janeiro 22, 2011

A Fronteira Final - A Série Original de Star Trek - A Clássica Jornada nas Estrelas

Por Qualquer Outro Nome




*pelo blogueiro convidado Roger Filósofo


De um modo geral, os roteiristas da série original de Jornada nas Estrelas gostavam de criar situações nas quais poderiam enaltecer as qualidades humanas. Não só as cognitivas, mas, sobretudo, os sentimentos da espécie - nem sempre os mais nobres. Capitão Kirk e sua tripulação eram rotineiramente expostos a seres e máquinas que demonstravam força e inteligência muito superiores às nossas. Não obstante, sempre conseguiam uma maneira de superar essas dificuldades com astúcia e apelos emotivos típicos.

Desnecessário relacionar todos os episódios em que se procedeu assim. Basta examinar o caso exemplar do divertido Por Qualquer Outro Nome, dirigido por Marc Daniels, que foi ao ar em 23 de fevereiro de 1968. Nessa história, a tripulação da Enterprise é tomada de refém pelos kelvans, seres da galáxia de Andrômeda, muito mais avançados tecnologicamente, que, depois de um acidente, capturam a nave por meio de um pedido de socorro ardiloso, a fim de poderem voltar para seu planeta e invadirem os domínios da Federação. As armas que possuem permitem reduzir a maior parte da equipe a sua essência mínima em um pequeno sólido geométrico. São também capazes de adaptar as máquinas para operarem de maneira que possam levá-los em velocidade surpreendente de um lado a outro do universo. Ameaçado de ver toda humanidade subjugada pelos alienígenas de Andrômeda, Kirk tem a ideia bem sucedida de provocar sensações humanas incontroláveis nestes seres que se disfarçavam em corpos humanos, mas que desconheciam suas potencialidades emocionais. Com a confusão de ciúmes, atração sexual, embriaguez e fúria os kelvans aceitam se render aos apelos dos trekkies e procuram ter um entendimento amigável com todos.

Na época que Jornada foi ao ar pela primeira vez, já eram comuns as críticas pós-modernas ao domínio da racionalidade sobre a formação do indivíduo, enquanto se defendia a valorização das narrativas subjetivas que cada pessoa faz da história de sua vida. Em um contexto mais amplo, isso significaria que todas as afirmações teóricas de qualquer um, seja cientista ou não, não passariam de uma construção feita sobre o mundo tal como a expressão de um fato e não uma descrição verificável racionalmente.

Jornada nunca pretendeu ser uma série simpatizante do pós-modernismo. Pelo contrário, por vezes, defendia as conquistas positivas das ciências e as soluções racionais para os problemas da humanidade. No entanto, persistia uma tendência em valorizar as atitudes emotivas diante de desafios postos por entidades superiores. Uma tendência que em Filosofia Prática costuma ser definida como boo-hooray. Boo-hooray – ou “choramingas” – é o termos pejorativo usado para designar as teorias éticas emotivistas que sustentam que as regras morais expressam afetos ou sentimentos e não querem afirmar a verdade ou falsidade de uma ação que envolva perda e ganhos entre agentes.

Dorothy C. Fontana foi quem adaptou a história de Jerome Bixby para Por Qualquer Outro Nome. Aqui o choque entre razão e emoção se faz notar de novo e a solução se volta para os aspectos sentimentais e atrativos sexuais da espécie humana. Uma solução fácil, tendo em vista o fato de que quem escreve a narrativa é uma humana e não um vulcano, alien, ou kelvan. Eventualmente, uma resposta emotiva pode ser a melhor escolha a se adotar em algumas situações nas quais a mera razão não possa atuar de modo eficaz sozinha. Contudo mesmo para que essa escolha possa ser considerada adequada é preciso que se faça uma avaliação racional, prévia ou posterior à ação, para saber se emoções podem ser utilizadas em benefício do agente e talvez das outras pessoas envolvidas, em certas ocasiões. De resto fica faltando explicar também como emoções e sentimentos podem superar o ponto de vista “especista” dos autores de romances sem que tal superação pareça arbitrária de uma perspectiva geral. E se o apelo emocional pode responder questões de valor de verdade quando se tratar de, por exemplo, atribuir responsabilidades aos agentes que cometerem ações que atinjam outras pessoas. Mas essa é, bem como as outras, uma objeção que transcende os limites de uma série de entretenimento e mesmo poucos filósofos estão em condições de rebatê-la prontamente.

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