maio 05, 2009

A FRONTEIRA FINAL - A Primeira Temporada de JORNADA NAS ESTRELAS - A série clássica

Um papo sobre alguns episódios da primeira temporada da TOS (The Original Series)

“Apenas praticando uma variedade peculiar de diplomacia”
(Capitão Kirk, ao descarregar todos seus canhões phaser contra um planeta hostil)

O Fator Alternativo
Um Gosto de Armageddon
Semente do Espaço

Blogueiro Convidado: Marcos Pedrosa*
* A opinião dos blogueiros convidados não reflete necessariamente a do blogueiro titular


A “Primeira Diretriz”, aquela que proibia a Enterprise de intervir em assuntos internos de outras civilizações, era como a lei do Jânio que proibiu biquini nas praias: simplesmente não pegou.



E por isso a primeira temporada de Star Trek, a original, a verdadeira, a mítica, a nérdica, é tão empolgante. Kirk, Spock, McCoy e companhia não entravam nessa de “respeitar outras visões de mundo”, “aceitar diferenças”, “caminhar rumo ao multiculturalismo” se isto significasse se omitir em libertar povos inteiros de tiranias burocráticas (“Gosto de Armagedon”), impedir utopias cientificistas do tipo super-homem (“Sementes do Espaço”) ou salvar dois universos do colapso total (“Lazarus”). A série começou a ser produzida em 1966, portanto antes do politicamente correto, quando o século 23 era uma época em que se podia confiar. “Estas são as viagens da nave estelar Enterprise em sua missão de 5 anos para descobrir novos planetas, novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”. Não “cautelosamente indo” nem “diplomaticamente indo”. Aliás, em “Gosto de Armagedon”, é o embaixador da Federação, um tipinho repulsivo e arrogante, de modos aristocráticos e pouco viris, quem paga o maior mico ao ser enganado pelas vãs promessas de paz do Ahmadinej..., quero dizer, do primeiro-ministro do planeta em guerra virtual (com bilhões de mortes reais) há 500 anos.

Não que a Enterprise fosse militarista ou habitada por brucutus ou seu capitão se chamasse Nascimento. A trinca de oficiais superiores se envolve em discussões que vão de Platão a Einstein, Clausewitz a Napoleão, Nietzsche a John Milton, tudo isso em apenas TRÊS episódios (os que eu assisti, são 26 no total), e só usa a força como último recurso. Só que eles tinham bons princípios e armas melhores ainda - e não toleravam opressão, injustiça, crime. Embora nem sempre usassem esse poderio para defender a própria integridade: você já viu 4 tripulantes do setor de segurança ficarem apenas observando o seu capitão lutar sozinho contra um maníaco que pretende destruir o universo ? E quando esse mesmo maníaco ameaça em alto e bom som, pra geral da galáxia ouvir, que vai roubar a principal fonte de energia da nave, ninguém coloca o cara sob custódia em seus aposentos, deixam-no passear soltinho pelos corredores da Enterprise e roubar a principal fonte de energia da nave.


É interessante observar como, logo na primeira temporada, os personagens principais e as interações entre eles já estavam perfeitamente delineados: o Senhor Spock é o falso frio, mal disfarçando num movimento de sobrancelhas toda sua impaciência com os argumentos “ilógicos” do Doutor McCoy, o idealista apaixonado, mordaz e arguto que frequentemente recebe o apoio do Capitão James Tiberius Kirk para zoar o vulcano. O humor está sempre presente, mas perfeitamente inserido na trama (numa cena engraçadíssima, Spock distrai o guarda inimigo com um inusitado “Senhor, há uma criatura de múltiplas pernas rastejando pelo seu ombro”, para que o guarda vire o rosto e deixe o outro ombro exposto para o famoso golpe de desacordar). Ao contrário da maioria das séries dos dias atuais, a narrativa é inteiramente não-naturalista. Sempre na abertura, nos primeiros 50 segundos de cada episódio, o telespectador já é informado do plot e vai-se nesse ritmo alucinante até o fim. Não se perde tempo mostrando o Capitão acordando ao lado de alguma ordenança, os tripulantes secundários conversando sobre a noitada da véspera ou o Spock limpando os ouvidos com cotonete (ei, mas esta até que seria uma cena engraçada, anota aí pro próximo filme). Não tem nada a ver também com algumas das séries que foram sua seqüência: Nova Geração ou o chatíssimo Deep Space Nine, onde se perde um tempo enorme com reuniões de condomínio e o cotidiano de uma estação espacial – raios, se você quer ver cotidiano, pra que diabos pegar uma nave espacial e viajar milhões de anos-luz pra longe do planeta natal?

Cara, esse novo filme vai ter que ser bom mesmo.

Anteriormente: Jornada nas Estrelas - Uma Introdução
Amanhã: Começam as resenhas de cada episódio, principando pelo primeiro a ser exibido, "O Sal da Terra".

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