setembro 09, 2008

Sobre Denílson e a Beleza das Mulheres

Denílson é aquele ponta-esquerda mesmo, acho que está no Palmeiras agora. Quando ele surgiu no São Paulo em 96, 97, qualquer atleta um pouquinho mais dotado no clube já recebia a pecha de gênio e grande promessa (geralmente não cumprida). Desde Bernardo (que apareceu em 86 e estava sendo preparado já para a Copa de 90, segundo a diretoria) a Grafite, passando por Elivélton, Zé Carlos, Silas, Vítor, Palhinha, Mário Tilico, França. Mesmo aqueles que conseguiram uma bela carreira como Raí, Juninho Paulista, Muller, Dodô e Luís Fabiano ficaram muito aquém do que projetados quando no começo. Minha enorme resistência inicial a achar que Kaká fosse craque vinha desse histórico.

Mas digressiono, o que é a vantagem de escrever num blogue com espaço ilimitado. Denílson apareceu como um furacão, driblando pela esquerda. Foi levado para a seleção e vendido como craque, já que era habilidosíssimo nos dribles. E nada mais. Galvão Bueno e Casagrande exaltavam seu talento, mas não os culpemos, pois a maioria dos torcedores concordava com eles. Ele foi vendido por um preço récorde para a Espanha e começou a não mostrar muita utilidade com a amarelinha, indo parar na reserva.

Mesmo no clube, acho que o Bétis, começava a ser questionado. Atrasava as jogadas com firulas desnecessárias e sempre pensava primeiro na finta e nunca no passe rápido que poderia dar origem ao contra-ataque. Quando criticado, dizia que fora driblando que chegara à seleção e assim continuaria. Perdeu a vaga na seleção, acabou na reserva e até chegou a campeão mundial. Sua função era pegar a bola e ficar rodando com ela matando o tempo quando faltavam uns dez minutos. Exemplar foi o jogo contra a Bélgica. Denílson entrou e em três ou quatro contra-ataques pela esquerda, fintou, fintou e fintou até perder a bola. Kléberson entrou e no primeiro contra-ataque pela direita, simplesmente rolou a bola para o Fenômeno completar sozinho, matando a partida e selando a classificação. Kléberson não saiu mais do time.

Agora, aos 30 anos, ele voltou ao Brasil e finalmente se disse arrependido e entendeu que jogou sua carreira no lixo. Talvez se ele fosse menos habilidoso, não tivesse tanta facilidade de driblar, tivesse se dedicado mais a aprender tática, estratégia, a passar de primeira, a ajudar na marcação. Um amigo meu costumava dizer que, se tivesse metade da habilidade do Denílson, seria um dos cinco melhores jogadores do mundo. Provavelmente se o Denílson mesmo tivesse tido metade do talento com que nasceu pra jogar bola também teria sido um atleta bem superior.

O que nos leva à beleza das mulheres. No famoso filme CIDADE NUA todo mundo lembra da frase dita em off - "Nova York tem cinco milhões de histórias. Esta é apenas mais uma delas". A outra cena que todo mundo lembra é quando os pais do interior vêm reconhecer o corpo da filha assassinada. Ela era tão atraente que largou sua cidade e foi tentar a vida de modelo na cidade grande, caindo no mundo das drogas, festas e marginalidade. Os pais a reconhecem e a mãe se lamenta, "por que ela tinha que nascer tão bonita?"

Mulheres bonitas têm um poder sobre os homens que podem levá-las - enquanto a beleza e a juventude durarem - a subir de vida com uma facilidade inacreditável para quem acredita que importante é a beleza interior. Ao mesmo tempo, como o talento de Denílson, podem arrasar sua carreira. Como um executivo cercado de sicofantas incapazes de dizer "não", podem ir de decisão errada em decisão errada ladeira abaixo.

Em Natal conheci uma menina de 22 anos, de família com grana. Ela tinha um filho que morava com a mãe dela ("já ouviu falar de crianças criando crianças? Por isso que ele fica com a minha mãe"). Morava sozinha num apartamento meio vazio. Por que meio vazio? Porque alguns meses antes ela cheirara tudo que tinha em casa - uma tevê de 33 polegadas (uma fortuna naquela época), uma aparelhagem de som, um DVD... ela parara com as drogas depois que o noivo e a mãe a internaram numa clínica de recuperação e estava feliz que a mãe confiara nela o suficiente para lhe dar uma tevê de 20 polegadas.

Mas não confiava o suficiente para lhe dar mais dinheiro do que o estritamente necessário para as despesas. Se ia precisar pegar um ônibus, ela dava o dinheiro da passagem e mais nada. Quando nos conhecemos, ela me pediu uma grana pra comprar um pouco de maconha e, olhando praquele corpão (e ainda por cima inteligentíssima, o tipo da mulher que amedronta muitos homens e com certeza me amedrontaria nos meus 22 anos), como dizer não? Ainda tentei racionalizar usando o argumento dela, de que "maconha não é droga", mas a verdade é que eu queria comê-la e não iria discutir o que achava que fosse melhor pra ela.

E esse era o problema. Fomos a uma praia onde ela encontrou um sujeito mais velho e conhecido dela que imediatamente lhe ofereceu drogas ("volta aqui semana que vem que vai chegar um ácido"). Ele provavelmente não falava isso pra todos os amigos dele, mas com certeza para todas as meninas gostosas que ele conhecesse. Em quanto tempo aquela garota, numa cidade em que não se tinha nada pra fazer, iria cair de novo no seu problema?

Outro exemplo foi uma menina muito bonita, inteligente e talentosa que namorei anos atrás (suspiro - por que mulheres inteligentes normalmente são problemáticas? Por que pessoas inteligentes normalmente são problemáticas. Ora, seu idiota, é o contrário, pessoas problemáticas acabam tornando-se inteligentes). Na mesma época, como sói acontecer, ela terminou um casamento de dez anos e encontrou-se desempregada (a vida é assim - meses e meses se passam sem que nada aconteça e de repente então tudo ao mesmo tempo agora. Tenho uma peça premiada sobre o assunto) e quando ficamos juntos ela estava fazendo seus planos para o futuro, o que incluía fazer uma faculdade. Minha sugestão foi que ela fizesse Direito (na verdade, uma sugestão também não muito boa, já que ela não tinha a menor afinidade com isso, mas eu estava pensando em termos práticos), mas ela queria fazer jornalismo. Tendo eu feito jornalismo, expliquei pra ela que ela entraria na faculdade aos 30 anos e se formaria aos 34 e que numa carreira em que as vagas de verdade são muito poucas e mal pagas, ninguém que realmente valesse a pena iria contratar uma foca ou estagiária de 34 anos. A resposta foi, "mas tenho um amigo jornalista que acha que eu tenho tudo pra dar certo como jornalista!" Sim, ela era talentosa, mas é óbvio que qualquer macho heterossexual iria concordar com ela quando ela perguntasse algo assim. Quantas vezes eu mesmo já concordei com coisas que iam diametralmente contra o que eu pensava apenas para me aproximar de uma mulher bonita?

Algumas mulheres bonitas sobem na vida usando seu poder sobre os homens. Quantas promoters, produtoras culturais, modelos e marias-chuteira não vieram do nada cavalgando apenas sua esplêndia aparência? Outras deixam-se enredar justamente por esse tremendo poder(principalmente quando de famílias com recursos que lhes permitam sonhar com objetivos maiores do que ganhar o pão de cada dia), tão coisa mais maior de grande que ele é. Pergunta pra gente como Gene Tierney ou Veronica Lake (1).

(1) Lendo sobre a vida de Gene Tierney, a LAURA do famoso filme noir, chocou-me saber que o marido a traía desbragadamente. O primeiro pensamento é "por que alguém casado com a Gene Tierney iria querer dormir com outra mulher?" No entanto, ela não foi a única a sofrer por um marido bem menos famoso que a corneava, embora ela fosse perdidamente apaixonada por ele. Um pouco de raciocínio lógico, entretanto, esclarece a questão. A imensa maioria dos mortais fica intimidada com mulheres lindíssimas, ricas e famosas. O único tipo capaz de cair matando em cima de uma presa dessas é aquele sujeito meio canalha, meio mulherengo, com muita fé em seu taco. O tipo de cara que faz da traição e da poligamia um princípo de vida. Não faz sentido?

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