abril 28, 2010

A História da Copa do Mundo - A Copa de 1950

Clique aqui para ler a história completa até agora, incluindo este capítulo, os craques da Copa de 1950, a evolução tática, e outros...

O SONHO NÃO ACABOU, NA VERDADE ESTAVA APENAS COMEÇANDO

A II Guerra Mundial, de 1939 a 1945, interrompeu a Copa. O Brasil havia apresentado sua candidatura para 1942, disputando com a Alemanha. Jules Rimet passou aqui no primeiro semestre de 1939 e encantou-se com a terra. Mas em 1o. de setembro, antes que pudesse viajar para a Alemanha para conhecer a infra-estrutura do país, estourou o conflito. Rimet levou a FIFA para a Suíça, para evitar que os nazistas a encampassem quando invadiram a França, e até hoje a sede da organização lá permanece.

Em 1948 nenhum país europeu estava interessado em organizar o torneio. O Brasil, durante a guerra, ficara sem poder importar todos os produtos que vinham da Europa e, sem opção, começou a produzi-los aqui mesmo. Além do mais, com toda a destruição dos combates, os europeus passaram a ter que comprar quantidade bem maior de alimentos e minérios para sua indústria, que os brasileiros tinham para vender. Como consequência, ao fim do conflito o Brasil tinha liquidado sua dívida externa, estava com dinheiro sobrando e começara definitivamente a se tornar uma nação industrializada. E para mostrar essa pujança toda para o mundo, nada melhor do que hospedar - e ganhar - uma Copa.

Sem outros candidatos disponíveis, a FIFA deu ao Brasil o direito de sediar o campeonato. Em um ano foi construído o maior estádio do mundo. Na verdade levou menos de um ano e foi tão rápida a construção que muita gente não foi ver a Copa porque tinha certeza de que aquilo iria cair. Ele não caiu em sua inauguração em 16 de junho de 1950. O mundo é que cairia exatamente um mês depois.

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A construção do Maracanã foi tão grandiosa e apressada que quantidades imensas de pastilhas azuis para o revestimento do estádio sobraram nos canteiros de obras. Elas acabaram sendo roubadas e, a partir da década de 1950 até hoje, começou uma tradição nos subúrbios cariocas de casas revestidas com pastilhas.

Os brasileiros sugeriram à FIFA uma mudança no regulamento. Em vez de jogos eliminatórios, a Copa de 1950 teria apenas jogos classificatórios. Ou seja, os participantes seriam distribuídos em 4 grupos. Em seguida os vencedores de cada chave jogariam todos entre si e quem fizesse mais pontos seria o campeão. Os europeus estranharam, mas acabaram aceitando. Não que eles viessem em grande quantidade. A maioria estava ocupada reformando a casa depois da passagem do furacão Hitler. Os argentinos, então em grande fase, não vieram porque o último Brasil x Argentina em 1946 tinha acabado numa pancadaria tão grande que eles temiam o que pudessem fazer aos seus jogadores. Mas, grande novidade, a Inglaterra, que depois da guerra bem que estava precisando dar uma arejada, iria pela primeira vez mandar seu time. E o mundo inteiro pôde ver que aqueles anos todos trancados em casa não tinham feito bem à seleção inglesa.

Numa das maiores zebras da história das Copas, os ingleses perderam para os Estados Unidos por 1 x 0. O time dos americanos era composto de imigrantes e seus descendentes e nenhum deles era profissional. Tão convictos estavam de sua derrota que passaram a véspera do jogo se encachaçando numa visita a uma fazenda, achando que não faria diferença se ficassem em casa descansando. Mas acabaram ganhando, motivando uma famosa manchete do Times: "Morreu e foi sepultada ontem num campo da distante Belo Horizonte a outrora respeitável seleção inglesa". Os britânicos perderam também para a Espanha, que venceu a chave.

O Brasil estreou contra o México e, apesar de ganhar por 4 x 0, não convenceu. O jogo seguinte seria em São Paulo e Flávio Costa, para agradar, escalou um time com mais paulistas. A "diagonal" do Professor troumbou de frente com o "Ferrolho" suíço e a partida foi um sufoco, acabando em 2 x 2. Precisando vencer, de novo no Rio e com a volta de Zizinho, Flávio descartou seu esquema. Voltou ao WM clássico e finalmente a seleção agradou, vencendo sua chave com uma vitória de 2 x 0 sobre a boa equipe da Iugoslávia, gols de Ademir e do Mestre Ziza.

Os outros grupos não tinham quatro times, por falta de competidores. Num deles a Suécia desclassificou Itália e Paraguai. O outro só tinha Uruguai e Bolívia, por causa do sorteio. A sorte começava a pender para os uruguaios. Eles não tiveram nenhum trabalho para fazer 8 x 0 nos bolivianos e se mandarem para a segunda fase.

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A Copa de 1950 foi a primeira em que os jogadores passaram a usar números atrás da camisa para facilitar a identificação.

A SEGUNDA FASE

Para os uruguaios deve ter parecido um daqueles exageradíssimos dramalhões, com final feliz inacreditável e tudo. Infelizmente para nós alguém tinha que ser escalado para ser o vilão todo-poderoso e pusilânime. E para fazer bem esse papel, deveríamos primeiro mostrar-nos invencíveis. Foi o que fizemos.

Contra a Suécia o Brasil fez inacreditáveis 7 x 1, a maior goleada brasileira em Copas até hoje. Ademir marcou quatro vezes, igualando a marca de Leônidas contra a Polônia. E sem prorrogação. Os próximos adversários, os espanhóis, provavelmente tinham espiões assistindo ao jogo, perceberam como o artilheiro jogava e devem ter feito algum esquema especial para marcá-lo, já que ele passou em branco na partida. Infelizmente para eles o resto do ataque fez seis gols. Final, 6 x 1, comprovando o que a maioria dos analistas dizia antes do jogo, que não iria ser a moleza que tivéramos contra os suecos. O Maracanã inteiro começou a cantar espontaneamente a marchinha "Touradas em Madri", de Braguinha, um sucesso da época. Os brasileiros mostravam seu lado todo-poderoso.

Foi depois dessas exibições que a imprensa mundial se encantou com o Brasil, com seu estilo ofensivo e vibrante, chegando a comparar Zizinho, o maestro da equipe, a Leonardo da Vinci, pintando com seus pés obras de arte na imensa tela que era o Maracanã. Nos outros jogos o Uruguai empatara com a Suécia (2 x 2) e vencera com dificuldades a Espanha por 3 x 2. Os suecos se despediram com uma vitória de 3 x 1 sobre os espanhóis. O jogo decisivo seria Brasil x Uruguai e os brasileiros tinham a vantagem do empate. Tudo e todos estavam contra os uruguaios.

Os jogadores da seleção brasileira, até então hospedados no longínquo Joá, para terem tranquilidade, foram transferidos para o estádio do Vasco, bem mais perto do centro da cidade. Durante toda a noite anterior ao jogo, políticos em busca de promoção, aproveitadores, bajuladores, jornalistas e torcedores acorreram a São Januário. O jornal A Noite estampou de véspera a manchete "Estes são os campeões do mundo", sob uma foto do time. Depois de sua aparente onipotência, os brasileiros mostravam sua pusilanimidade. Os vilões perfeitos. Ninguém lembrava que dois meses e meio antes, no Pacaembu, o Uruguai vencera o Brasil por 4 x 3.

Antes da decisão os jogadores foram levados por Flávio Costa para assistir a uma missa. Ficaram inexplicavelmente de pé por duas horas. No estádio as roletas foram quebradas. O público presente era muito maior do que os 173.850 pagantes. O Maracanã resistiu. A seleção brasileira não.

16 DE JULHO DE 1950 - O DIA EM QUE O MUNDO ACABOU

O primeiro tempo transcorreu sem gols. Tudo bem, a vantagem do empate era da gente. E os uruguaios correram atrás o tempo todo. Cederam 19 escanteios. Era só uma questão de tempo. O que ficou provado logo no primeiro minuto do segundo tempo, quando Friaça abriu o escore. Agora o Uruguai precisava de dois gols. Teria que partir para a frente e se abriria aos contra-ataques do Brasil.

Mas os contra-ataques não saíram. Talvez a equipe já se sentisse vitoriosa e tivesse se desconcentrado da partida. Não pensava mais no que estava ocorrendo em campo e assim não tinha mais o mesmo entusiasmo para correr. No segundo tempo de um jogo o corpo já está cansado e é preciso motivação para fazê-lo continuar correndo. Se o atleta não estiver concentrado no que está fazendo faltam-lhe pernas.

Não era o caso do Uruguai. Nas duas partidas anteriores o time saíra atrás e fora buscar o resultado, o que mostrava que os atletas estavam altamente motivados e em excelente forma. Quando um time vira seguidamente os jogos no final significa duas coisas: ou seus jogadores têm uma técnica superior que prevalece quando os adversários estão cansados demais para marcá-los ou têm um preparo físico muito melhor, que lhes permite continuar correndo quando os oponentes estão exaustos. Os uruguaios se encaixavam nos dois casos. Tinham defensores dedicados e atacantes velozes e habilidosos. E foi com um deles que começou a tragédia brasileira.

Ghiggia, o ponta-direita da Celeste, que havia marcado gols nos três jogos anteriores, chegou em velocidade à linha de fundo dentro da área e cruzou para Schiaffino marcar, aos 22 minutos. O placar ainda favorecia o Brasil, mas o estádio inteiro se calou. Aquele gol não estava nos planos de ninguém (exceto dos uruguaios, é claro). E quem acha o caminho para o gol uma vez acha outra. Um placar de 0 x 0 é muito mais confortável para quem precisa do empate do que 1 x 1. O time brasileiro começou a jogar preocupado, pensando como estivera tudo tão bem até aquela jogada de Ghiggia.

E ele fez outra treze minutos depois. Passou velozmente por Bigode e chegou à linha de fundo. Barbosa, o goleiro brasileiro, pensando que ele cruzaria novamente para um companheiro, deixou o gol para cortar o cruzamento. Ghiggia chutou entre ele e a trave e se tornou o primeiro jogador de um time finalista a marcar em todos os jogos de uma Copa.

Os brasileiros se desesperaram, se desorganizaram e não conseguiram empatar outra vez. O mundo acabou. Os uruguaios deram o nome de Maracanã a uma rua em Montevidéu e a uma tribuna do Estádio Centenário. Durante vários dias a melancolia podia quase ser sentida, pesada, no Rio de Janeiro. Outros dizem que era só a umidade.


EM BUSCA DE UM CULPADO

Ghiggia mesmo disse que em futebol, quando acaba um jogo começa a busca pelos culpados. Numa época ainda de preconceitos, Barbosa, o primeiro goleiro negro da seleção e um dos maiores da história brasileira, foi o primeiro. Qualquer garoto aprende logo que jogando no gol ele deve sempre se preocupar com o chute de quem está com a bola e não com o passe ou cruzamento. Se ele não tivesse saído o extrema não poderia ter chutado entre ele e a trave. Todas as outras opções disponíveis para o uruguaio, tais como realmente cruzar de novo, chutar cruzado ou fechar para o meio, escaparam aos críticos, e Barbosa morreu em 2000 magoado por ser lembrado não como o grande jogador que foi, mas como o homem que tomou o gol entre a bola e a trave.

Flávio Costa achava que o culpado era Juvenal, o zagueiro central, que deveria ter coberto Bigode. Mas foi o lateral quem ficou como o principal vilão no imaginário popular. Ele estaria jogando com medo, assustado, depois de levar um tapa do capitão uruguaio Obdulio Varela. Na verdade o centromédio passara a mão de leve no pescoço do defensor brasileiro, mas sem videotapes para mostrar o que realmente acontecera, a lenda cresceu e se tornou tão incontrolável quanto o Penta. E com ela cresceu também a de Obdulio Varela, o homem que arquitetou nossa derrocada, a alma da vitória platina, o comandante que nos faltara, o que nos impedira de ganhar nossa primeira Copa.

1 comentário:

Anónimo disse...

não gostei pra falar a verdade odiei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!