fevereiro 08, 2011

O Sonho Acabou (Ou Não, Nicholas Negroponte?)

O Motorola Atrix, o celular que é um computador que é um celular, vai acabar sendo só mesmo mais um telefone. O grande atrativo do aparelho, à parte seu processador de dois núcleos de 1 ghz cada, eram as estações de docagem, que permitiriam transformá-lo num laptopzinho ou num computador de mesa, não vão fazer sucesso algum. Exatamente como eu havia temido nesta postagem, os preços das geringonças é o mesmo dos aparelhos com os quais compete, ou seja, ninguém vai se interessar pela coisa.



O preço do laptopzinho é de 500 dólares, ou seja, em real custaria 800 pratas, mais os impostos e o lucro do importador e vai fácil pra 1.500 merrecas e por essa grana dá pra comprar dois netbooks. E com disco rígido, várias portas USB e mais rápido, devido às placas dedicadas que não têm que dividir circuitos com telefones e usar como memória cartão micro SD. Comprando o celuba pela operadora, aprisionando-se a ela por dois anos, a estação de docagem sai por 300 dólares, ainda mais do que suficiente pra adquirir um netbook lá fora e ainda dá troco.

Até mesmo o suporte com saída HDMI e USB pra ligar o telefone num conjunto teclado/monitor/mouse está bem acima do que o consumidor vai estar a fim de pagar: a Motorola havia prometido que custaria 60 dólares, mas sua ganância falou mais alto e ao fim a engenhoca vai fazer parte de um kit com teclado e mouse e custar no total 190 dólares. Transformando em real e juntando o custo da importação, sai por 600 reais, mais do que suficiente pra comprar um computador sem monitor daqueles modelos básicos. Mas que ainda assim fazem bem mais do que o celular.

A graça da estação de docagem pra desktop era justamente aproveitar monitor, teclado e mouse velhos, daqueles que sobram quando você resolve comprar uma tela de LCD nova, ou um teclado sem fio, e ter mais um computador em casa, pra digitar texto, navegar pela internet e por mídia. Mas exatamente como eu havia falado, eles subestimaram sobremaneira a vontade das pessoas de ter esses bagulhos. Sai mais em conta você ter máquinas dedicadas pra cada uma dessas tarefas, a esse valor. Pelo jeito, essa primeira tentativa de convergência de processadores vai ter o mesmo destino do VHS que só tocava fitas, não gravava, e do adaptador pra transformar toca-fita de carro em aparelho de som da casa: o completo olvido. Valia a pena eles terem estudado o fenômeno do netbook, que trouxe ao consumidor algo que há aaaaaanos ele queria, uma máquina de escrever que acessava a internet. Enquanto isso, a cobiça dos sujeitos insistia em nos empurrar laptops completos, pros quais a maioria das pessoas não tinha um uso que compensasse o rombo que ele fazia no orçamento. Que hoje já não faz tanto, justamente pela concorrência do netbook.

Mas, peraí, comecei a elogiar o netbook e agora me lembrei da VERDADEIRA RAZÃO pela qual as empresas de informática finalmente desistiram de tentar nos fazer pagar uma fortuna por algo que a maioria de nós usaria apenas como máquina de escrever com acesso à Internet: o projeto ONE LAPTOP PER CHILD, do Nicholas Negroponte, uma ONG que partia do pressuposto de que a inclusão digital era fundamental para diminuir a desigualdade social e pretendia criar e distribuir pelo Terceiro Mundo computadores portáteis a um custo (que muitos achavam impossível) de 100 dólares. Justamente quando os primeiros protótipos começaram a sair da linha de montagem, a ASUS usou um conceito semelhante pros seus minilaptops. E, quando esse segmento de mercado começou a crescer à base do barato (na verdade, grátis) Linux, a Microsoft ressuscitou a contragosto o Windows XP. Na verdade, os herdeiros de Bill Gates estavam doidos pra enterrar logo esse sistema operacional pra empurrar pela nossa garganta o impopularíssimo Windows Vista, mas pra conter seu concorrente gratuito tiveram que buscar às pressas algo que rodasse em máquinas menos potentes. Foi preciso um trabalho de pesada maquiagem e marketing pra relançar o Vista como Windows 7 e ainda hoje montes de pessoas preferem o XP. Algumas que compram máquinas com o 7 simplesmente o retiram pra instalar o XP!

Ou seja, basicamente, a mudança de paradigma e de conceito não veio de nenhum dos gigantes da informática, mas de uma ONG sem fins lucrativos e sem tantos recursos assim pra pesquisa, mas que estava realmente preocupada em criar uma máquina mais barata e popular. Tá bom, depois é só liberar tudo que o progresso é inevitável... é sempre bom lembrar, afinal, que o computador foi criado por encomenda do exército pra calcular tabelas de artilharia... é sério! Mas isso fica pra depois, numa postagem sobre guerra e canhões.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pra mim a vantagem desse aparelho é utilizar o dock ligando numa TV grande e tendo a comodidade de um teclado e mouse s/ fio.
Todo equipamento diferenciado e com características únicas tendem a ter um custo elevado, pois foram feitos para atender maníacos por tecnologia ou exibicionistas que não sabem como aproveitar a tecnologia, mas querem estar com tudo que é mais caro na mão.
Pra mim resta aguardar cair de preço para tê-lo.
Tenho um motorola dext que utilizo-o ao extremo em tudo que me oferece e meu próximo upgrade é um samsung galaxy s.