novembro 09, 2008

Festival Panorama de Dança 2008

Tierra de Mandelbrot - Plano Difuso, por Edgardo Mercado


Os efeitos de projeção que Eduardo Mercado consegue em seus espetáculos são sensacionais. Em Tierra de Mandelbrot, principalmente, ele desconstrói a figura humana num efeito similar ao cubismo. E o uso de perspectivas forçadas, sobreposições inesperadas e repetições dos gestos no fundo consegue uma desorientação do espectador quanto ao corpo e ao movimento.

O corte e recorte das bailarinas (que aparecem nuas e sem pêlos púbicos apenas muito rapidamente) através de linhas retas que parecem escaneá-las, a precisa projeção de pixels que desmontam suas formas e as despersonalizam numa grande de pontos, seus rostos inexpressivos, a economia dos gestos, sempre acabando por levá-las ao chão, transmitem uma gélida sensação de desumanização, como se Mercado quisesse transmitir um quieto desespero pela ascensão da máquina e da tecnologia sobre o espírito humano.

Essa leitura, entretanto é contradita pela própria estética do espetáculo, inegavelmente celebrando a beleza do corpo humano desconstruído digitalmente. É este tipo de paradoxo que costuma aborrecer o blogueiro, que realmente apreciou os efeitos conseguidos com o barateamento dos projetores DLP e do poder de processamento. Particularmente interessante foi a sobreposição de figuras filmadas dos bailarinos sobre os próprios, recriando ao vivo o “rastro” que Norman McLaren celebrizou em seu curta experimental “Adágio” (e depois foi imitado à exaustão por programas de tevê). Num desses momentos, a imagem do dançarino gira sobre o próprio parado em cena, inegavelmente impressionando a platéia. Também há coreografias com as bailarinas passando sobre e sob suas doppelgangers digitais que chegam quase à perfeição de hologramas.

Em suma, com um pouco menos de elegância impassível e um pouco mais de genuína alegria, o blogueiro comungaria mais com os artistas que criaram um belo espetáculo, mas que acabam celebrando apenas o corpo humano e a máquina, deixando em segundo plano o espírito, justamente o que impressionou mais no quase adolescente (no bom sentido) “A glimpse of hope”.

Sem comentários: