A Copa do Mundo é o maior evento esportivo do Universo conhecido. Mais de 33 bilhões de espectadores assistiram aos jogos da Copa da França. A audiência média de cada partida é de 314 milhões de pessoas. Ela é acompanhada por mais gente do que as Olimpíadas, onde a cada quatro anos o futebol é invariavelmente o esporte que tem maior público, mesmo disputado por times sub-23.
E por que o futebol é tão mais popular? Basquete exige uma quadra lisa, dura e nivelada e uma bola saltitante (e jogadores também). Vôlei, além de não ser um esporte de contato, precisa de uma boa marcação das quatro linhas, uma rede e, é claro, um lugar onde amarrá-la (e jogadores saltitantes). E, para sonhar seguir uma carreira nestes esportes, é preciso ser alto. Bem alto. Futebol não precisa de nada disso. Pode ser jogado na areia, na terra, no cimento, na grama, no asfalto. A bola pode ser de plástico ou mesmo improvisada com meias e papel. Duas pedras marcam o gol. A altura da trave superior pode ser medida pela altura do goleiro, o que vai dar muita discussão, mas não vai impossibilitar o jogo. É na rua? Se passar gente todo mundo pára onde está. Se a bola ficar presa debaixo de um carro, é de quem tocá-la primeiro e o outro time tem que ficar a três passos de distância. E qualquer um pode jogar. Qualquer um?
Qualquer um. Qual técnico dispensaria um jogador gordinho? Pode ser um Maradona ou um Puskas. Baixinho? Pode ser um Romário. Franzino? Pode ser um Zico ou um Bebeto. Com as pernas tortas? Pode ser um Garrincha. Qualquer um pode tentar ser um grande jogador. O único requisito é talento. Foi assim que um país que em 1958 era ainda muito pobre e subdesenvolvido pôde se tornar campeão do mundo e seguir ganhando Copa após Copa até ter a única seleção cinco vezes vencedora - o único pentacampeão.
O Penta também é brasileiro, mas os amigos dele não o chamam assim por causa das cinco Copas e sim para abreviar o quanto ele é chato. Ele também não tem talento para o futebol, mas com toda a agitação da Copa, resolveu fazer um campeonato no bairro e montar para um time para ganhar.
Só esqueceu de avisar aos outros.
A PRÉ-HISTÓRIA DO FUTEBOL
Pode parecer incrível, mas o futebol é ainda mais antigo do que o Romário. Há quatro mil anos o imperador da China, Huang Ti, botou seus soldados para correr atrás de uma bola de couro recheada de cortiça, supostamente para treiná-los para a guerra, embora alguns eunucos da corte dissessem que era porque as tardes de domingo eram muito chatas no palácio e assistir às partidas era divertido. O jogo se chamava tsu-chu e tinha como gol um par de estacas cravadas no chão. É difícil de imaginar exatamente para que tipo de combate servia esse treinamento, mas como os chineses estão por aí até hoje - e em enorme quantidade -, deve ter funcionado bem.
Os gregos também tinham sua própria versão, o epyskiros. Entre nove e quinze atletas em cada time chutavam uma bexiga de boi cheia de areia através da meta. Os romanos adaptaram o jogo, batizando de harpastum, também para treinamento militar, mas, como eles levavam guerra mais a sério, a pancadaria estava liberada para derrubar quem carregasse a bola. Parece fazer mais sentido, mas acabou trabalhando contra as famosas invencíveis legiões, pois o esporte ficou tão popular que os soldados deixavam suas tarefas de lado para ir jogar!
Os romanos levaram o jogo para os territórios conquistados e foi assim que ele chegou à Bretanha, a futura Inglaterra, onde o futebol moderno seria inventado. O harpastum foi sofrendo muitas modificações com o tempo, até que por volta do século XII virou uma comemoração de Carnaval, com os habitantes das cidades saindo pelas ruas chutando uma bexiga de boi (e tudo mais que visse pela frente, invadindo até as casas), o que logo acabou se organizando em um tipo de competição. E uma competição tão popular e bagunçada que o escritor Philip Stubbs descreveu-a ainda no século XVI como "um jogo bárbaro, que só estimula a cólera, a inimizade, o ódio, a malícia, o rancor." E ele nem conhecia a Mancha Verde.
Nessa época também havia outros jogos de bola fazendo sucesso pelo mundo. Na Itália existia o calcio, nome pelo qual se conhece o futebol até hoje. E na América Central havia o tlachtli dos maias, ancestrais dos mexicanos. A competição era tão importante que os vencedores eram considerados deuses e sacrificados ao final da partida, para se juntarem aos seus iguais no Céu. Talvez por causa disso só só recentemente a seleção mexicana tenha começado a se destacar. Os jogadores devem ter feito anos de análise para acreditarem que nada lhes aconteceria se derrotassem o adversário.
Enquanto isso, na Inglaterra, o futebol foi adotado pelas escolas de Covent Garden, Strand e Fleet Street como atividade física. Logo outras instituições estariam fazendo o mesmo e no século XIX surgiria o jogo que conhecemos já praticamente com todas as regras que usamos até hoje. Mas, para chegar até lá ele teve que esperar pela Revolução Industrial e por... Napoleão.
A ORIGEM DO FUTEBOL MODERNO
Pode parecer coisa de maluco, mas um dos causadores da explosão do futebol foi Napoleão. E não foi porque era um esporte em que baixinhos marrentos e geniais podiam se destacar. A partir do século XVIII, principalmente depois da invenção da máquina a vapor, as fábricas aumentaram muito sua produção e começou a sair uma invenção atrás da outra. Era a Revolução Industrial, que iria fazer a Europa mais rica e próspera do que em toda sua história e tirar muitas e muitas pessoas da pobreza.
Na mesma época Napoleão conquistou quase todo o continente. Até aquela época, os países que iam à guerra contratavam guerreiros profissionais para seu exército, juntavam a um bando de bêbados violentos e punham todos sob o controle de aristocratas engomados. Todo esse povo se deslocava até o campo de batalha caminhando lentamente e trazendo junto carroções e carroções com provisões e comerciantes para vender bens aos soldados.
Pois o baixinho genial da França mudou isso tudo. Alistou o povo - os cidadãos franceses -, deu-lhes armas e fê-los marchar velozmente em perseguição às tropas inimigas, obtendo suas provisões pelos lugares que passavam. Foi assim que durante quase vinte anos Napoleão foi o pesadelo dos monarcas da Europa. Depois que todo mundo se juntou contra ele e conseguiram derrotá-lo, os outros países resolveram fazer um exército igual. E, para isso, seus cidadãos teriam que estar em boa forma física. Por sorte, com a Revolução Industrial eles estavam bem melhor alimentados. Só faltava um estímulo para fazer o pessoal correr. E eis que surge o futebol.
Quando o futebol foi adotado pelas escolas inglesas, apesar de não mais invadir a casa de ninguém ainda guardava os chutes sobre os sujeitos que carregavam a bola. As regras também mudavam de instituição para instituição. Em alguns lugares a bola podia ser pega com as mãos, além dos pés; em outras era proibido o uso de pés e só se podia jogar com as mãos. Em comum apenas a regra de que era proibido passar a bola para a frente. O jogador que a carregasse tinha que ir até o gol driblando sem parar. Por isso, antes de você reclamar com o seu companheiro de time que ele não passa a bola, verifique antes se ele usa expressões como "cáspite" ou "vá pentear macacos" ou usa suíças (e não é o Oliver Kahn). Talvez ele não seja fominha, pode ser que seja um viajante do tempo.
É claro que um jogo assim podia até ser divertido de jogar numa arruaça de Carnaval, mas não num colégio inglês de rígida disciplina. Desse jeito fazia muito mais sentido carregar a bola com as mãos e foi assim que surgiram primeiro o rugby e depois o futebol americano. Mesmo assim, quando as regras foram unificadas em 1863, manteve-se a proibição do passe. Era a regra do impedimento: "quando o jogador de um time chutar a bola, qualquer companheiro que esteja mais próximo do gol adversário está impedido de participar da jogada". Mas não durou muito. Ainda em 1866 ela foi mudada, permitindo o passe, desde que o atleta que o recebesse tivesse três adversários entre ele e a linha de fundo. A partir daí o futebol passou a parecer muito com o que se joga até hoje, com dribles, passes, cruzamentos.
BOX
A regra do impedimento existe para evitar o comportamento antiesportivo que era o atacante querer fugir da marcação. A regra do Colégio Eton, por exemplo, mencionava que um jogador era considerado "se esgueirando" se tivesse menos que três adversários entre ele e o gol.
A primeira federação nacional foi a inglesa, criada justamente com a unificação das regras em 1863. Em apenas 8 anos 50 clubes já faziam parte dela. A FIFA, a Federação Internacional de Futebol, foi fundada em 1904. Desde então o jogo só vem se popularizando e espalhando pelo mundo inteiro, apoiado na simplicidade de suas 17 regras, em comparação com jogos como o futebol americano, que tem 2 volumes para as regras do jogo.
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