janeiro 13, 2010

A Crise da Imprensa Escrita

Algumas postagens abaixo, linquei uns artigos dos anos 40 com conselhos pros americanos que estavam comprando sua primeira tevê, que então deveria parecer quase um aparelho milagroso. Quem sabe inglês vai se divertir porque as dúvidas dos consumidores eram exatamente as mesmas que os compradores em potencial das telas finas de hoje: qual o tamanho de tela mais indicado? Vou precisar de um conversor? Se eu comprar agora, não vai ficar logo obsoleta? Não é melhor esperar os preços baixarem um pouco? Qual modelo tem melhor taxa de contraste?

Clique na imagem para ampliar. Infográfico para mostrar quantas pessoas podem ver uma tevê, desde o modelo de 3 polegadas até o de 12 e o de RETROPROJEÇÃO de 16 polegadas (menos do que o monitor mais vendido para computadores hoje em dia). Retroprojeção era aquela tecnologia pra telas grandes antes do plasma e do cristal líquido, que deixava as imagens sem contraste e nitidez. Note também que já se usavam bonequinhos estilizados engraçadinhos.


Mas estive pensando um pouco mais sobre o assunto e me toquei de outra coisa: a linguagem dos artigos, fosse falando sobre como a tevê agora vai mesmo, o que você precisa saber pra comprar uma, ou o que a sua família precisa saber sobre ela. Eles foram escritos HÁ MAIS DE SESSENTA ANOS e ainda assim parecem um guia da VEJA pra aquisição de sua primeira tela grande. Até os infográficos têm funções e intenções parecidas.

Desde essa época, a tevê explodiu, a Internet explodiu, surgiu o vídeo-cassete, que libertou a gente da programação dos canais, a tevê a cabo, e as outras mídias, como cinema, rádio e literatura, mudaram e experimentaram radicalmente com sua linguagem. Mas a imprensa escrita ainda escreve artigos como há seis décadas. A tecnologia permitiu gráficos mais vivos, mas o design básico da página permanece o mesmo. Será que em 1889, sessenta anos antes de 1949, as revistas pareciam com as desses artigos?

O público mudou radicalmente de 1949 pra cá, mas os textos de revistas e de jornais permaneceram os mesmos. Não é só concorrência justamente da televisão e da Internet que está acabando com os periódicos impressos. Ou eles não sabem mais se renovar, ou sua forma atingiu a perfeição e, como todos sabemos, depois do apogeu vem a queda. Será que não temos respostas para a modernização da linguagem da imprensa escrita além de diminuir o texto ou botar espaços para comentários em sua versão internauta?

Essa decadência vem sendo acelerada pela Internet, mas esse fantástico fenômeno que visto daqui parece ter sido o único avanço tecnológico nesses sessenta anos comparável à revolução televisiva (o VHS, que nos libertou do jugo dos programadores, não chegou a tanto) nao é a única causa. Lá nos anos 80, adolescentes do São Bento, onde eu estudava, o melhor colégio do Brasil segundo o Enem, já não liam jornais. Na Escola de Comunicação da UFRJ, a melhor do Rio de Janeiro, teoricamente com a elite dos estudantes da área, quando os professores perguntavam quem lia jornal todo dia, menos de metade dizia sim. A Cláudia, poeta de primeira, texto ótimo, inteligente, leitora voraz de romances clássicos, frequentadora de sebos, por exemplo, não lia, e eu não entendia como. Na época dizia-se que a responsável era a tevê e seus telejornais. Talvez hoje, como então, estejamos todos enganados. É a falta de verdadeira renovação de uma forma aperfeiçoada quase já há um século e que se mostra incapaz de arrebanhar um público formado de maneira completamente diferente.

Só pra constar: em minha humilde opinião, quem mais está fazendo para renovar a linguagem jornalística impressa hoje em dia são os jornais populares. Ao contrário da crença da classe média, alguns são muito bem escritos num formato mais dinâmico, numa tentativa que vai muito além de simplesmente diminuir o tamanho do texto pra não afugentar o leitor.

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