maio 25, 2008

Fantasmas (em trabalho)

Os fantasmas são os piores. Porque eles existem, eu sei, mas o resto das pessoas não sabe, então eu não posso chegar pra minha médica e dizer que ultimamente tenho me sentido pior porque os fantasmas andam me seguindo pra tudo que é lado, até quando eu tô trepando - e alguns não entendem porra nenhuma das cordas e dos prendedores de mamilo - aí é que ela ia me internar mesmo, mas não é isso, não é a cabeça, eles estavam por perto muito antes do resto, eles já estavam por perto quando eu era garota, eu só não sabia quem eles eram, eles sim, eles é que sempre souberam quem eu era, sempre, mesmo que eu, eu mesma, eu mesma não saiba até hoje.

São três dias, três dias já, nunca levou tanto tempo, nem em nenhuma menstruação, nem daquela vez que o Gusta me cortou com a faca, nem quando eu perdi a virgindade e eu nem sei, já nem sei do que eles estão atrás, de que sangue eles estão atrás, que sangue eles querem, qual sangue, se eles querem meu sangue, terão o meu sangue, verão o meu sangue só no fim, já até joguei as agulhas fora, mas eles continuam me seguindo, não, não é verdade, eles não vêm me seguindo, eles só pairam, só ficam por aqui, aqui pelo prédio, rodando pelo prédio, pelos corredores, pela escada, no elevador, no hall, na entrada do apartamento, na sala, no banheiro, no quarto, no meu quarto, sobre a minha cama, sobre a minha cama na hora de dormir, não é a hora de dormir, não, não é, eu não durmo, eles não deixam, eu não durmo, eles só ficam olhando, olhos nos olhos, abertos ou fechados, não adianta eu fechar que eles continuam olhando, eu continuo olhando, eu continuo olhando mesmo com os olhos fechados, sem dormir, sem sonhar, sem alucinar.

Só vendo aqueles fantasmas.

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