abril 28, 2010

A História da Copa do Mundo - Os Craques da Copa de 1950 parte II

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OBDULIO VARELA

Obdulio Varela passou o jogo inteiro gritando com seu time e, principalmente, com os brasileiros. Provocou-os, passou a mão no pescoço de Bigode, berrou o tempo inteiro e empurrou os jogadores para a frente, para a vitória. Conta a lenda que começou seu trabalho na véspera, trazendo para a concentração diversos exemplares de A Noite que trazia a seleção brasileira sob a manchete "Esses são os campeões do mundo". Juntando os companheiros, ele lhes teria ordenado que cuspissem nos jornais1.
Obdulio Varela era conhecido como "El Negro Jefe" pela sua liderança. Nascido em 1917, ainda com 37 anos era titular e capitão da Celeste Olímpica na Copa de 1954. Contundido nas quartas-de-final contra os ingleses, ficou de fora quando os uruguaios foram eliminados na prorrogação pelos húngaros, a sensação do certame. Ele nunca perdeu um jogo de Copa do Mundo. Muitos analistas crêem que com ele em campo a invencibilidade de quase seis anos da seleção húngara não teria chegado até a final.
Obdulio Varela foi um dos últimos e melhores centromédios atacantes. Já em 1950, na Hungria e no Brasil, novos esquemas estavam surgindo que relegariam seu tipo de jogo ao passado. Mas antes disso ele teve tempo de inscrever seu nome na história.
Obdulio faleceu em 1996. Ele marcou dez gols em 49 jogos pela Celeste Olímpica.

GHIGGIA

Ghiggia nasceu em 1926 e estreou na seleção uruguaia justamente quando ela venceu o Brasil por 4 x 3 no Pacaembu, 71 dias antes da decisão de 1950. Como em tragédia grega, um presságio do futuro: o novato marcou um dos gols.
Rápido, objetivo, com chute forte e bem colocado, o ponta-direita foi um dos melhores jogadores da Copa e o atacante mais decisivo, marcando gols em todas as partidas, fato só repetido por Jairzinho em 1970. Com todas suas qualidades, sua carreira com a Celeste não durou muito. Em 1952 agrediu um árbitro e para escapar de uma suspensão que poderia ser de anos, transferiu-se para o Roma, da Itália, conquistando em 1961 o campeonato europeu de clubes, atual Liga dos Campeões. No mesmo ano transferiu-se para o Milan, onde jogavam os brasileiros Dino Sani e Mazzola, e foi campeão italiano. Numa época em que as seleções européias estavam repletas de jogadores naturalizados, Ghiggia chegou a jogar pelo time da Itália em cinco partidas, entre 1957 e 1959, marcando um gol.
Ghiggia voltou para o Peñarol em 1963 e encerrou a carreira em 1968, aos 42 anos. Dois anos depois foi levado como talismã pelos uruguaios para assistir à semifinal contra o Brasil. Não deu tanta sorte fora de campo, sem uma bola para chutar entre Félix e a trave.
Ghiggia está vivo, acha que o futebol atual é muito defensivo e que Ronaldo, Ronaldinho, Zidane e Henry são os melhores do mundo. E que, pela ordem, Pelé, Di Stefano e Puskas foram os melhores da história.

ADEMIR

"Ademir pegou a bola e desapareceu/o goleiro está procurando onde a bola se meteu", cantava a torcida do Vasco (e, por algum tempo, a do Fluminense) nos anos 40 e 50, quando seu time era conhecido como "Expresso da Vitória". A marchinha fazia referência à jogada típica do atacante, a arrancada com a bola dominada, conhecida na época como "rush", finalizada com força e precisão já dentro da área.
Ademir não era um atacante driblador e clássico, mas era rápido, arrematava bem com os dois pés e dificilmente desperdiçava uma boa oportunidade. Como não precisava tomar grande distância da bola e nem mudar o passo para chutar, costumava surpreender os goleiros em suas finalizações, como Ronaldo na semifinal de 2002 contra a Turquia. Versátil e veloz, podia jogar em qualquer posição da frente.
Com seus "rushes", Ademir era o atacante perfeito para a "diagonal" de Flávio Costa. Jogando entre a linha média e o ataque, não precisava carregar demais a bola até chegar na grande área e tinha espaço para começar a jogada sem a marcação dos beques. Essa posição, na ponta do quadrado "entortado" de Flávio Costa, passou a ser conhecida como "ponta-de-lança", dando origem ao "número 1" e ao meia-atacante de hoje. Sua eficiência forçou à adoção de esquemas especiais que acabariam levando à marcação por zona e ao 4-2-4.
Ademir nasceu em 1922 no Recife e começou a carreira no Sport, onde o pai, vendedor de automóveis, era diretor de remo. Numa excursão ao Rio de Janeiro seu futebol chamou atenção e foi contratado pelo Vasco, clube com o qual seria sempre identificado. No entanto, teve uma passagem pelo Fluminense. Em 1946 o técnico Gentil Cardoso disse aos dirigentes tricolores, "dêem-me Ademir e eu lhes darei o campeonato". E ele deu. E o Vasco foi buscar de volta o ponta-de-lança.
Ademir continuou no Vasco até 1955 e voltou para o Sport, jogando como amador pelo clube até 1956. Ganhou praticamente tudo que disputou, sendo exceção a Copa do Mundo, da qual foi artilheiro, o maior até então, com 9 gols.
Ademir tornou-se jornalista e comentarista de futebol e faleceu em 1996.

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