem uma gracinha moderninha mesmo, vestida apenas da cintura pra baixo, com seus simpáticos peitinhos ao léu, como diriam em Portugal. Segundo a Suzy, ela passara pouco antes com o namorado pela gente, com ela entusiasmada comentando, "vamos tirar os dois, vamos tirar os dois", concluindo depois a Suzy que ela se referia às camisas de ambos, sem se tocar que ela causaria muito mais comoção que o garoto. E o clima estava tão Woodstock-não-morreu que ela assistiu ao resto da apresentação toda seminua e, depois do bis, depois de acabado, quando eu e Suzy dirigíamo-nos para a saída, ainda passamos por ela conversando calmamente com os amigos com os seios ainda livres e desembaraçados.

Ah, sim, como falei, eles tocaram "Minha Menina" e também fizeram uma versão bem mais pesada do que a que tinha no DVD. Foi de arrepiar. Show de rock'n'roll mesmo. Solos de guitarra (isso NÃO É proibido). Sérgio Dias se atirando ao chão tocando a Guitarra de Ouro (o que me assustou, afinal ele podia dar um jeito na coluna ou no joelho e acabar tudo, afinal ele tem 60 anos), solos de percussão, enfim, um showzaço. Os melhores shows da década, pra mim. Do caralho. E o de sexta ainda foi melhor, mesmo descontando os peitinhos. Pena que logo depois a história se repetiu e a cantora foi cuidar da carreira solo e Arnaldo Baptista soltou uma nota pra imprensa dizendo que estava saindo pra dar mais atenção à sua banda Patrulha do Espaço. Era 1973 outra vez!

Pelo menos naquelas duas noites no Circo Voador, era. Não era um bando de velhos tentando faturar algum, mas uma banda afiada, pesada e cheia de gana com gás suficiente pra botar uma garotada dançando por duas horas e dez do rock pesado e genial da maior banda do gênero a surgir neste país.

1 comentário:

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