junho 25, 2008

Sic Transit Gloria Mundi

Onde foram parar esses grandes sucessos?

Um Homem, Uma Mulher, Uma Noite


Quando a Abertura do general Figueiredo liberou as peças e os filmes que haviam sido censurados, lá por volta de 1980, imediatamente os filmes políticos de Costa-Gavras (o cineasta do recente e brilhante "O Corte") encheram as telas. Z, Estado de Sítio, Seção Especial de Justiça... nos circuitos de cinemas de arte, é claro. Mas em 1983 ele fez uma fita americana, com Jack Lemmon e Sissy Spacek, detonando o golpe de Pinochet - Missing - que foi indicada ao Oscar e levou umas estatuetazinhas pra casa. Então, na rabeira desse sucesso comercial, alguém lembrou de desencavar um longa dele sem cenas de ideologia esquerdista explícita, que contava uma história de amor parecida com aquelas clássicas fantasias intelectuais de auto-piedade, destino e afins. E ainda tinha a maravilhosa Romy Schneider. No Brasil o título foi UM HOMEM, UMA MULHER, UMA NOITE.

O filme foi, dentro de seus padrões, um inesperado sucesso. Após semanas e semanas em cartaz, ele ficou em exibição no Paissandu, diariamente, várias sessões ao dia, DURANTE MAIS DE UM ANO. Eu fui um dos poucos pseudo-intelectuais que conseguiu sobreviver à insistência dos programadores de cinema cabeça pré-Estação e não o vi. TODO MUNDO foi assistir.

Mas a estética do filme era obviamente setentista e mais ou menos em 1984, 1985, estava surgindo em Botafogo a primeira sala do que hoje é conhecido como Grupo Estação. A princípio exibindo praticamente apenas o acervo da Cinemateca do MAM (a ponto de cooptar seu público e destruir o hábito das pessoas de ir até a Marina da Glória aprender clássicos do cinema), ele logo começo a mostrar filmes cabeça oitentistas, uma tendência de garotos sem vivência nenhuma que adoravam a sétima arte, mas cujo conhecimento de vida era indireto, apreendido com longa-metragens e filmes intelectuais. Essa onda varreu da memória afetiva coletiva o fenômeno que foi UM HOMEM, UMA MULHER, UMA NOITE, um filme muito menos apoteótico, artificial e auto-congratulatório do que a época em que teve seus dias de glória no Rio de Janeiro. A tal ponto que, quando preparando esta postagem, perguntando aos amigos quem lembrava dele, nem mesmo a Suzy, grande defensora dele à época, recordou.

Acabei tendo que recorrer ao IMDB, com apenas vagas lembranças, tais como "tinha acho que a Romy Schneider e era dirigido pelo Costa-Gavras...", mas nem sabia que o filme era de 1979 e tinha ficado cinco anos engavetado nas distribuidoras nacionais. Provavelmente vendo o cartaz e lendo este artiguinho, o povo vai acabar lembrando, mas resolvi começar esta série com ele porque ele foi talvez o mais esquecido de todos os grandes sucessos cult de sua época. Todo mundo ainda lembra de CRÔNICA DO AMOR LOUCO, por exemplo, também um fenômeno setentista em plenos anos 80, que foi até lançado em DVD, mas NINGUÉM a quem mencionei UM HOMEM, UMA MULHER, UMA NOITE conseguiu recordar-se da fita. Muita gente confundiu com o UM HOMEM, UMA MULHER, com a Anouk Aimée (e sua continuação, UM HOMEM, UMA MULHER... VINTE ANOS DEPOIS). Aguardo comentários de quem, ao contrário de mim, assistiu ao longa, e tenha uma tese sobre o porquê dele ter sido varrido para baixo do tapete de nossas memórias.

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