maio 20, 2008

Do Tempo dos Vendedores de Porta em Porta

Estou lendo meu livro tranquilamente
Quando toca a campainha.
É o vendedor de enciclopédias
prometendo milhões de cores,
dinossauros, aventuras, guerras,
átomos e viagens ao espaço.
Eu assino notas e notas promissórias e
parcelas e parcelas e parcelas - sem juros!
e ele deixa livros grandes, multicores e plastificados, mas eu
tento voltar a ler tranquilamente o meu livro
sem ilustrações, com páginas de papel
Mas toca a campainha e é a vendedora da Avon
E seus cosméticos e sua linha de maquiagem,
seus sabonetes e suas cores
me seduzem e compro produtos que nunca usei ou que me farão mal
E ela sai e eu tento voltar a ler tranquilamente o meu livro
Mas toca a campainha e é o vendedor de super-8,
projetor e até mesmo alguns filmes
E lá se vão mais e mais notas de compra
junto com o vendedor satisfeito
Então tento voltar a ler tranquilamente o meu livro
quando toca a campainha.
Atendo, que ingenuidade, é o ladrão.
Que, fascinado, leva meu super-8, os produtos da Avon e as enciclopédias
E sai, carregado, vai agradar a patroa e as crianças, além de tudo.
E fico eu, finalmente capaz de ler tranquilamente o meu livro
enquanto a tevê ao lado tagarela, sem que eu a assista.

Ah, se pelo menos fosse em cores...

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