Os capítulos anteriores estão embaixo deste, em ordem decrescente, como sói acontecer em blogs. Leia tudo desde lá do começo e leia a fascinante história da evolução tática e da origem do futebol.
A COPA DE 2002 - A VINGANÇA DE RONALDO
Mesmo em seu período mais negro, no final dos anos 80 e início dos 90, a seleção brasileira sempre foi respeitada e temida. Em qualquer competição, por menos representativo que fosse o time enviado, sempre estaria entre os favoritos. Até 2002. Talvez irritado porque o Brasil continuava sendo sinônimo de futebol bonito no mundo inteiro, embora a França tivesse ganho a Copa do Mundo, a Copa das Confederações e a Copa Européia de Seleções, o atacante Henry declarou numa entrevista: "vamos ser sinceros. Os brasileiros não vão conseguir formar uma equipe competitiva em seis meses, daqui até a Copa".
Os fatos pareciam dar razão ao jogador. Desde que Ronaldinho se contundira, e apesar de Rivaldo ter sido eleito em 1999 o melhor jogador do mundo, a seleção brasileira perdera o rumo nas eliminatórias e tivera pífias atuações na Copa América e na Copa das Confederações, duas competições em que foi representada somente por jogadores atuantes no Brasil. Mas Henry, inebriado pelo recente sucesso, esqueceu que tradição não é algo que se adquire num período de dois ou três anos brilhantes. É resultado de muitas conquistas e dedicação durante décadas e décadas. A Itália mostrara isso ao planeta em 1982. Os canarinhos fariam o mesmo em 2002.
BOX
A Fifa não conseguiu se decidir entre Coréia do Sul e Japão para sede da Copa de 2002. Então dividiu o torneio entre os dois países!!!
A partir de 1995, as eliminatórias sul-americanas mudaram: em vez dos 9 ou 10 times (dependendo se um dos países estivesse automaticamente classificado por ser campeão ou anfitrião) divididos em grupos que jogavam turno e returno, num período de pouco mais de um mês, todos os competidores jogariam entre si, ida e volta. Haveria uma partida por mês e o torneio se estenderia por quase dois anos.
Alguns analistas saudaram essa forma de disputa, acreditando que de tal forma não haveria surpresas, pois os times mais fortes não estariam sujeitos a uma eliminação por uma ou duas más atuações. Outros acharam-na perigosa: as seleções mais fracas, com menos jogadores atuando no exterior, teria mais facilidade para se preparar e treinar. As favoritas teriam que reunir seus atletas na segunda para jogar na quarta e dispensá-los para novo encontro somente dali a um mês. Além do mais, tal tabela daria aos países dos Andes a vantagem da altitude: Bolívia, Colômbia e Equador fariam nove jogos a cerca de 3 quilômetros de altura, sem que seus adversários tivessem a chance de se aclimatarem.
Ronaldo operou o joelho pouco depois de conquistar a Copa América de 1999, sendo inclusive o artilheiro. E isso não bastou para cessarem as críticas ao dentuço. Ele ficaria parado por vários meses, mas o Brasil contava com Rivaldo, então recém-eleito o melhor jogador do mundo e arrebentando no Barcelona, para substituí-lo.
Rivaldo, entretanto, não tinha a personalidade e o estilo de jogo para liderar a seleção. Com a fórmula de disputa escolhida, maus resultados seriam inevitáveis. Mas a torcida esperava que os canarinhos vencessem todo mundo pela frente. Vinham de duas finais de Copa do Mundo e quatro dos seis últimos jogadores eleitos os melhores do planeta. Quando as primeiras derrotas apareceram, o resultado foi previsível: criou-se uma onda de indignação e revolta entre a imprensa e os torcedores.
Tal onda aumentou a cobrança sobre a seleção e seu técnico, o brilhante Vanderley Luxemburgo. Um dos defeitos de Vanderley, porém, era sua vaidade. Frente aos maus resultados, em vez de tentar acalmar os ânimos, acirrou-os ainda mais, o que trouxe piores atuações e novas derrotas. Ele acabou sendo substituído no comando por Leão, cuja passagem também foi desastrosa. O ex-goleiro das Copas de 1970 a 1982 (a primeira e a última como reserva) não conseguiu lidar com as pressões do cargo e em pouco mais de seis meses foi dispensado. Em seu lugar entrou Luiz Felipe Scolari, o Felipão.
O currículo de Felipão é simplesmente impressionante. Com o modesto Criciúma, conquistou a Copa do Brasil. Contratado pelo Grêmio, num time em que os destaques eram Paulo Nunes, Jardel, Carlos Miguel e Émerson, venceu o Campeonato Brasileiro, a Libertadores, o Estadual e novamente a Copa do Brasil. Contratado pelo Palmeiras levou mais uma Copa do Brasil e Libertadores, além de um vice-campeonato brasileiro. Com o Cruzeiro ganhou a Taça Sul-Minas e chegou às semifinais do Brasileirão, quando então foi para a seleção. Tudo isso em menos de dez anos.
Na seleção, pegou logo uma pedreira: o Uruguai, lá no Estádio Centenário. Atendendo aos apelos da nação, convocou Romário. Aos 35 anos o Baixinho saiu do Flamengo e voltou para o Vasco. Marcando gol à beça, a adoração que a torcida tinha por ele cegava-a para o fato óbvio de que os craques cruzmaltinos eram Juninho Pernambucano e Juninho Paulista. Aos 35 anos, o artilheiro não tinha mais a mobilidade e a força para renhidos jogos internacionais, mas ainda era visto como o homem que devolvera a Copa do Mundo ao futebol brasileiro. Precisando de alguém experiente e com autoridade para liderar o time canarinho, Felipão o levou de volta após 3 anos afastado da amarelinha.
O Brasil perdeu o jogo e Romário não jogou bem. Os próximos compromissos verde-amarelos seriam na Copa América. Depois de uma negociação com os clubes europeus, a CBF desistiu de convocar jogadores estrangeiros. Somente atletas de clubes do Brasil estariam disponíveis. Felipão chamou o Baixinho. O artilheiro pediu dispensa, alegando que faria uma cirurgia para correção de miopia. A seleção foi para a competição e teve péssimas atuações, perdendo para o México e sendo eliminada por Honduras, por 2 x 0.
Romário na verdade havia aproveitado a pausa no calendário brasileiro para tirar férias. Não fez cirurgia nenhuma. Jamais seria convocado novamente. Mais tarde, o Baixinho diria em entrevistas que incorrera na raiva do treinador quando, no vôo de volta do Uruguai, ficara namorando uma aeromoça. Não queria admitir seu vacilo. Foi o fim de sua carreira internacional.
Mal e mal o Brasil se classificou para a Copa. Depois de sua recuperação, Ronaldo voltou aos gramados e sofreu nova contusão, precisando de nova cirurgia que o deixou mais um ano parado. Muitos já diziam que ele não teria condições de voltar a jogar bola. Mas Felipão e a comissão técnica apostaram que ele conseguiria e traçaram sua estratégia toda em torno dele.
Tentando retomar a carreira, Ronaldo chegava a treinar 10 horas por dia, enquanto jornalistas mal informados declaravam que ele estava apenas tentando iludir os torcedores. No começo de 2002 ele voltou cautelosamente aos gramados. Felipão convocou-o para todos os amistosos da seleção.
Apostando no Fenômeno no ataque, a próxima preocupação de Felipão foi com a defesa. O Brasil continuava dependente da subida de seus laterais para abrir as defesas normalmente fechadas que enfrentava. Mas isso expunha em muito a zaga, mesmo recheando o meio-campo com cabeças-de-área. O treinador então resolveu ressuscitar o 3-5-2 de Lazaroni, pondo um líbero atrás dos beques e dando mais liberdade a Roberto Carlos e Cafu.
O esquema não trazia boas lembranças e Felipão foi previsivelmente alvo de críticas. A seu favor, contava com a familiaridade que os laterais brasileiros tinham com a tática, depois de anos na Europa. Mas ele evitou incorrer nos erros de seu antecessor. Ao contrário de Lazaroni, ele usou apenas um volante de contenção na meia-cancha, adicionando um apoiador, Juninho Paulista, e dois meias-atacantes, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. Na prática, seu 3-5-2 era um mal-disfarçado 3-4-3 e o único verdadeiro atacante seria Ronaldo Fenônemo. Por isso o dentuço era tão importante. Ele teria que se desdobrar e com seu imenso talento valer sozinho por toda uma linha de ataque.
Os favoritos absolutos para a Copa eram os franceses. Como já dito, eles tinham ganho tudo que podiam. Zidane estava no auge da forma e organizava o meio-campo e o ataque gauleses com uma absoluta clarividência. Junto com eles estavam os argentinos, que tinham disparado na ponta nas eliminatórias sul-americanas. Com o reforço de Verón e Batistuta e o moderno esquema de Bielsa, os portenhos não tinham dúvidas que conquistariam o tricampeonato. Mas Ortega continuava sendo a estrela da companhia. Os portugueses tinham disparado várias goleadas em amistosos e nas eliminatórias. Seu ataque era alimentado por Figo, eleito o melhor jogador do mundo na temporada de 2001. Os ingleses, como sempre, achavam-se os melhores. Consideram Beckham o melhor do mundo e ainda tinham os zagueiros Rio Ferdinand, Sol Campbell e o habilidoso Owen. A Itália vinha com mais um time defensivo e sua tradição.
De tradição quem entende mesmo é a Alemanha, mas ninguém dava a menor bola para eles. Não haviam conseguido renovar seu time. Depois que a geração de 1990 abandonou os gramados ninguém ocupara seu lugar. Era o Patinho Feio dentre os eternos candidatos ao título, ao lado do Brasil.
Ninguém imaginava que aquela Copa deixaria o mundo do futebol de cabeça para baixo. E não só por ser jogada do outro lado do globo.
A França estreou contra o Senegal. Uma semana antes do Mundial, Zidane sofreu uma distensão. A contusão do estresse. Certamente toda a pressão para ser a estrela da Copa pesou nos ombros do genial apoiador. Mas ainda estavam em campo Henry, Trezeguet, Djorkaeff, Desailly, Lizarazu e Thuram. Eles perderam um gol, depois outro... Trezeguet mandou uma bola na trave e saiu sorrindo. Foi castigado junto com todo o time num contra-ataque em alta velocidade aos 29 minutos. O driblador ponta Diouf chegou à linha de fundo, cruzou, o goleiro Barthez falhou e os africanos fizeram 1 x 0. Aquele velho roteiro, "favorito perde a cabeça, se desespera e não consegue reagir", reapareceu e "les bleus" começaram com derrota. No outro jogo da chave os dinamarqueses, renovados com um futebol de força física e correria, venceram os decadentes uruguaios.
A segunda rodada seria ainda pior. Dinamarca e Senegal empataram. O gol africano foi uma maravilha: recuperando uma bola dentro da área, em apenas 8 toques dados por 5 jogadores eles marcaram seu gol. O resultado deixava franceses e uruguaios precisando vencer.
Nervosos por recuperar seu favoritismo, os franceses se afobaram com a retranca uruguaia. O falastrão Henry perdeu a cabeça, fez uma falta feia e foi expulso. O Uruguai manteve-se cauteloso. Preferiu não arriscar e resolver sua sorte contra os senegaleses.
Os uruguaios tomaram 3 gols no primeiro tempo. Voltaram para o segundo para o tudo ou nada. Os africanos simplesmente "desligaram". Acreditaram que já tinham resolvido sua vida na primeira fase e ficaram olhando os sul-americanos, que precisavam da vitória, jogar. O Uruguai fez um, dois... e a 3 minutos do fim empatou. Os senegaleses entraram em pânico. No último lance da partida o goleiro rebateu uma bola para o alto. Morales, completamente livre na pequena área, meteu a cabeça... para fora. Depois de tão bela reação a Celeste estava mais uma vez fora da Copa logo no princípio.
Os franceses entraram contra a Dinamarca precisando ganhar por dois gols de diferença. A volta de Zidane foi antecipada. O apoiador jogou fora de condições e afora dois lampejos, nada conseguiu fazer. Lembrando o Brasil em 1966 inclusive na contusão de seu craque, os campeões do mundo deram adeus ao sonho do bi com um 2 x 0. Em 3 jogos fizeram apenas um ponto e nenhum gol.
Mas houve outra brilhante reação sul-americana que funcionou. Numa chave com os espanhóis, os eslovenos e os sul-africanos, a Fúria não teve dificuldades em se classificar. O Paraguai, com os envelhecidos Gamarra e Arce, precisava fazer 2 gols contra a Eslovênia para avançar. Sofreu um no final do primeiro tempo. Cuevas entrou aos 16 da segunda etapa. Empatou o jogo 3 minutos depois. Aos 27 Jorge Campos pôs os paraguaios em vantagem e, aos 38, Cuevas fez um golaço e classificou seu time.
A Itália começou sua participação com 20 minutos fabulosos contra o ingênuo Equador. Depois ficou só se poupando para pegar a Croácia. Foi quando seus problemas começaram. Os croatas haviam perdido do México e precisavam ganhar. É o tipo de adversário que os reis do contra-ataque adoram pegar pela frente. E saíram na frente, fazendo 1 x 0 aos 11 minutos. Mas a Azzurra teve um gol anulado. Aos 27 Olic empatou e, aos 35, num golaço, meio sem querer, Rapaic virou. Os italianos ainda tiveram outro gol mal anulado.
O resultado levou a um jogo de compadres entre México e Itália na última rodada, que classificou os dois com um 1 x 1. Mas os problemas da Azzurra com a arbitragem ainda piorariam muito.
A Alemanha e a Irlanda empataram e eliminaram Arábia Saudita e os novamente decepcionantes camaroneses, mesmo com Eto'o. Os alemães mostraram um futebol sem brilho, um goleiro, Kahn, firme, e golearam os árabes por 8 x 0, com 5 gols de cabeça de Klose. O placar dilatado não veio de uma grande exibição germânica, mas porque, assim como os tubarões não podem parar de nadar, sob a ameaça de morrerem afogados, os teutônicos simplesmente não podem parar de correr-cruzar-finalizar. Eles simplesmente não sabem como tocar a bola e cozinhar o adversário.
Japão e Bélgica despacham a Rússia e a Tunísia. O outro micaço da Copa foi o de Portugal. Estréiam tomando 3 dos americanos, que exploram as bolas altas, fraqueza da zaga lusitana. Exibindo atletas realmente preparados, com disciplina tática e boa organização, os vizinhos do Norte exibem a sua primeira geração que realmente cresceu jogando futebol, ao contrário dos times anteriores, feitos de descendentes de imigrantes e naturalizados. O rápido e perigoso Donovan é um atacante mortal. A seleção dos EUA chega a abrir 3 x 0, mas uma catastrófica atuação do zagueiro Jeff Agoos, que faz um pênalti infantil e um gol contra, quase entrega o ouro. Os lusos perdem por 3 x 2.
Tentando se recuperar, os portugueses fazem 4 nos poloneses. Os donos da casa empatam com os americanos, depois de fazer 2 x 0 nos polacos. Já vão longe os tempos de Lato, Zmuda e Boniek. Os lusos têm que vencer os coreanos para se classificarem.
Entram nervosos. O favoritismo indo por água abaixo os deixa irritáveis. João Pinto leva logo um amarelo. Em outra entrada é expulso. A arbitragem é inclemente com a violência contra os anfitriães. Nem tanto quando são eles que fazem as faltas. Aos 20 do segundo tempo, outro cartão vermelho para os portugueses. Eles ainda lutam, ingloriamente. Não há mais esquema tático ou organização. Park Ji-Sung, no meio da atabalhoada defesa adversária, faz um golaço, dando um balãozinho e chutando. Surpreendentemente, os poloneses fazem 3 x 1 nos americanos. Com esse placar, se os lusitanos empatarem ainda conseguem avançar. Figo manda uma cobrança de falta raspando o poste. Pauleta manda uma na trave. O juiz apita o final. O segundo dos 3 principais favoritos cai ainda antes das oitavas-de-final.
E o terceiro também. A Argentina começa bem, contra a Nigéria. O time ainda tem por base aquele de 1994. Se em 1998 já faltava pernas aos africanos, em 2002 eles se arrastam no gramado. Os portenhos dão um banho de bola, mas o gol não sai. Só vai sair numa bola parada, Batistuta mete a cabeça e faz seu 11o. gol em Copas. A torcida em casa não só espera o tricampeonato como também que seu atacante faça pelo menos cinco tentos e seja o maior goleador da história dos Mundiais. O excesso de confiança é perigosíssimo. O time mostra belo futebol, mas tem dificuldade em aproveitar as oportunidades. O que pode ser fatal no Grupo da Morte, pois os outros 2 contendores são Inglaterra e Suécia, duas boas equipes.
A Inglaterra empata com a Suécia e, depois de duas derrotas seguidas, enfrenta novamente a Argentina, que entra em campo cheia de empáfia. Beckham quer se redimir de sua expulsão no confronto da Copa anterior. Faz uma de suas melhores partidas. Recua para a lateral-direita, atrai a marcação e de sua perna direita saem lançamentos precisos e perigosos para o ataque britânico. A marcação sob pressão sufoca os sul-americanos, que não estavam preparados para tão dura oposição. Achavam que sua superioridade bastaria. Mas os bretões perdem chances. O placar não sai do zero. Finalmente Owen escapa mais uma vez da marcação, depois de outro belo lançamento de Beckham e dribla Ayala, que faz falta no atacante baixinho. Pênalti. Beckham bate no meio do gol e converte. Declarará depois, em entrevistas, que foi "o pé de Deus".
Começa o segundo tempo. Os ingleses, cansados, não têm condições de manter a marcação sob pressão. Recuam para seu próprio campo. Os argentinos pressionam. É a vez deles sufocarem os europeus. Mas não conseguem penetração. Seus atacantes não têm objetividade. Sorín é quem descola algumas oportunidades, que são desperdiçadas. Beckham já não corre tanto e seus lançamentos precisos saem com menos frequência. Mas os portenhos não aproveitam. Num contra-ataque Sheringham manda um belo chute que não entra. Nada mais acontece de importante. Ortega não consegue produzir nada em partidas duras. O resultado deixa os argentinos na obrigação de vencer os suecos.
E os nervos os traem. Caniggia, inesperadamente convocado depois de todos os problemas em 1994, ignorado em 1998, é expulso do banco de reservas. É o único jogador da história das Copas a receber um cartão vermelho sem jogar. Os argentinos dominam completamente o jogo. Os suecos não passam do meio-campo. Mas novamente Ortega não consegue comandar a penetração na área adversária. Bielsa armou um time que usa mais os laterais do que os apoiadores para atacar, mas cruzamentos são inúteis contra uma defesa consideravelmente mais alta. A Europa ainda produz atletas fisicamente mais fortes.
Começa o segundo tempo. Numa das raríssimas vezes em que passam do meio-campo, os europeus conseguem uma falta de longa distância. A cobrança passa perto da trave. Os portenhos prosseguem pressionando. Tanto que deixam a defesa aberta e têm que parar outro contra-ataque com falta. Também de longe. E dessa vez o chute é perfeito, aos 14 minutos. Começa a se desenhar uma tragédia para quem veio levantar o tricampeonato e ter o maior goleador da história. Estranhamente para quem precisava da vitória, Bielsa troca Batistuta por Crespo. Um atacante por outro, em vez de deixar os dois juntos. El Loco justifica o apelido.
A Argentina se desespera e se abre para os contra-ataques. Aos 42 minutos a Suécia manda uma bola na trave. Aos 43 Ortega, driblando e driblando sem objetividade, tem uma ajuda da defesa para produzir uma chance de gol. Um beque tenta lhe roubar a bola e faz pênalti completamente desnecessário. O Burrito cobra e nem assim consegue fazer o gol. Crespo, que havia invadido a área antes do chute, pega o reboete e empata. Os portenhos pressionam nos minutos finais sem nada conseguirem. Estão eliminados. Crespo chora. Batistuta, antes da Copa, numa entrevista, só conseguira lembrar de Inglaterra e Nigéria como seus adversários. Completou dizendo "e aquele outro time lá". O "outro time lá" transforma um gigantesco favoritismo numa derrocada ridícula e fenomenal.
Tão fenomenal quanto Ronaldo. Na primeira fase, depois de praticamente 2 anos parado, ele faz 4 gols. A estréia contra a Turquia foi duríssima. Os turcos entram marcando sob pressão e correndo em contra-ataques. O Fenômeno perde um gol. Rivaldo dá uma cabeçada certeira, mas o goleiro otomano é elástico, com reflexos e colocação sensacionais. Rustu seria um dos 3 grandes arqueiros da Copa, ao lado de Friedel, dos americanos e Kahn, escolhido o melhor jogador do Mundial. Juninho Paulista, que deveria fazer a articulação no meio-campo, prende demais a bola, carrega-a demais, dribla demais. Ricardinho ou o ausente Juninho Pernambucano cairiam como uma luva para fazer a saída de jogo, mas Felipão deixa-o em campo. Mais uma vez serão os laterais, agora verdadeiros alas, que ligarão a defesa ao ataque.
No final do primeiro tempo, num contra-ataque, o excelente Hasan Sas entra pela esquerda e chuta cruzado. O Brasil vai para o intervalo perdendo de 1 x 0. Os piores temores da torcida parecem se confirmar.
Mas o Brasil volta melhor. Se por mais não fosse, pelo cansaço dos turcos, que não aguentam manter mais a pressão do primeiro tempo. Tentam recuar para segurar o resultado e só avançar em contra-ataques. Mas logo aos 3 minutos Rivaldo cruza da esquerda para Ronaldo abrir o placar e recomeçar seu caminho para a glória como se fosse personagem de um melodrama barato de Hollywood.
O Brasil pressiona bastante e perde chance em cima de chance. Rustu é magnífico. O Fenômeno cansa. Ainda não está em boas condições. Sai aos 28 minutos. Entra Luisão, que rouba uma saída de bola turca e avança. É derrubado perto da área. O juiz inexplicavelmente marca pênalti e acertadamente expulsa o beque, que era o último jogador entre Luisão e o gol. Os turcos reclamam, o erro é gritante demais. Mas de nada adianta. Rivaldo cobra com sua precisão implacável e o Brasil vira o jogo.
Não era a estréia que os torcedores desejavam, mas depois de temerem ficar de fora do Mundial ou não passar da primeira fase, o resultado é bom. A opinião nas ruas é de que o time foi bem, se recuperou bem no segundo tempo e mostrou potencial. A imprensa não concorda. Ignora a perfeição da marcação sob pressão turca. Alguns comentaristas dizem que os turcos são tão ruins quanto os árabes que tomaram de oito da Alemanha.
Os outros 2 jogos são treinamentos de luxo. A China cai de 4. Os quatro "R"s fazem gol. Roberto Carlos numa violenta cobrança de falta e Ronaldinho Gaúcho de pênalti. A boa notícia é que a penalidade foi sobre o Fenômeno, depois de uma caracteristica jogada sua, dando uma quebra de asa sobre a defesa para penetrar sozinho. O 4 x 0 garante o primeiro lugar do grupo. Felipão resolve escalar um time reserva. Os titulares reclamam, deram duro nos 2 primeiros confrontos e querem participar da moleza. Mas Felipão não é Zagallo e não repete 1998. Apenas Juninho e Rivaldo, para melhorar o entrosamente, e Ronaldo, para melhorar a forma, jogam. A partida é uma festa. Cinco a dois.
O próximo jogo é contra a Bélgica. É a pior apresentação brasileira. Mais uma vez a marcação sob pressão paralisa o meio-campo canarinho. Juninho Paulista não consegue entender que precisa tocar a bola antes de perdê-la para a defesa, que não conseguirá driblar todo mundo entre as duas intermediárias. Os belgas chutam seguidamente para o gol de Marcos, que faz boas defesas; nenhuma milagrosa, mas mostra firmeza.
O último lance do primeiro tempo é o mais controvertido. A bola é levantada na área brasileira. O excelente atacante Wilmots corre até Roque Júnior e o desloca por trás. O juiz apita na hora em que o zagueiro brasileiro se curva e quase cai. A bola é cabeceada pelo belga e entra. O gol é anulado. Questão de interpretação. Outros árbitros não dariam a falta, mas a Copa na Ásia é cheia de controvérsia na arbitragem. Essa está longe de ser das maiores. Wilmots dirá depois que o juiz pediu-lhe desculpas pelo erro.
A seleção não volta melhor no segundo tempo. Continua o sufoco. O Brasil não consegue criar nada. Juninho Paulista sai, mas entra Denílson, outro que quer driblar todo mundo e não solta a bola.
Então um garoto de 21 anos que vinha jogando discretamente resolve começar a brilhar. Ronaldinho Gaúcho dribla dois pela direita e mete uma trivela para Rivaldo. O atrapalhado Denílson tenta cabecear e quase corta o cruzamento. Rivaldo mata a bola no peito com categoria, gira e ajeita para o seu mortífero pé esquerdo. O chute desvia no pé de um zagueiro e acaba com qualquer chance do goleiro. Aos 21 minutos do segundo tempo, sem fazer nada para merecer aquele resultado, o Brasil sai na frente.
Os belgas se desorganizam. Sabem que os jogadores brasileiros são melhores tecnicamente. Esperavam abrir vantagem e segurar o resultado, agora, exaustos depois de tanto se dedicarem à marcação, não têm forças para empatar. No final do jogo entra Kléberson. Depois de vários lançamentos para Denílson pela esquerda que não dão em nada porque o atacante teima em partir para o drible, Kléberson mostra como se faz. Recebe uma bola pela direita, avança, espera chegar o marcador e, em vez de tentar a finta, rola para Ronaldo chutar errado. Mas a sorte está com os canarinhos, a bola passa entre as pernas do goleiro. Dois a zero. O resultado é bom, mas a atuação não foi nada convincente. Os ingleses estã presentes no estádio. Fizeram brilhante exibição na véspera e eliminaram os dinamarqueses fazendo 3 x 0 em meia hora. Contaram com o pé direito de Beckham em bolas paradas e o goleiro da Dinamarca para ajudar. Um jornal inglês estampa a foto de Beckham assistindo ao jogo, chupando um pirulito, sob a manchete "Isso é tudo que vocês têm para mostrar?"
Os americanos, depois da derrota para os polacos, se reorganizam e enfrentam o confiante México. Um jogo de contra-ataques rápidos faz 2 x 0. O primeiro gol inclui um drible de meia-lua e um toque de calcanhar. O goleiro Friedel impede qualquer tentativa de reação. Os mexicanos, durante décadas senhores absolutos do futebol na CONCACAF sofrem sua terceira derrota seguida para os vizinhos do norte, que começam a ser melhores do que ele até no esporte de que eles tanto gostam.
Os alemães, em mais um jogo chato, fazem 1 x 0 quando os paraguaios já se preparavam para a prorrogação. Mais um cruzamento para a área os pôs em vantagem. Espanha e Irlanda vão para os pênaltis e os espanhóis prosseguem graças a Casillas, o esplêndido goleiro do Real Madrid. A Turquia tem pela frente um dos anfitriães, o Japão. Empurrados pela torcida, os nipônicos querem uma boa vitória. Enfrentem a duríssima marcação otomana e num escanteio tomam um gol. Estão fora logo nas oitavas-de-final.
Suécia e Senegal fazem um jogão. A objetividade dos suecos é a contraparte do jogo de toque, habilidade e desorganização tática dos africanos. O técnico francês ensinou seus jogadores a recuar para ajudar, mas não conseguiu incutir-lhes o senso de marcação e disciplina. Numa bola parada tomam o primeiro gol. Empatam em belo chute de Camara. A decisão virá na prorrogação. Os escandinavos têm uma grande chance: O atacante faz uma das mais belas jogadas da Copa, girando com a bola sobre a zaga adversária, mas a conclusão encontra a trave. Num contra-ataque os senegaleses garantem a vaga nas quartas-de-final.
Coréia e Itália protagonizam a mais controvertida partida nas oitavas. A disposição dos asiáticos se estampa num enorme cartaz no estádio: "Coréia 5 x 0 Azzurra. Porta do Inferno. Túmulo dos Gigantes. Lembra de 1966?", esta última referência à eliminação pelos norte-coreanos na Inglaterra.
Logo no começo o juiz equatoriano Byron Moreno marca um pênalti contra a Azzurra. O coreano realmente foi seguro pela camisa, mas num daqueles lances de agarra-agarra normalmente ignorados em cobranças de escanteio. Mas tudo acaba bem para os europeus: a cobrança é desperdiçada. E num córner Vieri faz 1 x 0.
Os sul-coreanos partem para cima. Criam chances, mas dão espaço para os contra-ataques da Azzurra. Nas divididas o juiz normalmente marca falta a favor dos anfitriães. Os italianos vão se enervando. Perdem gols fáceis. A 2 minutos do fim, sentindo a pressão, Pannucci, completamente sozinho dentro da área, tenta rebater um cruzamente despretensioso e erra. Não só isso. Ainda mete a mão na bola e cai, enrolado nas próprias pernas. Seol Ki-Hyeon não tem nada a ver com isso, pega o presente e empata. Mais uma prorrogação.
Vieri perde dois gols feitos. Totti dribla um zagueiro na área e é derrubado num lance discutível. O juiz não só não marca pênalti como ainda expulsa o atacante italiano, achando que sua queda era uma simulação para forçar a marcação do penal. O técnico italiano, Trapattoni, soca o banco de reservas, furioso. Alguns minutos depois o árbitro aumenta a má vontade da Itália para com ele: anula por impedimento um gol legítimo da Azzurra.
Sob tanta pressão e com os nervos à flor da pele, os italianos falham em outro cruzamento. A Coréia repete o feito de seus irmãos do norte e elimina os tricampeõs do mundo.
Ahn Jung-Hwan, o autor do gol do desempate, joga num clube da Itália. É dispensado. A imprensa italiana descobre que logo depois do Mundial, o juiz Byron Moreno se aposentou, depois de subitamente liquidar todas as suas muitas dívidas de jogo. Mas aquele não seria o último jogo com arbitragem controvertida a favor da Coréia.
Contra os espanhóis, depois de um 0 x 0 no tempo normal nas quartas-de-final, eles têm novamente a ajuda da arbitragem. Um cruzamento perfeito na prorrogação acaba em gol para a Espanha. O juiz anula, alegando que a bola saiu pela linha de fundo antes de ser levantada na área. O replay tira qualquer dúvida: ela nem ao menos começou a sair, muito menos ficou com toda sua circunferência fora do campo. Nos pênaltis os donos da casa ganham uma surpreendente vaga nas semi-finais. Os senegaleses esbarram na seriíssima seleção da Turquia. Até então os africanos recuavam todos e jogavam no contra-ataque. Mas os turcos simplesmente não querem atacar e não dão espaços. O jogo é arrastado. Na prorrogação, depois do 0 x 0, os otomanos têm mais condição física e marcam o gol da morte súbita. O time mais disciplinado taticamente, com uma esplêndida marcação sob pressão que fecha os espaços do adversário, ganhou vaga na semi-final.
Os americanos começam bem contra a Alemanha. Em boa jogada, Donovan entra sozinho contra Kahn. O atacante é de um time sem tradição e está estreando em Copas. Talvez nunca mais vá tão longe no torneio. O goleiro alemão parece crescer na frente dele. Ele hesita entre driblar e chutar e não escolhe nenhum dos gols. Perde a melhor chance estadunidense.
Em uma cobrança de falta, um chuveirinho alemão encontra a cabeça de Ballack, o melhor jogador germânico. Com 1,90 de altura e habilidoso como um sul-americano, ele é quem empurra o time medíocre rumo às semi-finais. Mas ainda haverá mais um lance controvertido de arbitragem. Numa cobrança de escanteio uma cabeçada americana passa da linha de gol. O zagueiro alemão a tira de dentro da meta com a mão. O juiz não dá nem o gol e nem o claríssimo pênalti. Os desacreditados teutônicos estão em mais uma semi-final, depois de 2 Copas de ausência. Muito, para seus padrões.
Brasil x Inglaterra fazem o que muitos consideram uma final antecipada. São disparados os dois times mais fortes da competição. Felipão tirou Juninho Paulista. Desistiu de tentar ensiná-lo a soltar a bola mais rápido. Em seu lugar entra o volante de contenção Kléberson. Apesar de menos habilidoso que Juninho, ele sabe tocar a bola e combate bem melhor. O meio-campo brasileiro finalmente se organiza e articula bem as jogadas. A defesa, antes exposta, torna-se firme e segura.
Os ingleses temem a amarelinha, como de resto todo mundo. Optam por não tentar a marcação sob pressão que paralisou os argentinos. Não querem se arriscar a dar espaço para os lançamentos de Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, que estão longe da improdutividade de Ortega. Recuam para seu meio-campo para fechar os espaços. Uma tabela Fenômeno-Rivaldo acaba em boa chance. É a única oportunidade brasileira. Um lançamento longo errado dos britânicos cai no pé de Lúcio. O zagueiro brasileiro hesita entre rebater a bola ou driblar Owen, que vem correndo atrás, e armar uma jogada. Quando se decide por essa última, Owen já lhe tomou a frente. Sozinho com Marcos, o atacante abre o placar.
O Brasil fica momentaneamente perdido em campo. Os ingleses conseguem uma cabeçada perigosa e começam a dominar o jogo. Mas vai se aproximando o intervalo e os britânicos estão exaustos de tanto correr atrás da bola em sua implacável marcação. Os brasileiros estão cheios de motivação. Felipão sempre soube incutir ânimo guerreiro em seus comandados. Já nos descontos, uma bola alta vai saindo pela lateral esquerda na defesa verde-amarela. Beckham vê que Roberto Carlos e Gilberto Silva, que vem fazendo uma esplêndida Copa, estão no lance. Beckham salta, esperando que os dois se enrolem todos, mas Roberto Carlos consegue evitar a saída da bola. No meio-campo Kléberson também precisa dividi-la com um apoiador bretão. Ela sobra no pé de Ronaldinho Gaúcho. Com espaço. Ele arranca desde o círculo central, deixa um zagueiro caído, protege e, quando chega na entrada da área, os beques são obrigados a lhe dar combate. Ele abre para Rivaldo, lembrando Maradona e Caniggia em 1990. O craque canarinho só dá um toque preciso, do bico da área. A Inglaterra recebeu um presentão e nem assim conseguiu levar a vantagem para o vestiário. O English Team começa a perder a moral.
Na volta a campo o Brasil é melhor. Aos 5 do segundo tempo há uma falta de longa distância na lateral-esquerda inglesa. Ronaldinho Gaúcho, em exibição de gala, manda a bola fazer uma curva, encobrir Seaman e morrer no ângulo superior direito do gol. Ela obedece, apaixonada. Os ingleses, acostumados a um futebol de corre-cruza-finaliza, alardeam que foi sem querer. Os franceses, acostumados a ver o novo dentuço no Paris Saint-Germain, tecem loas a mais uma belíssima estripulia do craque. Ele comemora gritando com o banco "eu não disse, eu não disse?". Cafu o havia avisado que Seaman jogava adiantado.
Mas Ronaldinho fica tão entusiasmado que divide uma bola com excesso de vontade e é expulso aos 11 minutos. Ele não tinha levado nem cartão amarelo ainda. O Brasil perde seu principal jogador na partida. E ainda faltam 34 minutos. Conseguirão os canarinhos segurar o placar?
Sim. Nesse momento aquele time alvo de tantas críticas, que muita gente temia que nem passaria pela primeira fase, que perdeu completamente a cabeça nas eliminatórias, dá uma demonstração impressionante de maturidade e calma. Em vez de recuar todo para seu próprio campo, rezando para que o tempo passasse logo, os jogadores usam sua habilidade superior para trocar passes no ataque. Não criam oportunidades, mas negam aos britânicos a vital posse da bola. Um jornal inglês explicaria mais tarde que "os brasileiros são mestres em gastar o tempo legalmente". A Inglaterra não cria nenhuma chance. Rivaldo é que desperdiça um contra-ataque. Ele e Edílson, que havia entrado no lugar do cansado Ronaldo, têm apenas um zagueiro pela frente. Rivaldo prefere o drible e perde o lance.
Mas não faz diferença. Os ingleses não conseguem tirar nenhuma vantagem de sua superioridade. Beckham mostra que ainda não tem nervos para ganhar uma Copa, como em 1998. Atira-se bisonhamente na área brasileira duas vezes e reclama escandalosamente com o juiz. Se fosse um sul-americano teria levado cartão. Kléberson deu o equilíbrio que o meio-campo precisava. O jogo acaba sem que o English Team tivesse uma única chance clara de gol em mais de 35 minutos com um homem a mais. O Brasil que tinha um ataque mortífero mostra que sua defesa finalmente está pronta também. Dos 4 times que restaram é o absoluto favorito. De seus adversários, os mais próximos de uma ameaça são os alemães, com a força de sua tradição.
E contra a Coréia os germânicos fazem outro 1 x 0. Desta vez não há arbitragem para ajudar os anfitriães e em nenhum momento alguém acredita que eles consigam vencer os eficientes alemães. Mas estes perdem Ballack. Um cartão amarelo o tira da final. O Brasil navega rumo ao título em mar tranquilo. Só tem que passar outra vez pela Turquia.
Os turcos querem a vingança pelo jogo de estréia, quando foram prejudicados por um grotesco erro de arbitragem e jogaram muito bem. Mas embora alardeiem que não temem os brasileiros, sabem que eles melhoraram muito desde aquela primeira partida. E os otomanos não têm nada de novo a apresentar, só seu magnífico goleiro e sua marcação implacável.
Ela complica o jogo no primeiro tempo. O Brasil tem poucas chances, mas boas. Todas elas trombam com Rustu. A melhor é uma bola que Ronaldo abre para Cafu na lateral-direita, lembrando o último gol da Copa do México em 1970. Mas Cafu parece não ter visto aqueles vídeos e em vez de entrar chutando, domina a bola, perde o ângulo e dá chance para o arqueiro turco. Pelo menos desta vez os otomanos não ameaçam a meta canarinho. Segura na defesa, a seleção faz praticamente um treino de ataque contra defesa.
Os brasileiros não têm Ronaldinho Gaúcho, mas o meio-campo continua equilibrado com Kléberson. E é ele quem começa uma jogada já no segundo tempo pela ponta-esquerda. Toca para o Fenômeno, que protege a bola entre quatro zagueiros, avança até a quina da área e dá um biquinho com o pé com que avançava. Chuta fora do tempo. Ninguém entende direito como saiu aquela finalização. Nem Rustu. O tiro inesperado finalmente vence o grande goleiro otomano, que fez defesas bem mais difíceis, mas em lances previsíveis. Mas Ronaldo é um craque capaz de tirar um gol do nada.
Com uma vantagem de 1 x 0 e senhor absoluto das ações, a seleção começa a perder chance em cima de chance. Poderia ter disparado uma goleada, mas Luisão entra no lugar de Ronaldo, afobado para fazer seu nome e perde muitos gols. Não são necessários. A defesa não tem trabalho. O juiz dá o apito final. O Brasil vai fazer sua terceira final de Copa seguida, igualando o feito da Alemanha entre 1982 e 1990. Pela primeira vez os dois maiores vencedores de Mundiais vão se enfrentar. Fazendo jus à sua tradição, direto na final.
O Brasil entra como favorito absoluto. Os alemães têm uma equipe medíocre e perderam seu único craque. Seu goleiro é a estrela maior. Disputa com Ronaldo o título de melhor da Copa. Mas os brasileiros mantêm a maturidade demonstrada contra a Inglaterra. Estiveram um bom tempo por baixo, sob críticas. Conservam a humildade. Felipão, além de excelente estrategista, é brilhante psicólogo. A seleção sabe que terá que correr e lutar para construir um resultado. Sabe que sua superioridade teórica não lhes dará sozinha a vitória. Hungria e Holanda demonstraram o preço a pagar para aqueles que menosprezam a Alemanha. Mas os canarinhos demonstrarão que países cujo nome não começa com "h" conseguem levar o título contra os germânicos.
O primeiro lance do jogo mostra como ele se desenrolará: os alemães atrasam a jogada do meio-campo para Kahn. Não se arriscam no ataque. Os brasileiros têm menos posse de bola, mas quando a têm ficam na cara do gol. Ronaldinho Gaúcho, depois de ficar de fora na semi-final, tem uma atuação brilhante. Quem diz que ele nunca jogou na seleção o que joga no Barcelona esquece da Copa de 2002. Dois lançamentos do novo dentuço põem o velho dentuço frente a frente com Kahn. Mas o Fenômeno está nervoso e o arqueiro alemão sai bem em ambas as vezes.
Mas todo o time joga bem. Kléberson arranca do círculo central e da entrada da área chuta rente à trave. Em outra jogada de Ronaldinho Gaúcho, Kléberson manda a bola no travessão. Roberto Carlos cruza e da marca do pênalti o Fenômeno completa em cima de Kahn. Acaba o primeiro tempo. O Brasil criou excelentes oportunidades e mandou no jogo, mas não abriu o placar.
No segundo tempo os alemães têm sua única grande chance. Numa cobrança de falta lá de longe Neuville enche o pé. Marcos diria depois do jogo que só foi na bola para aparecer na foto. Confessaria que não tinha a menor idéia de que Neuville fosse um chutador tão bom. Mas se estica todo e consegue tocar a redonda com a pontinha dos dedos. O suficiente para ela desviar-se alguns milímetros, bater na trave e sair. Kahn seria o melhor da Copa, mas essa foi eleita a melhor defesa do torneio.
Os brasileiros cansam. Perdem um pouco de ânimo. Têm as melhores chances, mas os alemães têm mais posse de bola. Correr atrás dela cansa os canarinhos. Ronaldo tenta um drible totalmente equivocado na intermediária e perde a bola. Mas o Fenômeno superou coisa muito pior nos últimos anos. Ele corre atrás do zagueiro e toma-lhe a redonda. Para quem viu os jogos da seleção nos anos 70, parece uma vingança: um atacante sul-americano vence com o corpo uma dividida com um zagueiro europeu. Foram-se os tempos dos atletas franzinos e frágeis. Eles ganharam músculos e mantiveram a habilidade.
Ronaldo rouba a bola, mas imediatamente vem outro zagueiro na cobertura. Com o raciocínio rápido que lhe é peculiar, com o mesmo pé que carrega a redonda ele a abre para Rivaldo e corre na frente. Se Rivaldo lhe devolver a bola ele está na cara do gol. O meia-atacante não pensa tão velozmente. Mata a bola, gira e resolve tentar um chute com sua mortífera perna esquerda. O tiro sai no meio do gol e fraco. Tanto que Kahn resolve encaixar, em vez de defender em dois tempos.
E falha.
O gigante, o goleiro que garantiu 3 vitórias de 1 x 0 em jogos eliminatórios falha feio. Bate roupa. Deixa a bola escapar de suas mãos enquanto cai no chão.
E a torcida brasileira vê Ronaldo, que, esperando o passe de Rivaldo, vinha na corrida.
A bola caiu direto em seus pés.
No Brasil a torcida vê pela tevê Ronaldo entrando em quadro bem antes que ele toque a bola. Começa a festejar. Nem havia mais Kahn pela frente. O Fenômeno só empurra e sai comemorando. Desde 1970 ninguém tinha conseguido fazer mais de 6 gols numa Copa. O dentuço faz seu sétimo, igualando a marca de Jairzinho em 1970. É o maior artilheiro brasileiro num Mundial desde Ademir em 1950.
Se os alemães almejavam antes manter o 0 x 0 para Kahn garantir na cobrança de pênaltis, sabem que agora a missão é difícil. O veterano artilheiro Bierhoff entra em campo. Mas os brasileiros demonstram que, depois do brilhantismo de 1958 a 1970 e da disciplina tática de 1994, eles têm a maturidade dos maiores campeões. Não ficaria bem vencer a Copa numa falha do goleiro. Aos 33 eles coroam sua vitória com um belo lance. Kléberson, que fez 3 jogos sensacionais e uma grande final, arranca pela direita e rola para Rivaldo. Os zagueiros germânicos correm para cima dele e, inesperadamente, o meia-atacante pensa rápido e abre as pernas. A bola sobra para Ronaldo invadir a área e chutar fraco, mas colocado. Dois a zero. Acabou. Até os teutônicos sabem que não terão forças para reagir.
Cafu vai receber a taça. O capitão é o único jogador na história a disputar 3 finais de Mundiais. Ganhou dois. Pelé vem cumprimentá-lo e fazer a premiação. Cafu pensa, analisa, dá uma sacudida no palanque onde estava o troféu, vê que não está firme, mas, ora, que diabos, não é todo dia que se recebe a Copa do Mundo. Com a ajuda do maior futebolista de todos os tempos, sobe em cima do pedestal para levantar o prêmio. Bellini criou o gesto de erguer a taça. Depois de mais quatro conquistas está na hora de inventar uma bossa nova.
É uma festa. Tem jogador que anda de joelhos, cumprindo promessa. Os Atletas de Cristo levam uma faixa agradecendo a Jesus. O Brasil põe mais uma estrela em cima do escudo para representar a conquista. Já tem uma verdadeira constelação. Poderia desenhar até a Cruzeiro do Sul na camisa, se quisesse.
Mas a maior estrela foi sem dúvida Ronaldo. Em 1998, ele levou sem merecer o título de melhor da Copa porque a eleição era feita antes da final. Em 2002 esse mecanismo funciona contra ele e Kahn, mesmo falhando feio no primeiro gol, leva o prêmio. Não interessa. O Fenômeno marcou 8 vezes, igualou a marca de Pelé como brasileiro que mais marcou em Copas, é bicampeão do mundo e recuperou-se de uma contusão que levou 2 anos em tratamento, contra tantas e tantas previsões negativistas. E ele tem apenas 25 anos. Será escolhido o melhor jogador do planeta ainda em 2002, sendo o primeiro atleta a receber essa honraria 3 vezes. Somente Zidane repetiria o feito.
Parece um melodrama barato de Hollywood. Os analistas estrangeiros lhe davam chances à seleção canarinho. Os brasileiros só não achavam mais que sairia na primeira fase porque o sorteio garantiu um grupo muito fácil. Os jogadores das outras equipes os menosprezavam. Começaram mal. Apostaram tudo num atleta que parecia ter encerrado a carreira e que protagonizara aquele tão estranho drama na Copa anterior.
E ultrapassaram tudo isso. Melhor ainda, com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Roberto Carlos ressuscitaram o Jogo Bonito. Não foi um time taticamente disciplinado esperando lampejos de Romário. Foi uma equipe aplicada e dedicada criando lances inesquecíveis como os gols contra a Inglaterra, a bicicleta de Edmílson contra Costa Rica, as arrancadas de Kléberson contra a Alemanha, o biquinho do Fenômeno contra a Turquia, a matada no peito e o giro elegantíssimos de Rivaldo contra a Bélgica.
Felipão deixou a seleção logo em seguida. Faltava-lhe apenas o título mundial. Ele agora o tem. Assumiu um time em frangalhos e fê-lo campeão. Zagallo e Parreira voltariam no ano seguinte, mas seu trabalho é muito mais fácil: pegam jogadores campeões, maduros e confiantes.
E têm o Ronaldo Fenômeno em forma.
Brasil, pentacampeão mundial. Favorito para a Copa de 2006.
RIVALDO
Encontrar uma posição em campo para Rivaldo sempre foi problemático. Talvez por isso a torcida brasileira nunca tenha realmente encontrado uma posição para ele em seu coração.
Eleito o melhor jogador do mundo em 1999, queridinho de todos os técnicos da seleção, foi sobre ele que recaiu o papel de superestrela para as Eliminatórias da Copa de 2002. A campanha catastrófica, aliada à derrota na França em 1998, criou o mito de que ele nunca jogava pelo Brasil o que mostrava no Barcelona ou simplesmente que não era aquilo tudo que dele se falava.
O que os torcedores não compreendiam era que Rivaldo realmente era um craque problemático. Excelente driblador, lançador e finalizador, alto e bom cabeceador, faltavam a ele os reflexos e a rapidez de raciocínio que caracterizam os Ronaldos, por exemplo. Dificilmente sabia o que iria fazer com a bola antes de recebê-la ou soltava-a de primeira. Precisava sempre limpar a jogada antes de dar prosseguimento a ela. Não tinha a visão de jogo para descobrir um companheiro livre lá do outro lado só com o canto de olho.
Sem a agilidade mental e o toque de primeira, não podia atuar como apoiador, articulando o meio-campo. Para jogar no ataque lhe faltavam a velocidade, os reflexos e a clarividência do artilheiro oportunista. Sem contar que seria um desperdício de seus talentos como lançador e passador.
Falando assim, parece que o melhor lugar para tal jogador é o banco de reservas. Mas quando ele finalmente decidia o que fazer e conseguia limpar a jogada, que craque. Absolutamente preciso, capaz de botar a bola onde queria e com um chute elegante e mortal, Rivaldo era um terror para as defesas adversárias. Um verdadeiro matador de fora da área, precisando apenas de um mínimo espaço para uma matada de bola no peito tão perfeita que parecia saída de uma ilustração de manual e uma conclusão letal (Brasil 2 x 0 Bélgica, 2002). Um chute rasteiro aparentemente fraco que passa no espaço exato entre a mão do melhor goleiro do mundo, Schmeichel, e a trave (Brasil 3 x 2 Dinamarca). O centro milimétrico para Ronaldo marcar contra a Holanda, em 1998, e a Turquia, em 2002. O toque único e elegante do bico da área para empatar contra a Inglaterra, em 2002. Para muitos analistas teria sido ele e não Ronaldo o craque mais fundamental para a campanha do pentacampeonato.
Mas para extrair tal rendimento de Rivaldo, Felipão teve que implantar um esquema de jogo atípico para os brasileiros, sem um meio-campo com toque de bola, composto basicamente de cabeças-de-área e atacantes. Durante muito tempo entre 1997 e 2002 discutiu-se qual seria a posição do craque pernambucano na seleção. A maioria dos torcedores simplesmente queria que ele fosse barrado para Romário voltar. Pouco ajudava sua personalidade bem menos colorida do que a do baixinho ou dos Ronaldos, sendo típica dele a declaração de que jamais bebeu álcool por medo de ficar viciado.
Rivaldo nasceu em 1972 e começou jogando no Santa Cruz, de onde foi para o Mogi-Mirim em São Paulo. Ao lado de Válber, destacou-se no Paulistão, integrando o chamado "carrossel caipira" de Oswaldo Alvarez. Transferiu-se para o Coríntians, onde seu estilo peculiar não lhe angariou muitos fãs, mesmo sendo ele convocado em 1993 pela primeira vez para a seleção.
No Palmeiras finalmente ele conheceu o sucesso entre os torcedores, sendo destaque num time que foi campeão brasileiro em 1994 e que fez 102 gols no Paulistão de 1996. Tornou-se titular absoluto da seleção, mas o fracasso nas Olimpíadas de Atlanta começou sua crônica indisposição com a torcida canarinho.
Transferido para o La Coruña, conseguiu o que Bebeto não conseguira: levar o time ao título espanhol. Duas vezes. Sendo o artilheiro. O feito o levou ao Barcelona para substituir Ronaldo Fenômeno. Tanto sucesso e tantos gols conseguiu que voltou por cima para vestir a amarelinha.
A derrota em 1998 não o marcou tanto, mas a campanha das Eliminatórias criou a história de que ele não jogava pelo Brasil o que jogava pelo Barcelona e deixou de vez a torcida brasileira revoltada com seu futebol. A maioria não entendia porque os técnicos apostavam tanto nele. E nem que história era aquela de que "ele não encontrava sua posição".
Felizmente Felipão assumiu a seleção e encontrou a posição. Mas em 2002 Rivaldo passou por sérios problemas físicos. O médico do Barcelona dizia que ele precisava sofrer uma cirurgia que o deixaria de fora da Copa. A comissão técnica brasileira apostou que um bom trabalho de fisioterapia o deixaria em condições de disputá-la. A maior parte da torcida esperava que não, mas ele conseguiu. E como.
Rivaldo entrou em declínio depois da Copa e teve uma passagem infeliz pelo Milan. Atualmente joga no Olympiakos, da Grécia. Algumas fontes dão como certo que ao fim do atual contrato, ele voltará ao Palmeiras, aos 34 anos.
RONALDINHO GAÚCHO
Depois de um longo hiato do começo dos anos 80 até o meio dos anos 90, o Brasil não teve um verdadeiro candidato a melhor jogador indiscutível do planeta. Então subitamente uma sucessão lembrando os tempos dourados de 1958 a 1970: Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho. O segredo é batizar o candidato a jogador profisssional de "Ro" alguma coisa. Ah, se a Ângela Rô-Rô jogasse bola...
Ronaldinho Gaúcho não ajuda na marcação, mas fora isso domina os gramados. Ele exibe a categoria, habilidade e visão de jogo dos pontas-de-lança de antigamente, aliadas à força física e velocidade dos jogadores de hoje. Fabuloso controle de bola, dribles sensacionais, hábil em lançamento e enfiadas curtas, cobrador de pênaltis e de faltas, chutador espetacular, bom cabeceador, não existe um fundamento ofensivo onde o novo dentuço (o velho é o seu homônimo Fenômeno) não prevaleça. Não é à toa que ele foi eleito duas vezes seguidas o melhor jogador do mundo e não há virtualmente quem discorde. Talvez outros candidatos, argentinos e quetais.
Ronaldo de Assis Moreira nasceu em 1980. Seu irmão Assis foi um habilidoso apoiador de moderado sucesso e o levou para o Grêmio. Depois de um sensacional Mundial sub-17, onde marcou caminhões de gols e de tudo que era jeito, começou a chamar a atenção do mundo. Estreou na seleção principal em 1999, na Copa América, aos 19 anos. Entrou em campo contra a Venezuela faltando menos de quinze minutos e, numa das primeiras vezes em que tocou na bola, enfiou-a debaixo das pernas de um adversário, deu um lençol e outro e aplicou um charles num outro pobre beque para marcar um tento inesquecível. Outro dentuço conhecido como Ronaldinho mostrava a que veio com a amarelinha.
Logo em seguida a seleção brasileira foi disputar a Copa das Confederações, que não tinha o mesmo prestígio de hoje. Um time reserva foi representando o Brasil e Ronaldinho foi o grande destaque, eleito o melhor do torneio, apesar da grande atuação do mexicano Blanco na decisão, mas essa mania da FIFA de eleger o sujeito antes da final sempre dá nisso...
Ronaldinho voltou para o Grêmio, que, depois de sua era dourada sob Felipão, não conseguia se recuperar. Em 2001 ele seguiu para o Paris Saint-Germain, onde discutia frequentemente com o técnico Luis Fernandez. Num campeonato de menos visibilidade que o italiano, espanhol, alemão e inglês, o dentuço não atraiu tanta atenção dos clubes mais importantes, mas sempre manteve sua vaga na seleção. Em 2002 formou com Ronaldo e Rivaldo um ataque mortífero e campeão na Copa do Japão e da Coréia.
Quem diz que Ronaldinho nunca jogou na seleção o que joga no Barecelona ou não tinha nascido em 2002 ou sofre de amnésia traumática e estaria melhor num novelão mexicano, em busca de seu passado perdido. Começando discretamente contra a Turquia, treinou bem contra a China, fez o belo cruzamento para o gol de Rivaldo contra a Bélgica e subiu assustadoramente de produção junto com todo o time quando Kléberson substituiu Juninho Paulista na armação da meia-cancha.
Não é preciso lembrar o que Ronaldinho aprontou naquele jogo, sendo indubitavelmente o grande nome da partida, a mais importante do Mundial. Como todos previam, o campeão saiu dali. E o Brasil começou a levantar a taça quando o neo-dentuço pegou a rebatida de Kléberson e atravessou o campo pedalando e entortando os zagueiros britânicos. E botou uma mão no caneco quando ele resolveu encobrir Seaman, em vez de tentar o cruzamento. A única razão pela qual aquela cobrança de falta não consta entre as 10 melhores de todas as Copas sem dúvida foi porque os ingleses é que organizaram essas listas todas e eles até hoje dizem que foi sem querer. É por isso que eles não ganham nada há quarenta anos.
Depois do Mundial, de volta ao Paris Saint-Germain, Ronaldinho continuou suas desavenças com o técnico e anunciou que pretendia sair depois que o clube não se classificou para nenhuma copa européia. Manchester United, Real Madrid e Barcelona entraram na briga. O primeiro foi descartado pelo jogador, o segundo preferiu levar Beckham porque era melhor para a imagem da equipe e o terceiro resolveu investir em futebol. Os resultados estão aí.
A primeira temporada, que Ronaldinho pegou no meio, foi fantástica. Ele levou o time ao vice-campeonato. No ano seguinte ele foi eleito o melhor do mundo e levou o time, que vinha tão mal que quase afundou a carreira de Riquelme, ao campeonato. Na Liga dos Campeões, apesar de ótimas atuações, inclusive contra o Chelsea, acabou desclassificado pelo clube inglês.
Na atual temporada, Ronaldinho Gaúcho, ao lado agora de Messi, a maior promessa de semideus da atualidade, continua arrebentando. Campeão da Copa das Confederações, campeão espanhol, conseguiu a façanha de ser aplaudido pela torcida do Real Madrid depois de uma vitória de 3 x 0 na casa do adversário! O brilhante dentuço fez os dois últimos gols, quase idênticos, arrancando desde o meio-campo e driblando todo mundo no caminho antes de soltar uma pancada na meta adversária. O estádio Santiago Bernabeu irrompeu em aplausos.
Ronaldinho Gaúcho é muitas vezes acusado de não jogar na seleção o que joga no Barcelona e alguns até sugerem falta de empenho em representar a pátria, que não é quem paga seus salários. Uma explicação mais óbvia talvez seja que o Barça jogue em função dele e que seus toques rápidos de primeira e lançamentos funcionam melhor quando ele treina todo dia com os sujeitos que os recebem. De raciocínio muito rápido, ele tem atuação muito melhor quando já sabe antes de receber a bola onde seus companheiros estarão. A favor desta hipótese estão suas atuações na Copa de 2002, principalmente contra a Inglaterra e Alemanha, quando ele já estava bastante entrosado com seus conterrâneos.
Ronaldinho Gaúcho é o grande candidato a estrela maior da Copa da Alemanha, mas ele mesmo diz que prefere armar as jogadas para Ronaldo Fenômeno, que provavelmente jogará seu último Mundial. Em suas declarações ele sempre mostra tranquilidade e humildade e é consideravelmente mais discreto que os "Ro" anteriores, Romário e Fenômeno. Mas não quando está com a bola nos pés.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário