maio 18, 2012

Ei, Mãe, Óia eu no Globo otraveis!

Não faz nem um mês que saiu uma página Logo minha no Globo, agora, artista multimídia que sou (hmmm...), é a vez de um vídeo (codirigido com Dario e Roger). Está hoje na revista vespertina Globo a Mais, exclusiva pra iPad, mas amanhã deve estar disponível em algum lugar no saite do jornal. Assim que eu descobrir, posto aqui. Esse aí embaixo é o e-meio que mandei pra apresentar o curta, do qual quase nada foi aproveitado (o Roger mandou um também). Bem, crianças, quem não tem um iPad, pode ter ideia do que vem por aí no blogue com o texto aí abaixo:

Pode soar incrível, mas 25 anos atrás era caro fazer vídeo. Sim, era
inacreditavelmente mais barato do que até um super-8, mas, por
exemplo, comprar uma das primeiras volumosíssimas câmeras VHS que
dispensavam carregar também um gravador a tiracolo custou boa parte do
meu primeiro ano de salário como funcionário público – ainda bem que
eu morava com meus pais. E ainda bem que eu cobrava quase um salário
mínimo para filmar batizados, casamentos e formaturas com ela. Era um
mundo mais selvagem e belo.

Com uma câmera na mão e nada na cabeça, eu, Dario e Roger, cansados da
sequência de comédias satirizando gêneros que havíamos feito,
resolvemos mostrar que, se o negócio era vídeo cabeça, também sabíamos
fazê-lo. Armados com um refletor de 500 watts, algumas lâmpadas
caseiras e uma valente (e pesada) Panasonic NV-M3, capaz de imagem
quase inacreditável para um VHS – muito inferior à de um iPhone –
Roger adaptou um conto meu, mudando praticamente tudo e mantendo
virtualmente apenas um duelo que na minha historinha era um sonho, mas
na versão de nosso amigo (futuro) filósofo, era um mito da Criação.

Sim, pois para ele somente a percepção do Outro e da incompletitude
leva à criação. O Desejo é a o motor e a serpente do Paraíso e é a
frustração e a negação que vão dar origem a um big bang criativo. Ou
pelo menos era isso que ele dizia para impressionar as calouras
(éramos todos estudantes daquela universidade da última crônica do
Arnaldo Bloch).

Hoje em dia a chiquérrima Diesel tem slogans como “Be
stupid”, mas nos estranhos anos 80 até roqueiros queriam citar
filósofos existencialistas. Por algum motivo, filmes antigos – mudos,
monocromáticos, obscuros, estrangeiros – entraram em moda com o povo
cabeça. Expressionismo alemão, a raiz estética do filme noir populado
por Bogart & amigos que tanto amávamos, era uma de nossas
preferências. Daí o duelo se inspirar claramente nas sombras
germânicas dos anos 20. Sem nenhum recurso financeiro, é claro.
Tinhamos a ideia de que, se fizéssemos sucesso, chamaríamos ao nosso
movimento “nadismo” - Uma câmera na mão, nada na cabeça e necas no
bolso.

3c273 é o título da coisa. Ilhas de edição, mesmo para VHS, eram
caríssimas e tinham que ser alugadas – e eles cobravam ainda mais do
que eu para filmar casamento. Para reeditar esse filmete para caber
nesse formato de iPad, usei um velho laptop, adequadamente no meu
colo, enquanto conversava no Caralivro e assistia ao futebol na tevê.
Esse talvez seja o meu maior arrependimento de não ter esperado uns 20
anos para nascer. Já não precisávamos pagar os tubos pela película
(mesmo em super-8), mas VHS também não era barato de editar e
sincronizar som era uma tremenda dificuldade num formato sem trilha
especial para isso (daí nossa preferência por vídeos mudos). Mas num
mundo como o de hoje, onde todo mundo (de classe média) tem em casa
uma central de pós-produção e telefones filmam em alta definição,
nossa turma certamente faria um longa metragem por semana. É uma pena
que a gente não tenha tempo para tanto, mas é da frustração que nasce
a criação e bla bla bla...

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