março 18, 2008

Quatro Lendas Urbanas sobre Roberto Marinho

1. A Tv Globo, mesmo no auge da onda retrô dos anos 80, quando passava no Classe A diariamente filmes preto-e-branco, noir, cheios de Humphrey Bogart e Hitchcock, nunca exibiu Cidadão Kane por causa das semelhanças com a vida de um outro certo jornalista dono de jornal órfão que tornou-se muito poderoso.

Na verdade, a Tv Globo parecia ter um desprezo quase completo por Orson Welles, a não ser como ator, mesmo assim marginalmente. Seus horários destinados a filmes antigos nunca passaram nenhum Welles: nem Kane, nem Soberba, nem a Dama de Shangai, nem O Estranho (exibido às vezes na TvE), nem A Marca da Maldade (também passou na TvE), nem Grilhões do Passado, nem O Processo (também exibido na TvE), nem Verdades & Mentiras.

2. Roberto Marinho promoveu a idéia da Olimpíada no Rio em 2004 para coincidir com seu centenário.

O velho dono da Globo nunca se mostrou particularmente vaidoso ou megalomaníaco, apesar de todo o poder de que dispunha. Preferia ficar nas sombras, em vez de se envolver diretamente em política ou nessas promoções. Pouco provável.

3. O Túnel Rebouças não tem saída no Cosme Velho em seu sentido Tijuca-Zona Sul porque Roberto Marinho não queria acesso direto de suburbanos à porta de sua casa.

Não sou da época, mas acho que, quando da construção do Rebouças no começo dos anos 60, antes da fundação da Tv Globo em 1965, o Robertão ainda não tinha esse poder todo. Talvez ele tivesse alguma amizade pessoal com o Lacerda, ou, mais provavelmente, uma pressão dos moradores em geral daqueles casões que têm lá na subida das Paineiras tenha levado os administradores da cidade a não criarem essa saída.

4. Roberto Marinho temia que, assim que morresse, seus herdeiros levassem a Tv Globo para São Paulo e, por isso, insistiu na construção do Projac, para tornar essa mudança impraticável.

Bendito seja o Projac, porque se o Rio de Janeiro ainda (apesar da insistência dos paulistas) é o centro cultural do Brasil é porque a Tv Globo é o pólo disseminador da cultura carioca. Existem certos indícios concorrendo para a veracidade de pelo menos parte desta história. As Organizações Globo sempre tiveram uma preferência por alugar seus imóveis em vez de comprá-los, o que, numa economia (e política) instável como a nossa, sempre foi uma boa opção - basta ver o elefante branco do extremamente pretensioso (e caro) edifício do Jornal do Brasil no começo da av. (dã) Brasil, que levou a empresa a se endividar e começou o lento ocaso do diário mais importante dos anos 70. Talvez Roberto Marinho realmente temesse o fim do Rio de Janeiro, ou talvez ele soubesse que o diferencial da Globo era justamente sua inconfundível carioquice e uma mudança para o altiplano paulistano a equalizaria aos concorrentes.

Alguém teria alguma informação sobre essas historinhas?

3 comentários:

Anónimo disse...

Curioso, eu conhecia a lenda 3 em sua versão oposta: o Lacerda havia brigado com Roberto Marinho por conta de um empreendimento imobiliário que seria erguido no Parque Lage. Daí, para impedir que ele tivesse a comodidade de pegar o Rebouças diariamente para ir e voltar de O Globo, Lacerda vetou as ligações Zona Norte- Cosme Velho.

Ave disse...

Legal, fica o registro.

Anónimo disse...

até aqui o cara vem babar o ovo do patrão!