outubro 09, 2011

Festival de Cinema do Rio: Chapeuzinho Vermelho do Inferno


Uma menina vestida de vermelho no meio de uma floresta escura e um lobo a fim de devorá-la. E tudo nele é grande, a ponto de deixar a menina assustada: olhos, ouvidos, mãos, pés e o resto só olhando mais de perto. Metáforas mais sutis aparecem em minissérie da Globo ou na Nova Geração de Jornada nas Estrelas. Na versão mais antiga, de Perrault, que termina sem resgate nenhum, mas com o ladino lupino comendo a Chapeuzinho, ele ainda se dá ao trabalho, como num filme americano, de sublinhar a mensagem:

“As crianças, especialmente moças atraentes e de boa formação, nunca devem falar com estranhos, pois podem muito bem acabar servindo de jantar para um lobo. Eu digo "lobo", mas existem vários tipos de lobos. Há também aqueles encantadores, tranquilos, educados, humildes, complacentes e doces, que perseguem as jovens em casa e nas ruas. E, infelizmente, são esses lobos gentis os mais perigosos de todos.”


Com tudo isso, não é de admirar que as duas melhores versões da fábula pra tela sejam inconfundivelmente sobre sexualidade. Uma delas você pode ver lá embaixo desta postagem, a outra é exatamente o rito de passagem da puberdade de uma adolescente problemática, “Na companhia dos lobos”, de Neil Jordan, com um clima mágico e de mistério que remete à atmosfera de maravilhas e ansiedades que é a época da descoberta do amor e do sexo.

Mas não é nada disso que o espectador vai encontrar nesta Chapeuzinho Vermelho cubana. José Molina está na mesma classe de cineastas que Jesús Franco e José Mojica Marins. Ou você tem estômago pra ele ou não. É tudo um a questão de pervers, digo, preferência pessoal. No quesito talento, o cubano Molina está entre os dois - Franco às vezes consegue botar de pé boas películas, mas normalmente sua obra é um tanto desleixada e preguiçosa. Pelo menos neste longa Molina mostra uma coerência temática e uma composição visual firme, embora bastante prejudicada pelos limites do orçamento.

Molina no entanto não consegue se aproximar da intensidade de Marins mesmo da ocasional de Franco. Desde o começo ele deixa claro que não é pra levar nada daquilo a sério. Uma vovozinha (interpretada por homem e extremamente parecida com a Vovó Mafalda cheirada indo pruma festa dark) domina uma família incestuosa (o seu neto é também seu filho, tem problemas mentais e parece Jesus Cristo) e comanda estupros e palmadas em bundas nuas como punição na mesa do jantar. Numa noite particularmente agitada, ela acaba tendo um ataque, do que se sua nora (e sua bela filha adolescente) e seu único filho íntegro se aproveitam pra fugir. No entanto, eles ainda têm que cuidar da velha mandando através do idiota semicristo cestas de comida para a anciã. Como as refeições costumam chegar podres, a velhinha, que ainda é dona das terras, entra na Justiça pra expulsar a nora e a neta.

Uma velhinha que domina a vida de todo mundo, tem um problema de saúde, o que libera o pessoal um pouco, mas ainda subsiste à custa deles e mantém seu poder? Onde as ditaduras arrumam seus censores?


A fita ainda está cheia também de diatribes contra o catolicismo e a repressão sexual (incluindo uma bela alucinação com a vagina dentata) e, principalmente, muita nudez (mais feminina do que masculina, obviamente), deixando claro que na ilha da Vovó Mafald, digo, de Fidel, digo, de Raúl, pentelhos still rulz.


Com baixíssimo orçamento, talento pra coisa, muita galhofa, pornochanchada e muita, muita baixaria e caricatura, o longa cria um clima trash pervertido demais pra parecer com Ivan Cardoso e irônico demais pra parecer José Mojica Marins, mas depois que o espectador entra no clima, passa rápido (a fita tem pouco mais de uma hora) e... como dizer... agradavelmente? A plateia da meia-noite de sexta riu bastante com o fetichismo na tela, mas perto do blogueiro quatro pessoas saíram antes de meia hora de projeção. Como já dito antes, a avaliação do filme vai depender de quanta perversão o vivente que o assistir leva na alma. Quem tiver inclinação pra coisa pode até se divertir.

E, como prometido lá em cima, a outra melhor versão da história pras telas:


Repare nos detalhes: o carro, o poste, o drinque do lobo... o desenho está cheio de símbolos fálicos. E um dia o blogueiro vai comprar um martelo de plástico pra bater na cabeça quando passar uma mulher bonita

2 comentários:

Sonja Paskin disse...

ahh quero ver, como faz?

Ave disse...

Ainda passa na sexta 14, às 18:20h, no Estação Gávea 2, e nodia 18, às 13:20h, no Estação Barra Point 2).