outubro 12, 2011

Festival de Cinema do Rio: Valsa das Flores

O ganhador do Oscar do ano passado, "Guerra ao terror", falava sobre o baixo astral que era desarmar bombas em terra estrangeira porque o povo que você queria ajudar não queria você por lá. Pfffft. Muito mais barra pesada é desarmar bombas em seu quintal, com gente desqualificada porque os capazes estão na guerra, tudo porque um bando de forasteiros não quer você em sua própria terra. Um tremendo ponto de partida para uma fita, pena que "Valsa das flores" não é nada disso. Aliás, com esse título ou seria um longa muito irônico ou muito melodramático. Adivinha qual caminho os diretores Alyona Semenova (uma moça) e Aleksandr Smirnov tomaram?


Enquanto Zhukov ia chutando o rabo dos nazistas de volta pra Alemanha, os russos tinham que lidar com milhares de campos minados deixados pra trás pela Wehrmacht. Os homens estavam no exército, as mulheres algumas também no exército e outras nas fábricas. Então só sobravam as meninas pra tarefa. Um curso expresso sobre como desarmar minas e vambora, pra labuta!

Coincidência ou não, o protagonista tem o mesmo sobrenome do diretor, Smirnov, sem aparente parentesco com a vodka parônima. Mas, tirando o sobrenome, o resto - atitude, semelhança, modo de atuar, é tudo do Gabriel Byrne, lembra quando ele reinava supremo fazendo papel de Gabriel Byrne em tudo que era filme? É o caso aqui. Ele faz seu ar sofrido de personagem noir com um segredo no passado e se recrimina o tempo inteiro por mandar moças bonitas para a morte quase certa com um treinamento tíbio. A solução para este profundo dilema ético que lhe devora a alma e as entranhas? Comer as moças, é claro. A impressão que se tem é de que a guerra é ruim porque atrapalha o romance dos protagonistas.

O longa parece uma produção de classe feita para a tv. Um daqueles filmes do HBO sobre episódios obscuros da guerra. A contribuição da codiretora é óbvia no clima de colégio interno e camaradagem que rola entre as moças. É um tanto refrescante também ver que comunistas eram pessoas assim como nós, com as mesmas preocupações. Até o investigador político é gente boa - e competente. Tudo bem que vivem numa ditadura que manda garotas desarmarem minas e, quando uma delas, num faniquito, diz que odeia Stalin, deixa as colegas apavoradas achando que vai ser fuzilada (na verdade, Smirnov a executa de uma maneira apenas metafórica...)


Em compensação, mesmo as mais pobres camponesas do cu do mundo são alfabetizadas (só um oficial que não, o que é bastante estranho, já que ele é quem dá o curso, mas isso é esclarecido no final) e todas, todas são atraentes. Parece filme americano mesmo. Uma pena, pois a primeira e inesperada morte é uma surpresa para o espectador (lembrando a aleatoriedade de "O salário do medo") e os personagens (digamos que o falecido deveria ter visto "Lawrence da Arábia" com mais atenção). Mas a partir daí os acidentes com bombas se tornam previsíveis, os romances se tornam previsíveis, as reviravoltas de roteiro se tornam previsíveis - por Lênin, tem uma que pode ser adivinhada com cinco minutos de filme e é tão óbvia que não podemos acreditar que eles REALMENTE fizeram isso. Aí os dez minutos finais têm um monte de surpresas, amarram alguns fios soltos com quem ninguém realmente se importava e inventa uma cena melodramática pra consertar tudo e dar final feliz pra todo mundo - ou tipo um final feliz. Aquele jeitão mesmo de fita pra tv sobre episódio obscuro da vida. Um ritmo um tantinho diferente e um clima um pouquinho forasteiro, mas de resto muito parecido com o que se vê na sua operadora a cabo. Desta forma, são duas horas que passam fácil, mas tem muita coisa mais desafiadora pra ver nesse Festival do Rio.

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