outubro 13, 2011
Festival de Cinema do Rio: Alien Lésbica Solteira Procura
Apesar de toda a homofobia e dos pastores e defensores das maiorias, não se pode negar que hoje em dia, pelo menos nos grandes centros urbanos, a vida pra casais homossexuais não é mais aquele amargor de culpa, prisão e perseguição constante. Mesmo assim, a maior parte da população é careta, se veste de forma diferente e se comporta como se houvesse algo de errado com quem não age como eles. O que deixa o povo diferente se sentindo como verdadeiros alienígenas.
Daí pra botar no mesmo saco xenoviventes e uma pobre e solitária lésbica, ainda por cima gorda e num emprego que não a entende é um pulo. Que a diretora Madeleine Olnek, de "Alienígena lésbica solteira procura" deu sem nem precisar gastar muita grana - a produção é hiperarquimegaparatranstrash. A desculpa esfarrapadíssima pras suas alienígenas virem parar na Terra é que suas emoções estão destruindo a camada de ozônio de seu planeta. Daí a solução é levar uns pés na bunda pra endurecer o coração e que melhor lugar pra isso do que Nova Iorque? Os filmes de Woody Allen devem ser muito cultuados lá na terra deles.
Mas Olnek na verdade prefere Jim Jarmusch. Faz sentido, afinal foi um cineasta que fez seu nome sobre gente sentindo-se alienada na sociedade. Embora a fita tenha um humor e um certo narcisismo típico de galera de vinte e poucos anos, Olnek trai a idade justamente com o seu óbvio fascínio por cinema dos anos 80 - e filmes de ficção científica B dos anos 50 (que também faziam muuuuuuuuito sucesso na década do new wave). Dá pra perceber influência de Repo Man, Liquid Sky e até mesmo do Woody Allen d'antanho. Raios, os episódios com fregueses na loja chegam mesmo a lembrar "O balconista".
Não por coincidência, todo esse povo acima (menos o Alex Cox) gostava de filmar em preto e branco, as cores deste longa. Olnek tenta desconversar dizendo que é pra remeter pras fitas B dos anos 50 e 60, mas a fotografia e mise-en-scène são muito mais parecidas com a turma dos 80 que das décadas anteriores.
A diferença de Olnek pra galera da onda pós-punk é que Cox e Jarmusch podiam ter historinhas relaxadas, mas eram carregadas por personagens ricos e bem delineados. O que não acontece aqui. A película é uma colagem de esquetes, em torno do romance principal da enjeitada lésbica acima do peso, que anda de bicicleta em vez de carro, e usa óculos, com a alienígena exilada. Outras xenomossexuais também aparecem, bem como dois homens de preto, com diálogo claramente improvisado e que não funciona na maioria das vezes. Estes realmente só entraram no bolo pra dar metragem suficiente pra "Alien..." ser considerado um longa. De resto, a metáfora inicial logo gasta o humor inerente a ela e depois de meia hora a fita já está apelando para danças esquisitas e piadas sobre relacionamentos (como se chamaria esse gênero? Mulheres são de Marte e Mulheres são de Vênus?)
"Alien lésbica solteira procura" renderia muito mais se tivesse permanecido como um curta ou mesmo um média, acabando antes de enveredar por fazer gracinhas com dieta e extraterrestres se comportando excentricamente. Mas quem pode contar mais sobre as intenções da diretora é o Pedro Henrique Barros, que também estava na sessão de quarta, e já tinha virado até chapa da moça...
... que já tinha até lhe dado uma camisa do filme...
... e que iria sair pra, além da entrevista, contar mais num chope com ele, mas foi proibida pela produção do festival. Quer dizer, segundo o Pedro. Assim que ele aprender a usar a internet, ele posta mais sobre o assunto aqui. Que não demore muito. E que ele tenha uma vida longa e próspera.
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